Em depoimento perante o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), nesta quarta-feira (13), o empresário Edson Torres afirmou que pagou R$ 980 mil a Wilson Witzel (PSC) antes de começar a campanha para governador do estado, em 2018, a fim de garantir a subsistência caso o político não fosse eleito.
O “acerto” teria sido feito em uma reunião entre Torres e pastor Everaldo, presidente do PSC, quando Witzel ainda era juiz federal. O dinheiro, segundo o empresário, saiu de um fundo criado com este propósito e que teve a participação do também empresário Vitor Hugo Barroso, que segundo Torres, operava a caixinha de propinas que passou a existir depois da eleição.
“Participei dessa estrutura junto com o empresário que eu procurei [Vitor Hugo Barroso] e ele ajudou antes da desincompatibilização do juiz. Era de R$1 milhão mas chegou a R$ 980 mil até a data da desincompatibilização”, relatou, acrescentando que o interesse em participar era para conseguir contratos que tinham deixado de existir nos governos anteriores de Sérgio Cabral e de Luiz Fernando Pezão.
Ainda durante o depoimento, e na condição de testemunha, Torres acrescentou que o dinheiro foi pago em parcelas, uma delas diretamente a Lucas Tristão, que foi um dos coordenadores de campanha, e depois da posse assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais no início do governo Witzel. Outras, segundo o empresário, foram pagas ao próprio pastor Everaldo.
De acordo com ele, também foram pagas propinas ao ex-secretário de Estado de Saúde do Rio, Edmar Santos, mas Torres não soube informar o destino que ele dava ao dinheiro.
O empresário admitiu que sugeriu o nome de Edmar ao pastor Everaldo para um cargo no governo Witzel. Em princípio, achava que ele iria ser reitor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), conforme pretendia o próprio Edmar, mas se surpreendeu com a indicação para secretário de Saúde.
Torres estimou em R$ 55 milhões a arrecadação da caixinha de propinas, que tinha desde vantagens de empresas em contratos com o Estado até percentuais obtidos por meio de favorecimento de empresas no pagamento de restos a pagar entre 2019 e maio de 2020.
Ele ficava com 15% dos valores, Vitor Hugo Barroso, por sua vez, com o mesmo percentual, Edmar com 30% e pastor Everaldo, presidente do PSC com 40%, sendo que parte era repassada para a estrutura do governo.
Apesar de considerar que Witzel participava do esquema, Torres acrescentou que não podia informar quanto caberia ao então governador. “Eu continuei pagando ao Edmar, mesmo sendo secretário, o combinado com ele anteriormente quando diretor até fevereiro de 2020”, disse, segundo informações da Agência Brasil.
OUTRO LADO
Após a sessão no TJRJ, o governador afastado Wilson Witzel divulgou a seguinte declaração: “Jamais recebi qualquer valor indevido de quem quer que seja, antes e depois de eleito”.
A defesa de Edmar Santos disse que não costuma prestar declarações sobre o andamento dos processos dos clientes, ainda mais se estiverem em sigilo da Justiça.
Os advogados de Everaldo negaram participação do cliente no esquema de propinas, dizendo que o líder religioso e político “jamais recebeu propina ou participou de qualquer grupo criminoso. A defesa segue empenhada em esclarecer, na Justiça, que o Pastor Everaldo é alvo de delações covardes, mantém sua confiança na Justiça e reitera que sua prisão é desnecessária, pois sempre esteve à disposição das autoridades”.
Os demais citados na matéria ainda não se manifestaram. O espaço segue aberto para inserção do pronunciamento oficial de defesa.