O bairro de Salamanca é uma zona exclusiva da capital espanhola Madri, próximo ao parque ‘El Retiro’. A região se tornou alvo de milionários venezuelanos por cerca de dez anos. No local, eles adquiriram propriedades em meio a boutiques de grife, joalherias de luxo e restaurantes exclusivos que abundam na área.
O bairro faz parte da chamada “Milla de Oro” de Madri, o quadrilátero dourado das compras e a zona mais cara e exclusiva da capital espanhola. Um metro quadrado não vale menos que 7.000 euros (cerca de 44.515 reais). Uma casa na área não se encontra por menos de um milhão de euros (6,3 milhões de reais).
Com esses valores, os principais compradores de imóveis da região são os latino-americanos. Os venezuelanos chegaram primeiro e, em seguida, vieram mexicanos e colombianos, entre outros. Atualmente, a maioria dos compradores vêm da América Latina, que são responsáveis por quase 60% das novas aquisições na área, segundo a BBC Mundo.
Os dados são de Ignacio Calzada, da imobiliária Promora Madrid, especializada em residências de luxo. Ele diz que os latino-americanos compram casas cujo preço varia de 800.000 euros (5 milhões de reais) a quase 15 milhões euros (95,2 milhões de reais).
Os primeiros investidores latino-americanos na “Milla de Oro” foram os venezuelanos. Eles desembarcaram na capital em busca de um local seguro para seus investimentos. E Madri foi um destino com vantagens, já que das capitais europeias é a que tem o menor preço por m².
“É uma cidade muito competitiva, não só pelo preço do metro quadrado, mas também porque tem custos de manutenção mais baixos”, disse Mercedes Pulido, gerente de vendas da Lucas Fox Madrid, outra imobiliária especializada em residências exclusivas.
Camuflagem de fortunas da corrupção chavista
Essa chegada de “grandes capitais venezuelanos” a Madri também serviu de camuflagem para muitas fortunas em decorrência da corrupção chavista.
A Espanha foi durante anos o destino favorito de vários ex-funcionários do governo socialista venezuelano transformados em “investidores ricos”. Entre eles, Rafael Ramírez, Nervis Villalobos e Javier Alvarado, que também teriam comprado propriedades em Madri.
Uma das vantagens que a Espanha oferece é o idioma, o que facilita na hora de fazer a papelada.
O dinheiro venezuelano veio de grandes grupos que compram edifícios, os reabilitam e vendem ou alugam apartamentos.
“Houve uma espécie de efeito cascata, vieram os primeiros investidores venezuelanos, viram como andava, o que era interessante em Madri, que os preços eram bastante bons em comparação com Miami, que era a preferência deles”, declarou Pulido.
“Mas há também o perfil de quem vem a Madri em determinados momentos e a casa fica guardada, vazia, sem alugar, e depois há os que aqui se instalaram e a têm como cidade de residência”, continuou.
Certamente venezuelanos de todas as classes sociais vieram para a Espanha. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) da província de Madri, existem 59.074 venezuelanos; 10 anos atrás, havia apenas 8.469.
“O venezuelano parou por alguns anos”, disse Pulido. “Agora há mais mexicanos do que venezuelanos, porque também é verdade que os venezuelanos já estão bem estabelecidos. Agora a tendência é muito mexicana”.
“Golden Visa” para milionários
Um dos atrativos para o investidor latino-americano na Espanha é o chamado ‘Golden Visa’ (Visto Dourado), criado em 2013. É um visto que permite ao estrangeiro residir na Espanha caso invista em imóveis de valor igual ou superior a 500.000 euros (3,1 milhões de reais).
Essa foi a estratégia que a ex-enfermeira do ditador venezuelano Hugo Chávez utilizou para conseguir sua residência na Espanha. Claudia Díaz tem um apartamento em Madri avaliado em 1,8 milhões de euros (11,4 milhões de reais). O imóvel fica na rua Monte Esquinza, no também exclusivo bairro de Chamberí, não muito distante de Salamanca.
Segundo a Unidade de Crimes Econômicos e Fiscais (UDEF) da Polícia Nacional da Espanha, esse apartamento foi comprado por Díaz e seu marido, Adrián José Velásquez, com dinheiro de Raúl Gorrín Belisario, um empresário venezuelano foragido que atualmente atua como presidente da seguradora Globovisión e La Vitalicia.
Devido ao seu relacionamento próximo com o governo venezuelano, ele está atualmente sujeito às sanções dos EUA por causa de um esquema de corrupção que envolve pagamentos de suborno a ministros do governo da era Chávez. Em novembro de 2019, o Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) acrescentou Raúl Gorrín à Lista de Mais Procurados do ICE, acusado de lavagem de dinheiro.
Com informações, BBC Mundo.