Não é novidade que os produtores rurais brasileiros não alimentavam expectativa alguma com a chegada dos petistas ao Palácio do Planalto. Ao contrário, o retorno da insegurança jurídica no campo já era dado como certo com a volta de Lula e seus asseclas ao poder, notoriamente simpáticos às bandeiras de movimentos como MST e Via Campesina.
Lula tem dirigido discursos agressivos ao setor primário e isso, é claro, influencia negativamente o ambiente do agronegócio brasileiro.
Quem não lembra da famigerada entrevista de Lula à TV Globo, em plena campanha eleitoral, quando o então candidato asseverou ser o agronegócio brasileiro fascista e direitista — atacando um segmento que produz alimento para o mundo, gera riquezas, portentosas divisas e quase 1/3 do PIB brasileiro. Incomodou, por exemplo, ver Lula prometendo dinheiro do BNDES para países amigos como Argentina, Venezuela e Cuba, enquanto aqui, no Brasil ,produtores agrícolas seguem sem linhas de crédito rural capazes de viabilizar o setor primário brasileiro.
Bem assim, incomoda saber que dinheiro público pode ir para obras de infraestrutura no exterior, via BNDES, enquanto faltam estradas para o escoamento das safras brasileiras. Nossos portos são caros e ineficientes; inexistem hidrovias, apesar de termos um dos maiores complexos fluviais do mundo. Ao invés de canalizar dinheiro público para países amigos, o governo federal precisa abrir linhas de crédito com juros mínimos (ou porque não taxa zero) para haver a ampliação da produção agrícola nacional, aos moldes do que ocorreu nos Estados Unidos e em países da Europa.
Vale lembrar que a competitividade das exportações agrícolas brasileiras aumentaria substancialmente se houvesse linhas de crédito específicas para o setor, sem falar da nossa legislação totalmente anacrônica, que trata os produtores como inimigos da terra. Apesar de tudo, o Brasil consegue estar entre os maiores fornecedores de comida do planeta, cuja demanda fica cada vez maior.
Se levarmos em conta que a população mundial pode alcançar 10 bilhões de pessoas em 2050, os produtores de alimentos devem gerar nos próximos 25 anos a mesma quantia de alimentos produzida nos últimos 500 anos no mundo. Ou seja, a oportunidade está aí, mas para ser protagonista o governo precisa ajudar com ações concretas, notadamente com linhas de crédito específicas para o setor, incluindo até mesmo garantias para safras perdidas em virtude de estiagens ou excesso de chuvas.
Nas últimas décadas, o agro brasileiro deu um grande salto, passando de importador a um dos mais fortes exportadores de commodities agrícolas. Apesar da falta de atenção governamental, o campo conseguiu se modernizar nos últimos anos, a agricultura de precisão já é uma realidade; sementes foram desenvolvidas e a nossa produção cresceu exponencialmente.
Apesar da expectativa absolutamente negativa, com a desgraçada volta da insegurança jurídica no campo, seguiremos atuando com a maior firmeza e seriedade possíveis para que os produtores rurais brasileiros, responsáveis por 1/3 do PIB brasileiro, sejam de fato tratados com o respeito que merecem. Tempos difíceis precisam de posicionamentos ainda mais fortes.