Por Nilton Gomes Pereira Neto. Licenciando em Física, Coordenador Regional em Minas Gerais da Associação Docentes Pela Liberdade (DPL) e fundador do Kids Ad Astra, um projeto para o ensino de Astronomia e observações astronômicas para crianças da rede pública e projetos sociais em Sabará-MG.
Em minhas leituras diárias de notícias científicas, uma me chamou muito a atenção. E a manchete dizia:
“Jovem de 14 anos encontra molécula que impede infecção pela covid-19”
Em meu pensamento veio direto a imagem daqueles jovens superdotados que já estão em universidades ou na área de pesquisa, que vez ou outra aparecem na mídia. Entretanto, ao continuar a leitura, na sub manchete estava escrito:
“Estudante do ENSINO MÉDIO venceu competição para jovens cientistas com possível cura para covid-19”
Então, meu interesse por mais informações chegou às nuvens. Pasmem:
O que me aturdiu não foram os possíveis avanços que a descoberta pode gerar no desenvolvimento de uma cura para o “vírus chinês”, mas sim o fato da descoberta ter sido feita por uma “simples” aluna de ensino médio, do sistema escolar norte-americano, de apenas 14 anos de idade.
Para quem não conhece, a estrutura do ensino médio americano tem 4 séries finais, que vão da 9ª à 12ª, compostas por uma riquíssima grade curricular com opções de economia, astronomia, filantropia, esportes variados, matemática aplicada, química aplica, física aplicada, línguas estrangeiras, além das curriculares obrigatórias, mencionando ainda em tempo que a frequência escolar dos alunos é integral, com uma pausa para o almoço.
Devido a essa rica grade curricular, os alunos têm um leque de opções, além das curriculares, com matérias que lhes despertem mais interesse, sendo obrigatório que os alunos façam um determinado número de opcionais em cada uma destas séries. Como resultado, temos alunos mais focados e dedicados, de onde saem intelectos como a garota citada acima.
Neste sistema de ensino, os jovens apresentam grande dedicação às aprendizagens escolares e, devido à oportunidade de estudarem optativamente conteúdos que são para eles mais fáceis, dão mais atenção a pesquisas, ao desenvolvimento tecnológico, a leituras, à cultura ou a esportes, ocupando o seu tempo desse modo com grande qualidade e diminuindo as ocasiões para prestarem o seu interesse por coisas, digamos que desnecessárias.
Já em nosso Brasil, infelizmente a história é totalmente diferente, pois aqui além da grade curricular no ensino médio ser basicamente igual e obrigatória para todos, os alunos em sua maioria permanecem por apenas um turno na escola pública, pela manhã, tarde ou noite, com raríssimas matérias optativas ou que gerem especial interesse nos alunos.
Juntando a isso, os currículos do ensino médio ruins (a famigerada BNCC), a péssima infraestrutura das escolas, os baixos salários dos professores e a falta de laboratórios e de equipamentos modernos e, pronto, estamos com a fórmula perfeita para o desastre.
Enquanto nos Estados Unidos uma menina de 14 anos tem a oportunidade de estudar em ambiente escolar e pedagógico com qualidade, boa infraestrutura e com rica diversidade de matérias, tornando a escola de ensino médio em produtora de pesquisas e desenvolvimento pessoal e profissional, aqui uma menina de mesma idade não tem infraestrutura e muito menos interesse em estudar, abrindo espaço para dedicar o seu tempo e energia para formas diferenciadas de “rebolar até o chão”, usando um palavreado recheado de palavrões (que alguns ainda insistem que é “cultura” ou mesmo “arte”), muitas vezes consumindo entorpecentes, mediocrizando assim a função da escola, que passa a produzir mães adolescentes, pais ausentes e analfabetos funcionais.
Mas ainda é tempo de mudar e o Brasil pode ainda tornar-se uma potência em desenvolvimento e pesquisa, desde que a intervenção na educação comece agora, que aproveitemos esse período de “pandemia” para desenvolver formas de gerar interesse em nossas crianças e adolescentes e combater os mesmos que estão nos mandando “ficar em casa”, onde o principal objetivo das escolas passe a ser o desenvolvimento de mentes produtivas e questionadoras, que buscarão mais informações sobre as diversas facetas do mundo que os rodeia, e mais preparados para enfrentar as dificuldades que esse mundo lhes apresenta.
Como exemplo cito nosso Projeto, Kids Ad Astra, que visa levar o ensino de ASTRONOMIA para dentro de salas de aula de forma gratuita.
Mas por que ASTRONOMIA?
A ASTRONOMIA é uma das disciplinas de estudo mais completas na atualidade, pois engloba muitas outras como matemática, física, química, biologia, história, geografia e filosofia, além de ser uma excelente temática para prender a atenção dos jovens com assuntos realmente cativantes e com observações práticas através de telescópios, o que gerará questionamentos que serão respondidos através das matérias citadas acima, que com certeza despertarão o desejo de aprofundamento na pesquisa e desenvolvimento científico, fazendo com que esses jovens, ao chegarem às portas das universidades, tenham um desenvolvimento intelectual, crítico e cognitivo mais avançado, facilitando assim o aprendizado específico. Além, é claro, de diminuir o tempo de ociosidade, pois como diz minha avó: “Cabeça vazia é oficina do diabo!”.
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[Em tempo: O artigo faz parte de um esforço do movimento Docentes pela Liberdade (DPL) em trazer pensadores competentes e capazes de agregar análises relevantes para o cenário nacional. As opiniões expressas na entrevista não reproduzem, necessariamente, as posições do DPL ou Conexão Política.]