Nesta quinta-feira, 18, o dólar registrou uma alta expressiva, enquanto a Bolsa de Valores apresentou queda. Essas movimentações no mercado ocorreram em meio a crescentes preocupações com a situação fiscal do Brasil, após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que lançaram dúvidas sobre o equilíbrio das contas públicas.
Além das falas de Lula, o mercado financeiro reagiu à decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e a novos dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos, que buscavam sinais sobre a trajetória das taxas de juros do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano.
Às 11h18, o dólar subia 1,03%, sendo cotado a R$ 5,540 na venda, enquanto a Bolsa de Valores recuava 0,67%, atingindo 128.583 pontos. As declarações do presidente Lula à TV Record, em entrevista na segunda-feira, 15, tiveram um forte impacto no mercado. Trechos da entrevista foram divulgados antes da transmissão oficial pela emissora, conforme reportado pelo jornal Folha de S.Paulo.
Na entrevista, Lula afirmou que não é obrigado a cumprir a meta fiscal se houver “coisas mais importantes para fazer”. No entanto, ele também mencionou que a meta de déficit zero para este ano não está descartada e se comprometeu a cumprir o arcabouço fiscal.
Expectativas do mercado
As declarações reacenderam temores no mercado sobre o compromisso do governo Lula com o equilíbrio fiscal, especialmente antes da divulgação do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do terceiro bimestre, programado para a próxima segunda-feira, 22. Nesse relatório, o Executivo precisará detalhar como pretende alcançar a meta de déficit zero neste ano.
Mais cedo, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, garantiu que há “um compromisso com o país” por determinação de Lula e da equipe econômica de “não gastar mais do que arrecada.”
Tebet assegurou que essa premissa estará presente no Orçamento de 2025. Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministra, no CanalGov, Tebet reconheceu as dificuldades de atingir a meta de déficit zero para o próximo ano.
“É uma ginástica e é uma ginástica um pouco difícil, porque é uma conta matemática que parece ser simples, mas não é”, disse Simone Tebet. “É uma equação onde receita menos despesa tem que dar igual a zero.”
A ministra afirmou que “o nosso Orçamento do ano que vem tem que trazer as despesas necessárias para atender a todas as demandas do Brasil,” mas que essas despesas não podem “passar daquilo que arrecadamos, porque o Brasil não pode seguir devendo, pois isso tem um impacto muito grande na vida das pessoas.”
Reações dos investidores
Apesar das garantias da ministra, os investidores mantiveram-se cautelosos. Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, disse que os discursos das autoridades governamentais “trazem uma aversão ao risco para o mercado local, porque o cenário fiscal ainda está indefinido.” Ela destacou que o mercado aguarda uma sinalização mais clara de comprometimento fiscal por parte do governo.
No cenário externo, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa de juros em 3,75%, conforme esperado, após um corte de 25 pontos-base na reunião anterior, que marcou o início de um ciclo de afrouxamento monetário.
As autoridades do BCE reafirmaram seu compromisso com a meta de inflação de 2% na Zona do Euro, indicando que as taxas de juros continuarão restritivas pelo tempo necessário.
Dados dos Estados Unidos e impacto no mercado
Nos Estados Unidos, novos dados de auxílio-desemprego superaram as expectativas, indicando uma possível moderação no mercado de trabalho. O Departamento de Trabalho relatou um aumento de 20 mil nos pedidos iniciais de auxílio-desemprego em relação à semana anterior, totalizando 243 mil, acima da previsão de 230 mil.
Esses dados, juntamente com números de inflação mais controlados no segundo semestre, reforçam a expectativa de um corte de juros pelo Federal Reserve em setembro. Na quarta-feira, 17, o dólar fechou em alta de 1,03%, cotado a R$ 5,484, enquanto a bolsa subiu 0,26%, alcançando 129.450 pontos.
Preocupações internacionais
Os investidores mantiveram-se cautelosos diante da situação internacional, especialmente em relação ao Japão e aos Estados Unidos, além das preocupações fiscais no Brasil. O real foi impactado pela valorização do iene japonês, devido a rumores de uma intervenção agressiva do Banco Central do Japão.
A valorização do iene afetou operações de carry trade globalmente, incluindo aquelas com a moeda brasileira. No carry trade, investidores pegam empréstimos a taxas de juros baixas no exterior e reinvestem em países com taxas mais altas, como o Brasil. Com a alta do iene, investidores desmantelam essas posições, pressionando a cotação do real.
“O real é bastante líquido, então é fácil fazer carry. Quando tem alta do iene, há uma reprecificação de carry trade no mundo, o que também afeta o real,” explicou Lais Costa, analista da Empiricus Research.
Preocupações com as eleições nos EUA
Preocupações adicionais surgiram em relação às eleições norte-americanas, especialmente sobre a política comercial dos EUA caso o ex-presidente Donald Trump retorne à Casa Branca. Na segunda-feira, Trump confirmou o senador J.D. Vance como seu vice na chapa, e Vance declarou considerar a China a “maior ameaça” aos EUA no momento.
Trump sempre foi crítico à China, frequentemente ameaçando impor tarifas à segunda maior economia do mundo. Uma reportagem da Bloomberg revelou que o governo de Joe Biden está considerando novas restrições à indústria chinesa de chips, sugerindo que a política comercial dos EUA poderá endurecer mesmo com a reeleição do democrata.
Em resposta, o índice Nasdaq caiu mais de 2% na quarta-feira, impactado pela queda das ações de tecnologia e chips.