O presidente russo, Vladimir Putin, está em Israel e participou, ao lado de outros 40 líderes mundiais, da comemoração da libertação do campo de concentração de Auschwitz, há 75 anos, onde 1,41 milhão de judeus foram mortos.
A vinda de Putin surpreendeu muitos em Israel, onde o presidente russo tem a reputação de ser um defensor de ditaduras e do movimento pro-palestino.
Regularmente, a Rússia critica a política de Israel contra os árabes palestinos e a estratégia do Estado judeu na Síria, onde o exército israelense já realizou mais de mil ataques à brigada Quds da Guarda Revolucionária Islâmica e seus aliados, as milícias xiitas no país.
Não há dúvida de que a atitude de Putin em relação a Israel poderia ao menos ser chamada de ambivalente. Um bom exemplo dessa atitude foi a detenção de grupos de israelenses que viajaram para a Rússia em dezembro e novembro de 2019. Os russos não deram motivos para deter e, em alguns casos, mandaram esses israelenses de volta. A única coisa que a embaixada russa fez em Israel, depois de divulgar essas práticas, foi apontar para a recusa das autoridades israelenses em permitir que todos os russos que voassem para Israel entrassem no país.
Putin também não impede as ações contra o eixo iraniano na Síria. Os próprios russos têm acesso a escudos modernos de mísseis que detectam aviões de combate e podem abater, como o sistema S-300. A Rússia também forneceu esse sistema ao exército do líder sírio, Bashar al-Assad.
Na’ama Issachar
Uma nova mini-crise eclodiu entre Israel e a Rússia no ano passado, quando as autoridades russas prenderam a turista israelense, Na’ama Issachar, durante uma escala no aeroporto de Moscou. Issacar parecia ter 9,5 gramas de maconha em sua bagagem. Ela estava a caminho da Índia, mas foi detida e condenada a 7,5 anos de prisão na Rússia.
Sob a liderança da mãe da jovem de 26 anos, uma campanha começou a pressionar o governo israelense a implorar a Putin, que tem autoridade para perdoar prisioneiros, pela libertação de Na’ama.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, assumiu a campanha e usou seu excelente relacionamento com Putin para promover a libertação, até agora sem resultado.
No entanto, na semana retrasada, o primeiro-ministro começou a fazer comentários otimistas sobre as chances de libertação de Na’ama e isso alimentou especulações de que o líder russo poderia libertar a jovem. A mensagem veio depois de uma nova conversa telefônica entre Putin e Netanyahu, que o primeiro-ministro de Israel considerou como positiva, afirmando que haviam sido feitos progressos.
Na quinta-feira (23), Putin prometeu à mãe de Na’ama, Yaffa Issachar, que “tudo ficaria bem”. Yaffa participou de reunião com Netanyahu e Putin, na residência do primeiro-ministro em Jerusalém. O líder russo disse que “ficou claro que Na’ama é de uma boa família”.
“Levaremos tudo em consideração quando tomarmos a decisão. Tudo ficará bem”, prometeu Putin a Yaffa após a reunião.
A situação de Issacar tocou muitos os israelenses, porque todo israelense a vê como “filha”. Ela é uma ex-soldado de combate que, aparentemente, se envolveu em um crime estúpido. O tratamento severo da Rússia e durante o julgamento, seguido pela sentença dura “cheirava” um certo abuso deliberado russo. Somente mais tarde foi revelado que a decisão de Moscou estava aparentemente relacionada ao julgamento de Israel de um hacker russo, que desde então foi extraditado para os Estados Unidos.
Putin e os judeus
Surge agora a pergunta sobre o que move Putin a ir a Israel para a comemoração de Auschwitz e, aparentemente, a considerar a libertação de Issacar. A resposta para essa pergunta talvez possa ser encontrada na infância de Putin, em São Petersburgo.
O passado de Putin com a comunidade judaica já era conhecido nos círculos da mídia. Uma publicação recente da Arutz Sheva citou a matéria do ‘Dwash Shabbat’ – um tipo de jornal escrito por judeus de Tibéria – que lança alguma luz sobre o relacionamento de Putin com os judeus. O artigo diz que as informações do Dwash Shabbat foram contadas pelo rabino-chefe da Rússia, Rav Berel Lazar. A reportagem foi divulgada na imprensa hebraica em Israel por um professor de russo que agora vive em Netanya em Israel e que ainda mantém contato com o líder russo. Isso explicaria porque Putin teria um “ponto fraco” por Israel.
Segundo os relatos da Arutz Sheva, Putin cresceu em uma família muito pobre. Tão pobre que muitas vezes não havia comida em casa quando o jovem Putin voltava da escola. Embora houvesse várias famílias russas morando no prédio onde a família Putin morava, havia apenas uma família que realmente cuidava do jovem Putin e ela era uma família judia.
Toda vez que a família percebia que Putin estava em casa sozinho, sem comida ou outras necessidades da vida, eles cuidavam do menino, compravam roupas e preparavam uma refeição para ele.
Israel sabe dessa história, e por isso, no Shabbat e durante as comemorações judaicas nesta visita do líder russo, Putin foi convidado por uma família judaica a comer à mesa de jantar desta família judaica-religiosa. Putin havia aprendido em sua infância canções e rituais judaicos, segundo relatos do rabino Lazar, que mora em Moscou.
Os detalhes da juventude de Putin, que agora foram revelados pelo rabino Lazar através do jornal Dewash Shabbat, parecem explicar porque o presidente russo participou do memorial de Auschwitz em Israel e também da possibilidade dele libertar Na’ama Issachar.