Nesta semana um amigo me perguntou, diante de tantos e dos mais absurdos acontecimentos ocorridos no país e no mundo, se haveria uma única palavra que serviria ao propósito de definir as mais distintas sociedades.
A tarefa não foi fácil, outras escolhas e reflexões poderiam ter lugar. Creio que, exatamente por bem me conhecer e ser sabedor de que eu não desistiria da tarefa até dá-la por satisfatoriamente vencida, fui desafiado.
Pensa pra cá, embola a cabeça no travesseiro à noite para lá, falo comigo mesmo sob o chuveiro e eis que alcanço uma conclusão – a minha, não sei se o amigo leitor concordará comigo, mas estou convicto de que esta pode ser uma boa alternativa.
E a palavra é: desculpas… e suas composições: pedir ou conceder desculpas a, pois sempre dirigida a alguém!
Pois bem, se de um lado o individuo médio não consegue pedir desculpas por seus próprios erros, a quem quer que seja, demonstra, ou a incapacidade de avaliar a própria conduta, o que não é nada interessante em termos sociais, ou mesmo reconhecendo ter se equivocado, se excedido ou prejudicado a alguém e não busca a reparação destes, dirigindo ao ofendido, ao menos um pedido de desculpas, resta claro ser incapaz de ceder em seu inflado ego de pretensa superioridade ou de reconhecer o outro como sujeito de direitos, inclusive a mínima reparação.
Em outras palavras, tanto uma situação quanto a outra, de igual forma apontam para o despreparo para o convívio social, para uma patologia, pois inabilitado para aceitar ou reconhecer ser culpado por algum mal causado a alguém, próximo ou distante de si, neste convívio.
No outro extremo, teremos a sociedade daqueles que se desculpam por tudo, inclusive quando, em realidade, não há nada porque se desculpar. Assumem culpas históricas, culpas que lhes são impostas, por mais absurdas que possam ser, embora completamente indevidas. São seres igualmente patológicos que abrem mão do amor próprio, de suas certezas ou convicções, imaginando que assim poderão usufruir do reconhecimento e da aceitação do destinatário imerecido de seus permanentes, contínuos e inafastáveis pedidos de desculpas.
Às filhas ainda pequenas, insisto em ensinar-lhes que tão importante quanto pedir desculpas sinceras, quando isto se fizer necessário, é não precisar fazê-lo outra vez pelo mesmo motivo, pois esta reincidência simplesmente destrói o adjetivo, a condição de “feito com sinceridade”, pondo por terra qualquer pretensão de paz interior e com o semelhante.
Ao mesmo tempo, esclareço que submeterem-se a pedir desculpas quando isto lhes for exigido por outrem querendo impor-lhes humilhação ou por intermédio de falsa acusação, jamais o façam. Hão de defender a honra contra tudo o que lhes for injusto. Há de se agir com plena e rigorosa consciência de seus atos e consequências, buscando ao máximo serem corretas, justas e leais, entre si e com os demais.
Em suma, ensino-lhes que é necessário encontrar o equilíbrio entre pedir desculpas quando devido, jamais por tudo, sem tampouco deixar de fazê-lo, quando imperativo de consciência. Viver em ambos extremos dessa escala é claro sintoma de adoecimento, quer individual, quer coletivo. Infelizmente, ao que parece, a humanidade, em grande medida, está a caminhar a olhos vistos nestas direções. A sociedade em que a maioria de sua população estiver nesta posição, não será saudável. E discorrer sobre o que o crescente distanciamento dos valores cristãos contribui neste sentido é “chover no molhado”. Talvez seja um projeto deliberado. Cuide-se, seja e faça a mudança.
Então, por gentileza, para um mundo melhor, para dar exemplo e demonstrar que seus valores fazem diferença para a sociedade em que você e os seus estiverem inseridos, peçam e concedam desculpas, nem que seja a si mesmos. É saudável!