The English version of the open letter can be read here (a versão em Inglês da carta aberta pode ser lida aqui).
A Associação Docentes Pela Liberdade (DPL) escreveu uma Carta Aberta em apoio à cientista política neozelandesa, Anne-Marie Sharon Brady, que está sendo perseguida e pode perder seu emprego por ter denunciado como universidades, acadêmicos e empresas podem estar ajudando o Partido Comunista Chinês ao colaborar com agências chinesas em pesquisas de alta tecnologia.
Entenda o caso
Anne-Marie Sharon Brady, nascida em 1966, é uma cientista política da Nova Zelândia e professora titular da Universidade de Canterbury, especializada em política chinesa e suas políticas nas regiões polares. Um artigo crítico seu sobre as ligações das universidades da Nova Zelândia com a China atraiu reclamações de outras universidades e gerou uma investigação por seu próprio empregador.
Brady, cuja pesquisa sobre os esforços do governo chinês para influenciar as democracias ocidentais conquistou seu reconhecimento internacional, apresentou seu relatório no mês passado como uma submissão complementar ao Comitê Seleto de Justiça do Parlamento neozelandês. Seu artigo, de coautoria de Jichang Lulu e Sam Pheloung, também foi publicado no site de estudos do Wilson Center, com sede em Washington, nos EUA.
O artigo mostra como as universidades e empresas de alta tecnologia da Nova Zelândia estão vinculadas às universidades e empresas chinesas e como elas poderiam ajudar na transferência de tecnologia útil para os militares chineses. Brady diz que a China tem uma estratégia internacional de transferência de tecnologia que inclui intercâmbio acadêmico, investimento em empresas estrangeiras, espionagem e hacking.
Brady está preocupada com o fato de que as informações que uma empresa chinesa detém sobre neozelandeses proeminentes possam estar ligadas a tentativas de influenciar a política e os negócios da Nova Zelândia.
Os acadêmicos da Universidade de Canterbury mencionados no artigo e outros de universidades de outras partes da Nova Zelândia e de outros países reclamaram nos últimos dias das afirmações de Brady. Após as reclamações, a universidade iniciou uma investigação interna.
O advogado de Brady, Stephen Franks, está tentando fazer com que a Universidade de Canterbury explique como a investigação se encaixa em seus poderes legítimos.
Brady foi instruída a não fazer comentários públicos sobre a investigação, enquanto ela estiver em andamento.
Leia na íntegra a Carta Aberta do DPL em apoio à cientista política Prof. Anne Mary Brady:
Brasília, 28 de Outubro de 2020.
CARTA DE APOIO À PROFESSORA ANNE-MARIE BRADY
A Associação Docentes pela Liberdade agrega centenas de acadêmicos conservadores de distintas áreas do conhecimento e de todas as regiões do Brasil, tendo como missão especialmente a promoção da liberdade em todas as suas expressões, das quais destaca-se a liberdade de expressão nas universidades.
Assim, foi com extrema preocupação que recebemos a notícia de que a Dra. Anne-Marie Brady, distinta Professora da Universidade de Cantebury, Nova Zelândia, tem sido alvo de uma campanha de assédio, tendo recebido diversas ameaças devido ao seu relato descrito no artigo “Holding a Pen in One Hand, Gripping a Gun in the Other”, o qual foi submetido ao Comitê de Justiça do Parlamento da Nova Zelândia no primeiro semestre deste ano. Neste texto, Dra Brady disseca como o Partido Comunista Chinês utiliza canais civis neozelandeses, tais como universidades e empresas de alta tecnologia, para obter tecnologia e acesso a conhecimentos científicos destinados a fins militares, o que poderia violar as leis domésticas e alguns compromissos internacionais da própria Nova Zelândia.
Também nos causa estranheza o fato de a University of Canterbury promover uma investigação interna e uma revisão acadêmica do trabalho da Dra Brady por supostamente conter “erros manifestos de fato e inferências enganosas”, a partir da pressão de indivíduos e setores insatisfeitos com seu trabalho.
Nós que fazemos parte da associação Docentes pela Liberdade acreditamos que esse episódio não coaduna com a liberdade de expressão, responsabilidade individual e a busca pela verdade no ambiente acadêmico, mesmo que envolva temas sensíveis ou, mesmo, controversos. É importante ressaltar que nenhum trabalho acadêmico está imune às críticas, mas estas devem ocorrer por meio da revisão pelos pares e ser acompanhadas de uma consistente base teórica, o que não parece ser o caso.
Como disse acertadamente Benjamin Israeli (1804 – 1881), “a universidade deve ser um lugar de luz, liberdade e aprendizado”. Não obstante, o presente episódio demonstra que a livre expressão, bem como a sensatez e a razão, está sob grave ameaça, de tal forma que urgem medidas para que ela volte a reinar soberana no meio acadêmico. Afinal, a liberdade de expressão é um dos pilares não apenas de nossas universidades e do consequente avanço científico, mas de toda sociedade que se pretenda democrática.
Direção Nacional – Docentes Pela Liberdade (DPL)