Na terça-feira (3), navios de guerra e aeronaves das quatro nações da aliança ‘The Quad’ – Japão, Austrália, Índia e Estados Unidos – deram início ao exercício militar conjunto anual do Malabar, na Baía de Bengala, perto do extremo sul do subcontinente indiano, com a Austrália voltando aos exercícios pela primeira vez em 13 anos.
O exercício naval ocorre em menos de um mês após uma reunião altamente simbólica do The Quad, em Tóquio, no Japão, dos principais diplomatas de quatro dos mais poderosos países democráticos da região Indo-pacífico. Embora poucas conclusões concretas tenham emergido dessa conversas, elas foram amplamente interpretadas como uma mensagem conjunta desses países à China.
O exercício militar não está formalmente vinculado ao fórum ‘The Quad’, mas observadores dizem que os participantes esperam transformar o exercício em um contrapeso à influência militar e política cada vez mais potente de Pequim na região.
A primeira fase dos exercícios vai até sexta-feira (6), enquanto uma segunda fase será realizada no final deste mês.
Os exercícios deste ano, sua 24ª iteração, incluem uma variedade de “treinamento tático de ponta”, incluindo exercícios antissubmarinos e antiaéreos “que são projetados para aumentar a interoperabilidade” entre os militares dos quatro países, disseram a Força de Autodefesa Marítima e a Marinha dos EUA em declarações distintas.
“Malabar oferece uma oportunidade para marinhas com ideias semelhantes, compartilhando uma visão comum de um Indo-pacífico mais estável, aberto e próspero, para operar e treinar lado a lado”, disse o Comandante Ryan T. Easterday, comandante do contratorpedeiro USS John S. McCain, que participava do exercício naval.
O comandante também deu a entender o que parecia ser uma indireta velada à China, dizendo que a cooperação era a chave para a estabilidade no Indo-pacífico.
“Uma abordagem colaborativa para a segurança e estabilidade regional é importante agora mais do que nunca, para deter todos os que desafiam um Indo-pacífico livre e aberto.”
As preocupações com o comportamento chinês entre as quatro nações aumentaram nos últimos anos. De sua sangrenta disputa de fronteira com a Índia e seu posicionamento marítimo com o Japão, às suas lutas diplomáticas e econômicas com a Austrália e sua rivalidade de superpotência incipiente com os EUA, todos os quatro têm, pelo menos em algum nível, expressado insatisfação e irritabilidade com Pequim.
O Japão, em particular, está em alerta com a presença crescente de navios do governo comunista chinês perto das ilhas Senkaku, administradas pelos japoneses, no Mar da China Oriental. Essas pequenas e desabitadas ilhas são reivindicadas pela China e o Japão avistou navios chineses perto das ilhas por 285 dias este ano e também pelo 59º dia consecutivo.
Especialistas dizem que a presença chinesa perto de Senkaku é parte de uma tentativa gradual de mudar o status quo em torno das ilhotas.
Os exercícios navais de Malabar fornecem uma chance altamente visível para os países se oporem à China. Pequim tem criticado os exercícios do The Quad e Malabar, alegando que eles “fazem parte de uma tentativa de forjar uma aliança militar destinada a controlar a China”.
Especialistas disseram que dadas as economias, capacidades militares e localizações geográficas dos quatro países do The Quad, o exercício de Malabar representa mais um passo em direção a um cenário de pesadelo para os planejadores militares chineses ao criarem uma aliança de fato.
Malabar foi iniciado pela Índia e os EUA em 1992 e adicionou o Japão como parceiro permanente em 2015. Após mais de uma década de ausência, a Índia convidou a Austrália a participar este ano “para aumentar a cooperação com outros países no domínio da segurança marítima e à luz de uma maior cooperação de defesa com a Austrália ”, disse o Ministério da Defesa da Índia em um comunicado no início deste mês.
A ministra da Defesa australiana, Linda Reynolds, destacou na terça-feira (3) que o exercício é como um símbolo da melhoria dos laços entre os militares australianos e indianos.
“Índia e Austrália são parceiros naturais no Indo-pacífico, e o Exercício MALABAR é uma demonstração clara da profundidade da confiança e cooperação entre nossas organizações de defesa”, disse ela em um comunicado.
Não está claro se os exercícios de Malabar acabarão sendo formalizados dentro da arquitetura do The Quad, mas tudo leva a crer que os exercícios deste ano são um passo nessa direção.
“Um Malabar expandido aponta para o surgimento de uma coalizão marítima estruturada no Indo-pacífico, totalizando uma arquitetura marítima de defesa emergente em relação a uma China revisionista”, escreveu o analista Jagannath Panda no início deste ano, no site do think tank do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, ‘Asia Maritime Transparency Initiative – AMTI‘ (Iniciativa de Transparência Marítima da Ásia).