Imagem: Conexão Política/Divulgação
Era um desses dias tensos no canteiro de obras: pagamento dos colaboradores atrasado, boatos sobre demissões, reclamações sobre o sabor da marmita, entre outros assuntos rotineiros entre peões.
Alguns comentavam sobre um assalto que houve nas proximidades:
— Que negócio da peste, se eu pego um caba desse eu quebro ele no pau! — Bravejava um baixinho coçando o sovaco.
— Ói, é como aquele ditado que diz que bandido bom é bandido morto… roubar um pai de família no meio da noite é muita covardia. — Disse em mansa voz, trêmula e melancólica o eletricista que mastigava seu feijão com arroz.
— É fogo, e com essas leis aí o cara não pode nem ter uma arma pra se defender; um criminoso desses tem que morrer na cadeia… tem condições não… A justiça nesse país não funciona… — Murmurava um homem já velho, e parecendo estar de ressaca.
Enquanto isso, foleava um livrinho, meio por fora do assunto por nunca estar em rodas de conversas do tipo. Não me interessei muito pelas queixas, e voltei a pôr-me em meu autoexílio em meio aos versos daquela obra que lia vorazmente em tenaz deleite.
Passado o horário do almoço, voltamos às atividades até findar o horário de serviço. Tomamos então as filas para bater o ponto. Eis que o baixinho carrancudo comenta:
— E aquela votação do negócio do Lula ontem, hein? Que negócio da peste foi aquele? Querem prender o homem de todo jeito. O homem que mais ajudou o Brasil.
Ouvi aquilo sem querer e tive um leve choque, que foi leve pelo costume de ouvir tal absurdidade. — Lula é um criminoso, organizou o maior crime de corrupção do Brasil e quiçá do mundo. Não era esse o homem quem estava revoltado com criminosos hoje a tarde? — Pensei.
— Mesmo que prendam ele eu voto nele… ou então em quem ele mandar votar. Mas com fé em Deus vão soltar o homem e ele vai voltar pra arrumar esse Brasil. Nem prova tem pra prender ele… — afirmou com muita certeza e mais melancolia ainda o eletricista que antes defendia a morte de bandidos enquanto mastigava feijão.
— Tem condições não… num vai ter nenhum outro candidato que preste. Quero é ver o que vai ser desse país. — Dizia o velho de ressaca com tendências armamentistas que não deve lembrar que foi o governo Lula quem proibiu o porte de armas para o trabalhador de bem e cuja ideologia auxiliou muitos e muitos traficantes, assassinos e até pedófilos.
Houve um zum zum zum por uns instantes, um certo clima de cerimônia apoteótica de um bandido condenado ainda por um crime, faltando ainda outros seis. O bandido foi colocado em meio a nebulosas e planetas adorados antes pelos gregos e romanos. Aliás, todos ali pareciam entender muito sobre leis, economia e política. Pareciam verdadeiros pensadores gregos elucubrando sobre a influência astral em suas vidas. Lembrei de todos os deboches que me fizeram por ler no ônibus e no horário de almoço. Recordei de todas as vezes que me falaram que enlouqueci por estudar. E num debochado e louco riso permaneci naquela fila, até chegar minha hora de bater o ponto. Senti desejo de me meter no assunto daquela gente órfã de dengo estatal, mas detive-me… das outras vezes não obtive bom resultado. Me acovardei por um instante, confesso.
Lula ainda tem um eleitor cativo, cujo perfil não preciso comentar aqui. Sempre passo uma imagem de arrogância — por vezes intencional —, mas dessa vez vou evitar. O ponto é refletir que o país precisa travar uma guerra cultural, que pode levar anos — umas 3 ou 4 décadas —, e para tal são necessários guerreiros culturais em todas as esferas: escolas, universidades, empresas, espaços públicos, salão de beleza, fila de banco e até canteiro de obras. À priori, a luta pode parecer perdida, mas o resultado virá com o tempo. Consciências foram corrompidas ao longo dos anos, e serão necessários anos para reverter o processo. Mantenhamos a calma, estudemos e batalhemos. Boa batalha, a todos!