Cuidado Frágil.
Não me espantarei num futuro próximo se alguma lei for elaborada obrigando que vestibulandos usem um crachá com estes dizeres. Ninguém poderá esbarrar neles em sua jornada à batalha de suas vidas, sob pena de prisão. Todos deverão enaltecer a coragem com que enfrentarão o leviatã que quer derrotá-los, caso contrário pagarão uma multa.
Chega a ser irritante o excesso de zelo que os vitimistas de plantão aplicam aos soldad… ops, digo, vestibulandos…
Nesta época do ano ouvimos os maiores absurdos, principalmente em programas de TV. O objetivo é “tranquilizar” essa geração que usa merthiolate que não arde, que não pode ser contrariada, que não tomou palmada, etc. O que estão fazendo com essas gerações é um crime. Já passou da hora de dar um basta.
O estrago que o politicamente correto pôde fazer em tão pouco tempo é incomensurável. Voltemos um pouco no tempo tomando o meu próprio exemplo.
Em 1984 eu terminava meus estudos do Ensino Médio tendo estudado até então apenas em escolas públicas (Fundamental e Médio) as quais todos nós conhecemos o nível da qualidade.
Na época eu trabalhava como mecânico de bicicletas e ganhava um salário mínimo. Como é fácil prever, eu não tinha dinheiro para pagar a mensalidade de um cursinho. Também não podia contar com a ajuda financeira de meus pais. Dos dois, quem havia avançado mais no estudos era meu pai, que havia terminado o ensino Médio, com muito esforço. Tenho orgulho de ser filho de ambos e as dificuldades me fortaleceram, não o contrário.
Ao invés de entregar-me ao vitimismo, tão difundido pelos esquerdistas, cerca de um ano antes do vestibular, sem qualquer estrutura didática sólida, de forma puramente amadora, eu comecei a estudar em casa através de coleções de livros doados e outros que pegava na biblioteca da escola (na época eu não havia acesso à internet como hoje). Confesso que apenas quando os portões se abriram que senti um breve (alguns segundos) frio na barriga. Nada mais do que isso.
Não precisei de terapia, garrafinha de água (quem disse que eu tinha dinheiro para uma?), frutinha, não ser contrariado, etc. Tomei cuidado de chegar uma hora antes da abertura do portão. E só.
No dia seguinte ao vestibular (antes de saber o resultado) já estava novamente estudando, preparando-me para um eventual resultado negativo.
Para encurtar a história: dos dois vestibulares que me inscrevi, passei num deles e fiquei na lista de espera de outro. Não fiquei traumatizado por isso, nem me vitimizei.
E minha história não é nada comparada à de meu pai (não vou me estender aqui para não perder o foco deste artigo) e de muitas outras histórias de superação que todos nós conhecemos (off topic: não deixem de ouvir o episódio “Uma Guerreira“, do Café Brasil e prepare-se para se sentir minúsculo diante dela). As dificuldades nos fortalecem, nos preparam para a vida que não será, na maioria das vezes, nada amável conosco. Porém, eu só tenho a agradecer a Deus por tudo.
Após dois meses de faculdade, eis que as mensalidades sofrem um reajuste que me impossibilitariam continuar meu curso de Licenciatura em Matemática…
Desesperado em ver meu sonho escapar entre meus dedos (que eu escondia, com vergonha, durante as aulas devido à graxa que teimava em não sair), tive uma ideia: propus ao meu patrão, o sr. Jarbas (o proprietário do comércio de peças e acessórios para bicicletas, que vendia no atacado e varejo), que ao invés de fazer minhas duas horas de almoço, de entrar às 8h00 e sair às 18h00 eu entrasse às 7h00, saísse às 18h30 (a faculdade ficava a 15 minutos a pé do meu trabalho) e fizesse apenas 30 minutos de almoço diário.
Confesso que fiz a proposta com mais temor que tive ao fazer o vestibular sem o devido preparo. Ele, de forma séria como sempre fez, pediu-me alguns dias para pensar em minha proposta. Foram os dias mais longos de minha vida.
Após dois dias, ele chamou-me no mezanino dizendo que queria conversar comigo. E eu fui, já esperando que fosse para assinar minha dispensa…
E qual foi minha surpresa ao ouvir dele a seguinte proposta: “Vou promover você a gerente da loja. Você continuará a fazer exatamente o horário que fazia, sem necessidade de ampliação. Também continuará a ganhar o salário mínimo, mas eu vou pagar sua faculdade até o fim.”
Ele sabia que ao final dela eu não continuaria a trabalhar na loja. Sabia que ele não estava investindo num funcionário, mas no ser humano que ele havia conhecido quando tinha apenas 14 anos quando chegou em sua loja não sabendo sequer que quando o pneu de uma bicicleta fura não é necessário comprar uma nova (acreditem, eu pensava assim!). E mesmo assim ele investiu em meu futuro. E tenho outros exemplos que observei-o aplicando com os filhos que trago comigo até hoje. Mas isso é outra história…
Não é necessário dizer que a gratidão que tenho por ele é equivalente a que tenho por meu pai. E todo segundo domingo de Agosto não deixo de agradecer a Deus também por ele.
