sexta-feira, 22 de novembro de 2024

‘A aritmética não fecha’, diz Armínio Fraga sobre plano fiscal de Haddad

No Senado, economista disse que Brasil corre risco de 'desembocar em grande fiasco'.

O economista Armínio Fraga, presidente do Banco Central (BC) de 1999 a 2002, afirmou nesta última quinta (27) que a “aritmética” da nova âncora fiscal, apresentada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), não fecha.

A fala foi proferida no Senado Federal, em uma sessão de debates temáticos chamada “juros, inflação e crescimento”. A proposta apresentada pelo governo federal tem o objetivo de substituir o teto de gastos aprovado em 2016.

De acordo com o texto, as despesas da União não poderão crescer acima de 70% do aumento da receita, o que faria com que o avanço das despesas dependesse diretamente do aumento da arrecadação.

O plano de Haddad também fixa algumas metas de superávit primário. A ideia é de que haja déficit primário zero em 2024, superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 e de 1% em 2026.

“A aritmética não fecha, gente. Infelizmente, não é suficiente zerar o déficit primário, porque zerando o primário significa que vamos estar tomando dinheiro emprestado para pagar o juro direto, e o juro é esse que a gente conhece. Então, é fundamental caminhar na direção de um saldo primário maior. A aritmética simplesmente não fecha”, disse Fraga.

O economista voltou a dizer que os gastos públicos precisam ser revisados, mencionando o alto comprometimento da verba pública com folha de pagamento de servidores e custos com a Previdência Social.

“Vejo como imensa a necessidade de se revisitar as prioridades do gasto público no Brasil. Acho que o ajuste necessário, portanto, é muito maior do que com um primário de 3% do PIB ou eventualmente até mais. Então, primeiro, o ajuste necessário é maior que o ajuste fiscal”, acrescentou.

Armínio Fraga também lembrou de sua atuação na campanha presidencial de 2022, quando manifestou apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No entanto, depois da posse, o economista já disse estar “com medo” das medidas econômicas da gestão petista.

“Se o ano passado foi o ano da democracia, acredito que este é o ano da economia. Do jeito que as coisas andam, estamos arriscados a desembocar num grande fiasco e já, daqui a pouco, abriremos outra vez a discussão sobre a nossa democracia”, lamentou.

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