Desde tempos imemorias, governar significa a arte de concomitantemente bem executar o orçamento público e de colocar as pessoas certas nos cargos certos. Mas se tal tarefa não é fácil para um governo atuando em consonância com o establishment, imaginem para um governo que se propõe a mudar as bases da sociedade. Muitas vezes, há casos de aliados fiéis e competentes que, dada a natureza função para o qual foram escalados ou até mesmo a conjuntura política momentânea, não se saem bem nas funções para os quais foram designados.
Esse é, sem dúvida, um dos grandes dilemas de todo chefe de Governo: chefiar o governo da República tirando o melhor de seus colaboradores em favor do interesse público, fazendo as alterações necessárias sem descuidar das veleidades humanas, uma vez que cada aliado representa uma força política que dá sustentação social ao governo. E não há governo que sobreviva sem sustentação social, a qual confere legitimidade ao governo legalmente constituído.
Dada as bases conceituais desse intricado xadrez político, desse já se entende claramente o porquê da importância das alterações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro em seu primeiro escalão.
De fato, quatro foram as forças sociais que alçaram o Capitão à Presidência da República para instalar no Brasil um governo liberal na economia e conservador nos costumes, a saber: movimento conservador, segmento evangélico, defensores do liberalismo econômico e militares. Analisando-se as raízes históricas de cada uma dessas forças, vemos claramente que existem nítidos valores de agregação das três primeiras, tendo como principal vetor o segmento evangélico, que é simultaneamente liberal na economia (ética protestante) e conservador nos costumes (padrões comportamentais baseados na Bíblia).
Além disso, o tamanho do segmento evangélico (um terço da população brasileira), facilita sua intersecção com as outras três forças (muitas vezes uma pessoa é evangélica, militar, defensora do liberalismo econômico e faz parte do movimento conservador). Ademais, a Assembleia de Deus no Brasil, que representa metade dos 70 milhões de evangélicos brasileiros, é uma organização altamente hierarquizada nos moldes militares, fruto da alta penetração que a mesma teve junto aos praças e suboficiais do Exército na primeira metade do século passado.
Essa é, em apertada síntese, a disposição das peças no tabuleiro.
Contudo, para a melhor governança, havia a necessidade de se fazer uma “ponte” política entre os três primeiros grupos e os militares, esses últimos historicamente positivistas (liberais nos costumes e estatizantes na economia). É aí que vemos que não foi à toa que Bolsonaro chegou à Suprema Magistratura da Nação.
Com a percepção de um enxadrista experiente, em uma primeira mexida no ministério, realizada em junho do ano passado, o presidente coloca para fazer a articulação política do Governo um general de quatro estrelas da ativa, que é evangélico: o ministro Luiz Eduardo Ramos. A ponte começava a ser construída, momento no qual o presidente me encarregou de, na qualidade de vice-líder líder do Governo e pastor evangélico, aproximar Ramos da mais fiel bancada governista: a Frente Parlamentar Evangélica.
O primeiro movimento de estabilização do Governo estava lançado, e não tardou a colher frutos. Não apenas as forças de sustentação social do governo pararam de se digladiar (casa dividida não para em pé), como a aliança entre militares e evangélicos deu a sustentação necessária para que o governo ultrapassasse o primeiro ano, sempre o mais crítico de qualquer gestão.
Cumprida a primeira parte da partida, vieram as novas jogadas do nosso mestre enxadrista. Percebendo que existiam falhas no Centro de Governo, onde se dá a formulação da estratégia e a coordenação do Governo, o presidente alça o general Braga Neto, chefe do Estado-Maior do Exército, à Casa Civil. Para os críticos de plantão, se pergunta: pode haver alguém mais qualificado que um general no topo da carreira para montar uma estratégia e coordenar um grupo?
Mas não foram apenas nas alterações que o presidente acertou. Ao manter os titulares das pastas do meio ambiente, educação e relações exteriores com representantes da ala conservadora, Bolsonaro dá o recado que sabe que tem que manter o bom combate nas áreas da máquina pública altamente contaminadas pelo esquerdismo militante. E, para isso, nada melhor do que autênticos conservadores como os ministros Ricardo Salles, Abraham Weintraub e Ernesto Araújo.
Já quanto ao grupo defensor do liberalismo econômico, esse vai de vento em popa liderado pelo ministro Paulo Guedes. As reformas estruturantes estão acontecendo e o Brasil vai se modernizar, para atrair investimento e gerar emprego e renda. Pois não há dúvidas que são os bons resultados na economia que garantirão a reeleição de Bolsonaro.
Isso posto, há quem possa se perguntar: mas e os evangélicos, onde estão no primeiro escalão do Governo Bolsonaro? Como fiéis peões disciplinados, estamos fazendo o enfrentamento contra os adversários no parlamento e nas ruas, dando sustentação social ao governo que ajudamos a eleger e do qual nos orgulhamos. Para muito além de posições e vaidades, o que nos interessa é apenas ver programa libera-conservador eleito pelo povo brasileiro ser posto em prática. O que nos interessa é ver nosso Capitão dar xeque-mate!