A Força Aérea da China conduziu um número sem precedentes de voos para a Zona de Identificação de Defesa Aérea de Taiwan, perto do atol isolado de Pratas, um dos poucos postos militares de Taiwan no Mar da China Meridional, de acordo com o ministro da Defesa da ilha autônoma.
O domingo passado (11) marcou a 220ª invasão no lado sudoeste da Zona de Identificação de Defesa Aérea de Taiwan, ou ADIZ, este ano por aviões de vigilância da Força Aérea do Exército de Libertação do Povo (PLAAF), de acordo com um comunicado do Ministério da Defesa Nacional. Essa parte do ADIZ cobre o espaço aéreo entre a ilha de Taiwan e o atol de Pratas.
O ministro da Defesa, Yen Teh-fa, disse aos parlamentares em 8 de outubro que houve 217 surtidas de aeronaves da PLAAF contra o ADIZ do sudoeste de Taiwan em 2020. Houve mais três ofensivas desde então, elevando o total para 220. A maioria das surtidas neste ano envolveram aeronaves de vigilância militar. No domingo, o ministério publicou uma foto de um avião de guerra antissubmarino Y-8 voando perto do atol.
Houve apenas duas invasões publicadas no ADIZ de Taiwan pela China em 2019, de acordo com um relatório da Federação de Cientistas Americanos.
“Em 2020 as invasões no ADIZ em Taiwan tornaram-se uma provocação aérea cada vez mais comum, com mais intrusões relatadas publicamente no primeiro semestre de 2020 do que o total de intrusões de qualquer ano anterior”, diz o relatório.
Um ADIZ é uma área onde aeronaves civis são rastreadas e identificadas antes de entrar no espaço aéreo de um país. É diferente de uma zona de exclusão aérea – não restringe viagens dentro e fora de seus limites, nem geralmente se aplica a aeronaves militares, embora não haja regra ou lei internacional dizendo que não pode. O ADIZ de Taiwan corresponde aproximadamente à sua zona econômica exclusiva, um limite de 370 Km ao largo de suas costas.
O Atol de Pratas fica a cerca de 442 Km da cidade de Kaohsiung, no sul de Taiwan, e apenas 337 Km a sudeste de Hong Kong. É uma das duas únicas feições no Mar da China Meridional que Taiwan ocupa. Um parque marinho nacional foi estabelecido nele em 2007.
Ao todo, há seis requerentes de território no disputado Mar do Sul da China. Brunei, China, Malásia, Filipinas, Taiwan e Vietnã. Destes, China e Taiwan reivindicam Pratas.
Em julho, cinco habitantes de Hong Kong foram interceptados pela guarda costeira taiwanesa a caminho de Pratas, aparentemente fugindo da imposição da nova Lei de Segurança Nacional em Hong Kong, que viu uma ampla repressão às liberdades civis outrora desfrutadas pela cidade semiautônoma. Outros 12 habitantes de Hong Kong foram detidos pelas autoridades de Hong Kong no final de agosto, após tentarem fugir para o território taiwanês da mesma maneira.
Jessica Drun, uma bolsista não-residente do Instituto Project 2049, com sede em Washington, D.C. nos EUA, acredita que a tentativa de voo de pessoas de Hong kong para Pratas e os voos agressivos da China podem estar relacionados. Pequim poderia estar “enviando uma mensagem a Taipei para não intervir ou apoiar os ativistas pela democracia de Hong Kong”.
Pratas hospeda um contingente de guardas costeiros taiwaneses e uma presença rotativa de fuzileiros navais, mas uma tentativa de reabastecimento dessa guarnição falhou na manhã de quinta-feira, quando um avião civil contratado pelo Ministério da Defesa de Taiwan foi avisado por controladores de tráfego aéreo em Hong Kong, de acordo com a mídia estatal taiwanesa.
“Pratas sempre esteve no radar da China por sua posição estratégica – no primeiro cadeia de ilhas, na foz do Estreito de Luzon e no caminho direto entre a base do PLAN (na província insular de Hainan no sul) e o Oceano Pacífico – e está localizado em uma área do Mar da China Meridional onde a China atualmente não possui nenhum território”, disse Drun. “O fator Hong Kong poderia ser usado como um pretexto conveniente e oportuno para aumentar a vigilância em torno de Pratas, bem como para qualquer escalonamento posterior”.
A primeira cadeia de ilhas se refere à cadeia de ilhas e ilhotas mais próximas da costa da China que são ocupadas ou administradas por outros governos – começando com as Ilhas Curilas da Rússia no extremo norte, passando pela ilha de Taiwan e terminando na metade sul do Mar da China Meridional.
A China reivindica Taiwan e suas ilhas periféricas como seu “próprio território” e prometeu anexar Taiwan, pela força se necessário. Drun acredita que Pequim está escalando suas provocações agora por causa da frustração com a probabilidade cada vez menor de uma unificação pacífica entre o continente e Taiwan nos termos do Partido Comunista Chinês (PCC).
“Não tenho certeza se podemos apontar um fator específico – para mim, é mais uma confluência de fatores que estão sendo interpretados pela China como Taiwan se distanciando de seu alcance, incluindo a rejeição de ‘Um país, dois sistemas’ por ambos principais partidos políticos em Taiwan, o aprofundamento dos laços de Taiwan com Washington e um senso crescente de identidade taiwanesa, entre outros”, disse Drun.
Em notícia relacionada, a Marinha dos Estados Unidos transitou pelo Estreito de Taiwan na quarta-feira (14), chamando a passagem de “rotina” e “de acordo com o direito internacional” em um comunicado da Frota do Pacífico.