O governo comunista chinês enviou um navio de “pesquisa” com escolta da Guarda Costeira da China às águas vietnamitas do Mar da China Meridional, mostram dados de rastreamento de navios. Notavelmente, esse mesmo navio foi expulso do Oceano Índico Oriental pela Marinha da Índia em dezembro de 2019, sob suspeita de mapear a topografia do fundo do oceano para fins militares.
O Vietnã ainda não reagiu publicamente ao desdobramento, mas a embarcação chinesa chega em um momento diplomaticamente delicado.
O novo primeiro-ministro do Japão deve visitar o Vietnã na próxima semana, e o jornal Nikkei noticiou na quarta-feira (14) que o Japão está planejando vender equipamentos de defesa ao Vietnã – uma medida que provavelmente terá forte oposição da China, que vê o Japão como um rival estratégico.
O navio de “pesquisa e levantamento” Shiyan-1 partiu da baia de Haikou, na província chinesa de Hainan, na segunda-feira (12) e chegou a cerca de 130 Km da província de Quang Ngai, no Vietnã, na terça-feira (13),segundo dados revisados pela Radio Free Asia (RFA). Na manhã de quarta-feira (14), a embarcação estava a 144 Km da costa da província vietnamita de Binh Dinh. Ambas as áreas estão ao longo da costa central do Vietnã.
O navio Shiyan-1 é operado pelo Instituto de Acústica, um centro de pesquisa especializado em acústica subaquática da Academia Chinesa de Ciências, de acordo com o banco de dados da Organização Marítima Internacional.
O navio da Guarda Costeira da China (CCG) numerado ‘2.305’ seguiu o Shiyan-1 em águas vietnamitas na segunda-feira, mas desde então deixou seu lado. Os dados de rastreamento do navio da manhã de quarta-feira mostram que ele está navegando na direção oposta do navio de pesquisa, de volta à Hainan.
Os dados mostram que cinco navios operados pela Vigilância de Recursos Pesqueiros do Vietnã – uma agência de aplicação da lei marítima separada da guarda costeira daquele país – parecem ter monitorado tanto o CCG quanto o Shiyan-1 enquanto viajavam para a Zona Econômica Exclusiva do Vietnã, ou ZEE. A ZEE de um país se estende por cerca de 700 Km além de suas costas e fornece ao país certos direitos de recursos para as águas dali.
A China frequentemente utiliza navios de “pesquisa” em águas de outras nações no Mar do Sul da China, no que é amplamente interpretado como uma afirmação de sua reivindicação de “direitos históricos” sobre quase todas as hidrovias disputadas.
Seis outros governos asiáticos têm reivindicações territoriais ou fronteiras marítimas no Mar da China Meridional que se sobrepõem às reivindicações abrangentes da China. Eles são Brunei, Indonésia, Malásia, Filipinas, Taiwan e Vietnã. Embora a Indonésia não se considere parte na disputa do Mar da China Meridional, Pequim reivindica os direitos de partes desse mar que se sobrepõem à ZEE da Indonésia.
A RFA avistou o Shiyan-1 em 16 de julho, conduzindo uma “pesquisa” abrangendo quase 612 Km ao longo de uma ampla faixa das Ilhas Paracel, um arquipélago de rochas e recifes ao norte do Mar do Sul da China, que também é reivindicado pelo Vietnã e Taiwan. Posteriormente, ele navegou para uma área de aproximadamente 426 Km de Chichijima, uma remota ilha japonesa localizada bem a leste do Japão, e realizou uma “pesquisa” por lá até 24 de agosto.
Na quarta-feira (14), o Japão expressou preocupação com os desenvolvimentos no Mar da China Meridional no início das negociações anuais entre o Japão e a Associação das Nações do Sudeste Asiático, ou ASEAN. Neste ano, as conversações aconteceram virtualmente.
Ambos os lados enfatizaram a liberdade de navegação e sobrevoo nas águas disputadas, de acordo com um comunicado de imprensa da ASEAN. O vice-ministro das Relações Exteriores do Japão, Mori Takeo “enfatizou a importância da paz e da estabilidade na região, expressando preocupação com os recentes desenvolvimentos no Mar do Leste” em seus comentários à ASEAN, de acordo com a mídia estatal vietnamita. Mar do Leste é o termo do Vietnã para Mar do Sul da China.
O primeiro-ministro do Japão, Suga Yoshihide, que assumiu o cargo há apenas um mês, ligou para seu homólogo vietnamita Nguyen Xuan Phuc na segunda-feira (12) para planejar sua próxima visita ao Vietnã, em meio a sinais de que Tóquio está intensificando seu envolvimento no domínio da segurança no Sudeste Asiático.
“O Japão trabalhará com várias nações para criar uma região Indo-pacífico livre e aberta. Essa é a ideia que temos”, disse o secretário-chefe de gabinete do Japão, Kato Katsunobu, em uma coletiva de imprensa na quarta-feira.
Esta semana, a Força de Autodefesa Marítima do Japão está conduzindo exercícios no Mar da China Meridional com a Marinha dos EUA. E no fim de semana, o Japão conduziu um exercício de guerra anti-submarino próprio no Mar da China Meridional e, em seguida, fez uma escala na baía de Cam Ranh, no Vietnã.
A China criticou a conduta japonesa. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, disse a repórteres em Pequim na segunda-feira: “Esperamos que o país em questão não faça coisas que prejudiquem a paz, segurança e estabilidade regionais”.
Esses comentários foram feitos enquanto o principal diplomata da China conduzia uma viagem por cinco países ao Sudeste Asiático nesta semana, visitando Camboja, Malásia, Laos, Tailândia e Cingapura.
O Ministro das Relações Exteriores Wang Yi aproveitou a ocasião para explodir o ‘Quad’, um agrupamento de quatro democracias Indo-pacíficas que inclui Japão, Austrália, Índia e Estados Unidos.
“O que o The Quad busca é alardear a mentalidade antiquada da Guerra Fria e estimular o confronto entre diferentes grupos e blocos e iniciar uma competição geopolítica”, disse ele em uma entrevista coletiva em Kuala Lumpur. “Nesse sentido, a estratégia em si é um risco à segurança. Se for forçado seu avanço, isso retrocederá o relógio da história.”