Quando o jornal “O Povo” foi lançado no Rio de Janeiro, o repúdio foi imediato! O motivo era que o jornal despertou a atenção da população para suas publicações de capa, com crianças jogando bola na favela, onde a bola era a cabeça de um cadáver, por exemplo. Era um jornal que se propunha a publicar fotos e textos com uma linguagem bem direta e ‘sangrenta’, buscando retratar o que acontecia na favela. Mesmo sob repúdio, a impressão diária do jornal e o passar do tempo fez com que as pessoas fossem se acostumando com às publicações daquele jornal, ao ponto de não mais se incomodarem e não gerar mais crítica ao jornalismo sensacionalista.
O resultado foi que, diariamente, as bancas passaram a ficar lotadas de pessoas que buscavam tirar uma ‘casquinha’ das manchetes do referido jornal, pois perderam a total capacidade de se chocar com elas, mesmo aquelas mais brutais.
O QUE ACONTECEU, NA VERDADE?
Por que as pessoas deixaram de se escandalizar e exigir que o jornal não mais publicasse fotos como aquelas?
A resposta é simples!
A população, aos poucos, se acostumou com a inserção diária das fotos e notícias sangrentas, se acomodando e não mais reagindo. Esse é um processo involuntário e tem início com uma palavrinha letal: banalização.
Ela surge pela frequência com que algo é propagado ou difundido no meio da sociedade, fazendo com que o assunto ou tema saia da condição ‘exceção’, tomando grande visibilidade, para se transformar em uma espécie de ‘regra’, gerando o ‘trivial’, e passando a fazer ‘parte’ do cotidiano.
A banalização sobre muitas coisas está presente em nossa realidade diária, e muitas vezes produzindo o anestesiamento sobre o agir e reagir das pessoas diante de situações que antes lhes incomodavam ou geravam repugnância.
É a banalização que nos leva ao estado de nos acomodarmos, por meio de sua ação quase ‘invisível’, imperceptível.
PROTEJA-SE!
Pela frequência que temos presenciado determinados acontecimentos, sendo eles negativos ou não, mesmo alheio a vontade, podemos estar sendo expostos aos efeitos da banalização, que pode estar sendo provocada intencional e voluntariamente.
Pra tomar como exemplo atual: ‘prisões’ e ‘solturas’ de pessoas ligadas a alta corrupção no Brasil.
No início, as ‘prisões’ eram aguardadas com plena expectativa, e iam acontecendo com grande frequência, onde a prisão de determinadas personalidades nos causava espanto imediato, pois não estávamos acostumados; por outro lado, passamos a assistir a um novo cenário que foi o da ‘soltura’ das mesmas personalidades, aos poucos, por ministros do STF.
De um lado, a Polícia Federal realizando prisões; do outro, ministros do STF providenciando solturas. Essa frequência poderá facilmente despertar o efeito de uma ‘banalização casada’, que vêm pelo que os nossos olhos vêem e os ouvidos escutam, criando uma nova versão do que chamávamos ‘tudo termina em em pizza’! E se permitirmos que os efeitos da banalização nos atinja a reversão é quase impossível.
Que os nossos sentimentos não sejam abatidos pela banalização dos cenários de “prisões” e “solturas”; e não seja permitindo que ela alcance seu fluxo (talvez seja isso que alguns desejem).
Que as EXPECTATIVAS sobre as prisões dos corruptos continuem fazendo parte de nós como sentimento patriótico; bem como, o sentimento de INDIGNAÇÃO, relacionado as ‘solturas’ que tem ocorrido no mesmo cenário .
Sendo assim, não seremos vítimas mortais da banalização, que busca acomodar, paralisar e fazer desistir.