Com sua proposta, que cumpriu até o final (exceto pelo fato que me pagou mais do que o salário mínimo pouco tempo depois), ele fez questão de mostrar, de forma implícita, que não estava fazendo uma caridade (apesar de estar!), mas que eu estava conquistando aquele benefício com o esforço que eu iria fazer, que eu havia conquistado com o meu trabalho e credibilidade. Essa era a mensagem subliminar.
Será que a maioria dos membros dessa geração slimy suportaria passar por essa pressão?
Para essa geração, tudo é bullying e talvez até mesmo essa proposta que me foi feita pelo senhor Jarbas fosse classificada como tal. Tenho a sensação que não se pode mais chamar ninguém de “bobo e feio”, pois isso poderia destruir a autoestima e “traumatizar” para o resto da vida esses seres de cristal.
Tenho diversos exemplos de minha infância, juventude e início da vida adulta sobre o tema, como na época em que dei aulas de Matemática na escola estadual que estudei e, depois de formado em meu primeiro curso superior, fui trabalhar.
Com frequência, quando alunos dispersavam em conversas durante minhas explicações, eu jogava um “toquinho” de giz sobre eles, que olhavam assustados e ouviam-me dizer: “da próxima vez acerto dentro da boca de quem estiver com ela aberta conversando enquanto eu explico. Portanto, mantenham-na fechada para não correr esse risco. Minha pontaria está melhorando com o treino…” Nunca houve reação diferente de pedidos de desculpas por parte deles depois de algumas risadas de todos. Hoje isso é impensável.
Mas naquela época, o vitimismo, em grau menor, já começava a florescer…
No primeiro dia de aula para uma turma do terceiro ano do Ensino Médio, um aluno, ao final da minha aula de apresentação, aproximou-se de mim e disse-me (perdoem-me a linguagem, mas é ma transcrição ipsis literis):
“Estou c… e andando para sua matéria. Nunca aprendi Matemática desde o Ensino Fundamental e o Conselho de Classe sempre me promoveu todos esses anos. Portanto, nem vou perder meu tempo estudando essa p…, pois já estou no último ano e ninguém vai me reprovar!”.
Após ouvir calmamente toda a verborragia motivada pela revolta dele, disse-lhe: “Ok, a escolha é sua. Porém, se você quiser recuperar parte deste tempo perdido, eu estou aqui para ajudar. Não apenas durante o período das aulas, mas, como eu disse na apresentação de hoje, também a partir das 18h00, quando faço atendimento gratuito para vocês, com horário marcado e reservado(*). Pense na minha proposta, pois na escola da vida não há recuperação nem Conselho para promovê-lo. Continuo à sua disposição.”
Ele não se tornou meu melhor aluno de Matemática, mas certamente foi um dos mais esforçados (ia com frequência aos plantões de dúvidas individuais) e motivo de grande alegria e orgulho quando o encontrei muitos anos depois e disse-me que havia passado num concurso público. Ele relatou que muitas questões de Matemática, que ele não lembrava como resolver, conseguiu através do meu “método” de “Matemática Natural” (**).
Será que o resultado seria o mesmo se eu tivesse alimentado o vitimismo como pseudoprofessores fazem hoje em dia com essa geração?
Transformar nossos jovens em pessoas floquinhos de neve é perigoso, pois uma sociedade de homens efeminados, seria facilmente dominada por outra de guerreiros terroristas. E estamos testemunhando o que vem acontecendo na Europa.
Mas, infelizmente, o estrago não cessa no vestibular…
Essa turma pré-moldada é uma matéria-prima de qualidade (egocentrismo exacerbado) para que os gramscistas (professores e alunos doutrinados) possam finalizar a escultura humana que ficaria muito bem no castelo de Vlad Drácula ou quem sabe até como figurantes de The Walking Dead… Vide o que acontece, principalmente em nossas universidades da área de Humanas, onde a subjetividade é mais saliente.
Enfim, o que nós precisamos é de mais espartanos, mais “cimérios” e menos “ursinhos carinhosos”, caso contrário, o que teremos no mundo não é um jardim de flores e borboletas, mas um planeta devastado pela violência dos mais fortes.
Desejo sucesso aos nossos vestibulandos na segunda fase da Fuvest, se não tiverem derretido até lá…
(*) A aula começava às 19h15 e podiam reservar, comigo, 15 minutos de atendimento personalizado individual, marcados previamente. A maioria deles vinha direto do trabalho e não passava em casa para jantar. Como percebi esse comportamento deste público, passei a desenvolver esse trabalho voluntário (gratuito) por muitos anos.
(**) Ao invés de decorar conceitos e fórmulas, estes eram descobertos e deduzidos. De nada valia decorar o conteúdo, pois todas as minhas avaliações eram com consulta! As questões envolviam o entendimento e aplicação dos conceitos e fórmulas e com o tempo eles mesmos dispensavam a consulta ao material.