A prática de homeschooling vem crescendo em todo mundo. Famílias estão voltando a retomar o protagonismo na educação das crianças. Essa modalidade de educação, desenvolvida ao longo de toda a história da Civilização Ocidental, sempre esteve relacionada à presença familiar e na sua responsabilidade social e espiritual de guiar o processo educacional dos filhos. Ao longo desse processo, todavia, as escolas surgiram como espaços de apoio às famílias no ato de educar.
No mundo antigo, tanto em Atenas quanto em Roma, a educação possuía um caráter extremamente familiar. Na democracia ateniense, Sólon inaugurou uma educação que deveria formar todas as crianças para serem futuros governantes e imprimir nelas o amor à pátria, às instituições e aos deuses. De uma cultura de guerreiros, a educação ateniense passou para uma cultura de escritas. Dessa forma, a ideia de paideia, que outrora era relacionada como o simples ato de criação de meninos, nas palavras de Jaeger aponta a
“todas as formas e criações espirituais e ao tesouro completo da sua tradição, tal como nós o designamos por Bildung ou pela palavra latina, cultura.” Daí que, para traduzir o termo Paideia “não se possa evitar o emprego de expressões modernas como civilização, tradição, literatura, ou educação; nenhuma delas coincidindo, porém, com o que os Gregos entendiam por Paideia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez.” (Jaeger, 1995: 1).
Na gloriosa Roma, por sua vez, a educação era atribuição exclusiva da família. Segundo Catão, o velho, a educação deveria partir do valor da tradição que compreende o espírito, os costumes, a disciplina dos pais. Mater e pater familias eram o centro educacional das crianças. Pensadores como Cícero e Plutarco mostraram, em seus escritos, como a educação familiar se mostrava superior à escolar e como deveriam educar a partir da humanitas, o correspondente latino de paideia. Havia também o magister que, por sua capacidade educativa, educava a criança nas artes liberais vindas da Grécia no ludus litterarius (a escola). Mesmo havendo a instituição escolar como auxiliadora na educação da criança, a família exerce sua primazia educacional. Como diz Quintiliano: “porque naturalmente conservamos o que aprendemos nos primeiros anos, como as vasilhas novas o primeiro perfume do licor que receberam”.
Na Idade Média, a atribuição do ato de educar dada às famílias recebe ainda um aprofundamento de significado. Aos pais estava a responsabilidade da educação cristã e dos rudimentos intelectuais, tais como: leitura, cálculo simples e memorização de provérbios bíblicos. São João Crisóstomo, o doutor de Alexandria, em suas homilias, fez menção à educação de crianças, em que ele insiste sobre o dever dos pais quanto à educação cristã dos filhos, e conclama os pais a cuidarem da preservação da castidade das crianças. Surgem, portanto, neste contexto, escolas que auxiliam as famílias com a educação formal. As escolas monásticas ajudaram a educar famílias inteiras e grande parte do clero católico europeu, trazendo consigo princípios essenciais sem os quais a educação se desconfiguraria: voluntariedade, transcendentalidade e moralidade. Há também escolas, paroquias e palatinas que educavam crianças para desenvolverem os ethos guerreiro, intelectual ou de artesão.
A modernidade, entretanto, inaugura uma universalização da escola e uma mudança de configuração da educação. Apesar de até o século XVIII a família ter participação na educação da criança, paulatinamente esta foi atribuída primariamente ao Estado. Com a Primeira Revolução Industrial, a Revolução Francesa, que inaugura o período Contemporâneo, e as Reformas Napoleônicas, a educação não carregava mais em si atribuições de transmitir humanidade a homens, mas de capacitar tecnicamente homens para atribuições manuais e práticas a fim de prepará-los para o mercado de trabalho. Passa-se, destarte, a uma educação obrigatória, prosaica e progressista.
Cada vez mais, os últimos 300 anos instituíram, na contramão de 23 séculos de história da educação, uma separação entre família e escola dentro da economia do ato de educar. Isso investe o Estado de poder, permitindo que homens percam a personalidade e individualidade, passando a ser considerados massa de manobra. Precisamos, assim, lutar pela liberdade da educação.
Homeschooling não é somente uma pauta de costumes. Antes, é o exercício da liberdade preconizada em nossa Carta Magna.
Se a ditadura virulenta praticada em virtude da pandemia lhe aflige, lembre-se que sua família foi sequestrada pela tirania da escola e do currículo estatal.
Eles dominaram a educação, governam o país e sacrificam a liberdade.
HOMESCHOOLING JÁ!