As autoridades australianas abriram o primeiro processo contra um político por conluio com um governo estrangeiro para interferir em sua vida política. O ex-candidato do Partido Liberal, Di Sanh Duong, foi preso e libertado sob fiança após ser acusado de acordo com as leis de interferência estrangeira do país, informou a mídia australiana.
Duong, de 65 anos, teria feito parte do conselho da filial australiana do Conselho da China para a Promoção da Reunificação Pacífica (CCPPR), uma organização com ligações ao programa de influência e alcance da Frente Unida do Partido Comunista Chinês (PCC) .
O site oficial do Departamento de Trabalho da Frente Unida do PCC traz notícias e anúncios sobre as atividades das filiais do Conselho da China para a Promoção da Reunificação Pacífica em todo o mundo.
Duong, que também é conhecido por seu nome chinês, Yang Yisheng, foi acusado de “preparar um ato de interferência estrangeira na Austrália”.
De acordo com o Sydney Morning Herald, a acusação vem após uma investigação de um ano pela agência de contraespionagem ASIO e a Polícia Federal Australiana e pode levar a uma pena máxima de 10 anos de prisão.
Feng Chongyi, um professor associado da University of Technology Sydney (UTS), disse que as leis anti-interferência já parecem ter diminuído o fervor pró-PCC na Austrália.
“Desde então, a mídia em língua chinesa tem sido muito contida e até desfiles em grande escala patrocinados pelo governo chinês, como o desfile do Festival do Meio Outono e o desfile do Ano Novo Lunar, foram cancelados nos últimos dois anos”, disse Chongyi. “Houve uma mudança fundamental na atmosfera e na ecologia fundamental de Chinatowns, e até mesmo em toda a comunidade chinesa aqui.”
No mês passado, o candidato do Partido Liberal, Peter Zhuang, publicou anúncios em jornais chineses pedindo apoio com base em sua etnia chinesa, antes de uma eleição estadual, levando ativistas do mesmo partido a se manifestarem contra sua candidatura na cidade de Stretton, em Brisbane. .
Zhuang, que se mudou para a Austrália em 2005, já havia pedido a Pequim que exercesse sua influência desde o Mar da China Meridional até o norte da Ásia e Austrália, segundo relatórios na época.
‘O Homem de Pequim’
Huang Fujing, da ‘Values Alliance’, que faz campanha contra a influência chinesa, disse que Zhuang pode ser “o homem de Pequim”.
“É provável que essa pessoa de sobrenome Zhuang tenha sido enviada para cá pelo PCC, como parte de sua estratégia de longo prazo para a Frente Unida no exterior”, disse Huang. “Há muitas [pessoas assim] que apareceram na Austrália.”
“A Austrália está entre as áreas mais atingidas pela infiltração do PCC, mas também foi o primeiro país ocidental a acordar para isso”, disse ele.
Mas nem todos os governos parecem estar se distanciando de Pequim.
O governo do estado australiano de Victoria assinou no ano passado um acordo com a China para se juntar ao programa de Iniciativa do Cinturão e Rota do secretário-geral do PCC, Xi Jinping, gerando preocupações sobre a influência chinesa contínua no estado, de acordo com o australiano-chinês Wu Lebao.
“Esse acordo significa a infiltração do PCC na comunidade chinesa, com o objetivo de silenciar qualquer crítica ao histórico de direitos humanos do PCC ou sua política no Taiwan”, disse Wu à RFA em uma entrevista recente.
“Nem o governo federal australiano nem os governos estaduais deveriam entrar nesse tipo de relacionamento com o governo chinês”, disse ele.
A Austrália disse no ano passado que iria reprimir os suspeitos de influência do Partido Comunista Chinês no país, após a introdução de novas leis em junho de 2018, visando atividades de lobistas e agentes de governos estrangeiros.
Pedido de cidadania rejeitado
Em fevereiro de 2019, as autoridades australianas rejeitaram o pedido de cidadania de um proeminente bilionário chinês e revogaram sua residência permanente ali por causa de preocupações sobre seus laços com Pequim. Huang Xiangmo havia feito doações de cerca de US $ 1,9 milhão para partidos políticos na Austrália nos cinco anos anteriores à apresentação de seu pedido.
O autor australiano e professor de ética pública, Clive Hamilton, argumentou em seu livro ‘Silent Invasion: China’s Influence in Australia'(O Invasor Silencioso: A Influência da China na Austrália), que as elites do país, e partes da grande diáspora sino-australiana do país, foram mobilizadas por Pequim para obter acesso aos políticos, limitar a liberdade acadêmica, intimidar críticos, reunir informações para agências de inteligência chinesas e organizar protestos contra a política do governo australiano.
O livro de Hamilton foi inicialmente rejeitado por três editoras por temor de represálias de Pequim, antes de finalmente ser publicado em fevereiro de 2018.
De acordo com a Reuters, o Partido Comunista Chinês estava por trás de um ataque cibernético massivo ao parlamento nacional australiano antes das eleições gerais de maio.
A agência citou a agência de inteligência cibernética do país, a Australian Signals Directorate (ASD), afirmando que Pequim foi responsável pelo ataque ao parlamento e aos três maiores partidos políticos, e que se originou no Ministério da Segurança do Estado em Pequim. Os resultados foram inicialmente mantidos em segredo para evitar prejuízos em relações comerciais.