Escrito por Major Vitor Hugo
Major das Forças Especiais do Exército Brasileiro (reserva não remunerada) e advogado.
Algo que me impressionou desde muito novo nos bancos das escolas militares era a fixação dos instrutores pelo desenvolvimento da liderança. Muitos comandantes repetiam a ideia de que o porvir do Exército estaria, em alguns anos, em nossas mãos. Os futuros generais e comandantes estariam já entre nós, garotos, naquele momento, de 16 anos de idade.
A responsabilidade, então, com os destinos da Instituição já repousava sobre os ombros de cada cadete, desde as mais tenras idades. Isso gerava um compromisso de fé que se refletia em todas as ações, desde o estudo para as provas, passando pelas atividades operacionais no campo, até o cumprimento das mais simples tarefas diárias.
A consequência maior desse modus operandi secular, desenvolvido em mais de duzentos anos de formação de oficiais combatentes do nosso Exército, desde a Real Academia Militar de 1810, é que a liderança militar é extremamente comprometida com o futuro institucional da Força Terrestre e, por consequência, da Nação. É nesse contexto, então, que o tweet do General Villas Bôas, meu antigo comandante na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, deve ser compreendido.
No segmento civil de nossa sociedade, entretanto, a situação hoje é bem diferente. Nossos jovens não são formados imaginando que os destinos do Brasil repousam, desde já, em seus ombros. Hoje, eles não possuem – ou possuem muito poucas – referências efetivas de dedicação e compromisso com a Pátria, com o povo brasileiro, com a coletividade, no seio da liderança constitucional civil do nosso País.
Um ex-presidente, dos mais populares e populistas, hoje responde pelo número 700004553820, numa cela improvisada na sede da Polícia Federal em Curitiba, intencionando ser transferido para um quartel, por imaginar, em seus delírios de cárcere, possuir algum vínculo, ainda que remoto, com a função de Comandante Supremo que um dia ocupou e, na sequência, desonrou; o presidente atual da República foi duplamente denunciado e uma terceira denúncia parece estar a caminho; outros ex-presidentes, com ou sem impeachment em suas trajetórias, encontram-se às voltas com a Justiça; vários governadores e ex-governadores, com destaque para os do Estado do Rio de Janeiro, estão presos, são réus, foram denunciados ou estão na combinação das três situações anteriores, em dezenas de processos distintos; senadores e deputados federais, em número inimaginável, respondem a processos ou a inquéritos infindáveis em função do foro privilegiado de que desfrutam, sendo-lhes concedido, em proporção inaceitável, o benefício da prescrição, tapa na cara de cada um dos brasileiros que se respeitam…
O STF, por sua vez, com suas idas e vindas, manobras, casuísmos e votos políticos, não inspira ninguém. Tivemos um alívio com o voto salvador de Rosa Weber, mas nada garante que a situação não se reverta e a prisão após condenação em segunda instância se dissolva no éter nos próximos dias.
Como ser jovem no Brasil, então, e buscar inspiração para, não só se sentir responsável pelos destinos maiores da Nação, como também se propor a contribuir efetivamente para a construção de um futuro melhor para todos nós? Nada fácil.
As eleições se aproximam e essa é a hora de escolhermos nossos líderes. O voto consciente, focado em pessoas que não estejam envoltas em processos criminais, preparadas para o exercício de seus respectivos mandatos e comprometidos com o bem coletivo, é a única porta de salvação. Isso, para que as gerações sucessivas de jovens tenham um referencial mais brilhante de liderança, capaz de fazer com que, na hora que lhes couber, a assunção do comando da Nação aconteça com base em escolhas de projetos e ideias revestidas de honestidade de propósito e conteúdo. Somente dessa forma, conseguiremos sair do zigue-zague dos governos e teremos um direcionamento de Estado. O Brasil precisa, enfim, enfrentar sua maior crise: a de liderança.