O ministro da Defesa da Indonésia, Prabowo Subianto, se encontrou com o Secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, em uma reunião na sexta-feira (16) em Washington, nos EUA. Enquanto os dois discutiam a intensificação dos laços militares bilaterais e da cooperação em segurança marítima, Esper também trouxe à pauta assuntos de direitos humanos e estado de direito, informou o Pentágono.
A viagem de Prabowo aos EUA a convite de Esper acontece em meio a tensões crescentes com a China na região e após Washington suspender uma proibição de entrada no país de quase duas décadas sobre o ex-oficial militar, que havia sido acusado de abusos aos direitos humanos no passado.
“O secretário Esper comunicou a importância de defender os direitos humanos, o estado de direito e a profissionalização à medida que os dois países expandem seu envolvimento”, disse o Departamento de Defesa dos EUA em um comunicado sobre a reunião divulgado no sábado (17).
Os dois discutiram as aquisições de defesa, e Prabowo declarou seu “apreço pelo apoio dos Estados Unidos à modernização da defesa da Indonésia”, diz o comunicado.
“Ambos os líderes compartilharam seu desejo de aumentar as atividades bilaterais militar e trabalhar juntos na segurança marítima”, consta no documento.
Os funcionários também assinaram um memorando de intenções para retomar os esforços para recuperar os restos mortais de funcionários dos EUA perdidos na Indonésia durante a Segunda Guerra Mundial.
Prabowo e Esper se encontraram anteriormente em novembro de 2019 em uma reunião de chefes de Defesa do sudeste asiático. Durante um telefonema em agosto, eles expressaram o desejo de se encontrarem pessoalmente.
‘Interesse comum’
Quando Prabowo chegou aos Estados Unidos na quinta-feira (15), as autoridades procuraram acalmar as críticas de grupos de direitos humanos e parlamentares à sua visita de cinco dias.
“O governo dos EUA e o Departamento de Defesa atribuem grande importância à nossa parceria com a Indonésia, com a qual compartilhamos valores democráticos, fortes laços econômicos e interpessoais e um interesse comum em uma ordem baseada em regras no Sudeste Asiático”, disse Jonathan Hoffman, assistente do Secretário de Defesa para Assuntos Públicos, em um comunicado enviado ao BenarNews.
O Secretário de Defesa dos EUA sempre aborda assuntos de direitos humanos e profissionalismo com seus colegas em todo o mundo, disse Hoffman. “Esses são os princípios fundamentais sobre os quais nossas relações bilaterais de defesa são construídas com qualquer parceiro. Com a Indonésia não é diferente”, diz o comunicado.
O Sudeste Asiático é a região mais afetada pelas amplas reivindicações territoriais da China e pela militarização de áreas de terra disputadas no Mar do Sul da China. Washington recentemente endureceu sua linguagem sobre o assunto, chamando as alegações da China de ilegais e acusando Pequim de “comportamento intimidador” na região.
A China, por sua vez, pediu aos países do Sudeste Asiático que resistam à “interferência” dos Estados Unidos nas disputas territoriais no Mar do Sul da China.
Seis governos asiáticos – Brunei, Indonésia, Malásia, Filipinas, Taiwan e Vietnã – têm reivindicações territoriais ou fronteiras marítimas no Mar da China Meridional que se sobrepõem às da China.
Embora a Indonésia não se considere parte na disputa do Mar da China Meridional, Pequim reivindica “direitos históricos” sobre partes do mar que se sobrepõem à Zona Econômica Exclusiva da Indonésia.
Nos últimos anos, a Indonésia detectou em várias ocasiões navios de pesca ou da guarda costeira chineses em sua Zona Econômica Exclusiva nas Ilhas Natuna, no Mar da China Meridional.
Em seu último protesto contra uma dessas incursões, Jacarta reiterou que rejeitou a chamada ‘Linha das Nove Raias’ da China, que Pequim tem usado para demarcar suas reivindicações no Mar do Sul da China.
Anteriormente, o ministro das Relações Exteriores da Indonésia, Retno Marsudi, disse que a Associação dos países do Sudeste Asiático (ASEAN) não queria “se envolver na rivalidade entre as grandes potências”, em uma aparente referência às tensões entre a China e os Estados Unidos.
Retno também disse que a disputa deve ser resolvida de acordo com o direito internacional, incluindo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), que a China denuncia.
‘Abusos de direitos humanos ‘
A visita de Prabowo Subianto ocorre 10 anos depois de os EUA suspenderem a proibição de entrada no país de integrantes das forças especiais do exército indonésio (Kopassus), que Prabowo comandou há décadas.
Em agosto de 1998, Prabowo foi dispensado do exército indonésio por seu suposto papel no sequestro de ativistas políticos durante um levante estudantil que ajudou a acabar com o regime de décadas de seu então sogro, Suharto, relatou o The Wall Street Journal .
Em 1999, Washington proibiu todos os contatos com a Kopassus devido aos alegados abusos de direitos cometidos nas regiões de Aceh e Papua e quando a Indonésia ocupou o vizinho Timor Leste. Essa proibição foi suspensa em 2010.
Prabowo negou ter cometido ou fazer parte de qualquer violação dos direitos humanos. Em um livreto publicado durante sua campanha presidencial de 2019, ele disse que se as acusações contra ele fossem verdadeiras, ele não teria tido permissão para viajar, informou o jornal Financial Times.