Os ministros Kassio Nunes Marques e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foram apresentados um ao outro no dia 30 de setembro de 2020, quando o presidente Jair Bolsonaro se deslocou à casa de Gilmar para ‘pedir a benção’ sobre o escolhido para substituir o então decano Celso de Mello.
O também ministro Dias Toffoli esteve presente no encontro, que foi regado a comes e bebes. Toffoli e Gilmar foram os primeiros a tomar conhecimento da novidade e a conversar com o novo colega de STF.
No entanto, passados seis meses após o primeiro encontro de Gilmar Mendes e Kassio Nunes, a relação entre os dois azedou de vez.
No sábado (3), o novato atendeu a um pedido de liminar e autorizou que cultos e missas presenciais sejam realizados no Brasil – desde que os protocolos sanitários sejam seguidos.
Na segunda-feira (5), contudo, Gilmar proferiu uma decisão no sentido contrário: proibiu as cerimônias religiosas no estado de São Paulo.
Entre uma decisão e outra, os ministros não se falaram, o que atesta que o clima ficou pesado entre os dois.
Vale lembrar que o episódio em torno das atividades religiosas não foi a primeira rusga entre os magistrados.
O desande na relação foi escancarado no fim de março, quando a Segunda Turma declarou o ex-juiz federal Sergio Moro parcial na condução dos processos contra o ex-presidente Lula (PT).
Durante a sessão de julgamento, Gilmar afirmou: “Atrás da técnica de não conhecimento de habeas corpus, se esconde um covarde”. Nunes Marques tinha acabado de discordar do colega, que tinha votado para considerar Moro parcial.
No mesmo julgamento, Gilmar disparou que o voto do colega não representava garantismo “nem aqui, nem no Piauí”, em alusão ao estado natal do ministro indicado por Jair Bolsonaro.
Após ser atacado, Kassio Nunes disse que o Piauí não poderia ser menosprezado daquela forma. Posteriormente, pediu desculpas caso tivesse ofendido alguém com seu voto.
Diante desses embates, conclui-se que o novo ministro da Corte sai fortalecido perante o governo. Por outro lado, conquista a antipatia de Gilmar Mendes e outros ministros que consideraram a liminar das igrejas uma afronta ao plenário do Supremo.