“A vida está batendo na porta da minha casa e eu vou abrir, e eu vou celebrar”. Essas foram apenas algumas palavras do Paulo, pai da Ana, em um momento extremamente difícil na vida da filha. O que ele não esperava é que a sua voz continuaria a ajudar coraçõezinhos a bater mesmo após sua partida.
Ana Paula Henkel é comentarista política, escritora e ex-atleta olímpica do Brasil. Ela foi uma das convidadas do Especial de Natal da Brasil Paralelo em 2020.
Ninguém sabia da história dela ou das palavras de seu pai. Nem mesmo a própria Ana Paula planejou contar um dos momentos mais marcantes da sua vida. Mas as palavras acabaram se desenrolando espontaneamente.
Henkel já havia passado por duas Olimpíadas, e já treinava para a terceira. No ano 2000, ela conseguiu assinar o melhor contrato de patrocínio que uma atleta poderia sonhar.
Era o contrato esperado desde que havia decidido ser atleta olímpica, a realização de sua vocação.
No caminho de ir para a terceira competição, Henkel fica grávida. Pelas cláusulas contratuais, a gravidez era incompatível com o momento e significava a rescisão do contrato dos sonhos.
Ana conta que foi para a casa dos pais em busca de ajuda. A mãe estava muito abalada, chorava bastante e perguntava:
“O que você vai fazer, você vai perder seu contrato? E a Olimpíada? E agora?”
Paulo não era somente o pai da Ana Paula Henkel, era seu grande amigo, alguém que ela nunca queria decepcionar. Ele estava em silêncio e ela aguardava suas palavras. Quando a mãe parou de chorar, ele disse:
“Você sabe quantas pessoas no mundo hoje estão chorando como você porque alguém morre, porque alguém que eles amam lhes deixa? E você vai chorar dessa maneira porque a vida está batendo na porta da minha casa? Não me interessa a condição, a vida está batendo na porta da minha casa e eu vou abrir, e eu vou celebrar”.
Para Ana, aquilo foi um choque. Segundo ela, o atrito no caminho da terceira olimpíada mostrou sua verdadeira vocação e lhe deu sua maior medalha.
“Hoje, a minha melhor medalha, a minha maior conquista, o meu melhor amigo, é o meu filho”, declarou.
Mas a voz de seu pai não parou naquele dia, naquela cozinha em que conversavam. Ela continuou e continua ecoando. Os frutos possuem nomes.
As mães que desistiram do aborto
Após se mudar para os Estados Unidos, Henkel fez parte de uma ONG que ajudava mulheres que pensavam em abortar, mas que se sentiam perdidas. Existe na Califórnia uma lei que permite o aborto até a trigésima terceira semana. Isso significa que um bebê com os ossos já formados e faltando menos de 2 meses para nascer pode ser eliminado.
Por 4 anos, Henkel e diversos voluntários ajudavam essas mulheres no que precisavam. Muitas delas ouviram a história de Ana Paula Henkel e as palavras de seu pai.
Ao longo de todo esse tempo, Henkel relata que passou a receber fotos de crianças que nasceram porque as mães decidiram seguir com a gravidez. Em algumas fotos, na parte de trás vinha escrito: “A voz do seu pai mudou o meu caminho”.
Para Ana, mesmo após a morte, seu pai continua salvando vozes que não tinham como falar. E mais uma vez o legado dele deu frutos.
No Especial de Natal de 2021, que estreou nesta última segunda-feira (13), Ana Paula Henkel voltou para revelar um pouco do que aconteceu em menos de um ano.
“E o resultado do legado do meu pai e do legado através da Brasil Paralelo, ele está na Isabela, na Maria Antônia, na Vivian, no Paulo Augusto, no Pedro Augusto, no Mateus, no Samuel, no João Paulo, na Mariana, na Sara, no Matheus, no João Pedro, no Daniel, na Elisabeth, no Joseph, na Bárbara e no Paulo, que se chama Paulo por causa do meu pai. São 17 mães que decidiram cancelar o aborto porque a Brasil Paralelo levou uma história de esperança”.
Assista ao Episódio na íntegra clicando aqui. São três dias de evento — 13, 14 e 15 de dezembro — para celebrar o Natal que vale a pena ser vivido.