O Departamento de Estado está aumentando as restrições às atividades apoiadas pelo governo comunista chinês em solo americano.
O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, pediu que, até o final do ano, as universidades americanas que acabem com a prática de ter Institutos Confúcio, centros culturais e de ensino de línguas financiados e administrados por Pequim, incorporados em seus câmpus.
Embora os institutos se autoproclamem centros culturais chineses, eles também policiam a retórica sobre a China, de acordo com grupos de direitos humanos e o governo dos EUA.
O Partido Comunista Chinês (PCC) opera os Institutos Confúcio em todo o mundo, com mais de 75 nos Estados Unidos — 66 em câmpus universitários dos EUA — e mais de 500 programas em salas de aula dos ensinos fundamental e médio dos EUA.
.@SecPompeo: The [Chinese Communist] Party has always put itself first. Its actions flow from its ideology. And it’s paranoid about free societies like ours. pic.twitter.com/Ir9jCEP10d
— Department of State (@StateDept) August 17, 2020
Segundo a Radio Free Asia (RFA), enquanto Pompeo detalhava as novas restrições às atividades patrocinadas pelo Estado comunista chinês nos EUA, a Universidadedo Norte do Texas (University of North Texas) revogou os vistos de cerca de 15 estudantes com financiamento público da China.
Pompeo disse à Fox Business Network em 1º de setembro que o governo comunista chinês estava financiando os Institutos Confúcio e recrutando espiões nos câmpus universitários americanos.
“Acho que todos estão vendo o risco associado a eles”, disse Pompeo à rede. “Acho que essas instituições podem ver isso, e tenho esperança de que todos eles [Institutos Confúcio] sejam fechados antes do final deste ano”, disse Pompeo.
No mês passado, Pompeo denominou o centro que administra os Institutos Confúcio nos Estados Unidos de “uma entidade que promove a propaganda global e a influência maligna de Pequim” e exigiu que eles fossem registrados como uma missão estrangeira da RPC (República Popular da China).
Ele disse em uma declaração oficial de 2 de setembro: “O Departamento de Estado agora exigirá que diplomatas seniores [chineses] nos Estados Unidos recebam aprovação para visitar os câmpus universitários dos EUA e se reunir com funcionários do governo local.”
Os eventos culturais com um público superior a 50 pessoas hospedados pela embaixada chinesa ou outras missões também exigirão a aprovação do governo americano, disse o comunicado.
“O Departamento de Estado também tomará medidas para ajudar a garantir que todas as contas oficiais da embaixada [chinesa] e da mídia social consular sejam devidamente identificadas como contas do governo [chinês]”, conta no documento.
Centros de lobby
Xia Ming, professor de Ciências Políticas da Universidade de Nova York, disse que uma vez foi abordado pela embaixada chinesa para ajudar a estabelecer um Instituto Confúcio em sua universidade, mas recusou. Ele disse à Radio Free Asia que os institutos também funcionam como centros de lobby que representam o ponto de vista de Pequim para as autoridades universitárias.
“Uma vez criados, os Institutos Confúcio passam a ser formados por Pequim”, disse Xia. “No caso de uma questão política importante, [Pequim] exigirá que os Institutos Confúcio pressionem os líderes universitários de dentro.”
Ele disse que as questões consideradas problemáticas por Pequim podem incluir o convite do líder espiritual tibetano exilado, o Dalai Lama, para falar no câmpus.
Ele disse que os acadêmicos em câmpus no exterior são frequentemente persuadidos por interesses pessoais a não se manifestar sobre assuntos que mostram o Partido Comunista Chinês sob uma perspectiva ruim.
“Há alguns professores nas universidades que estão efetivamente atuando como uma espécie de cavalo de Tróia [para os interesses chineses] por causa de seus interesses pessoais”, disse ele.
Entre esses interesses estão o financiamento de pesquisa proveniente da China, a ameaça de boicote por estudantes chineses ou a negação de vistos necessários para visitas de pesquisa à China, disseram fontes acadêmicas por meio da mídia social.
Enquanto o Departamento de Estado dos EUA aumentava as restrições aos pesquisadores chineses, a Universidade do Texas (University of North Texas – UNT) disse que estava encerrando um programa de intercâmbio com cerca de 15 pesquisadores chineses com financiamento público.
A decisão de 26 de agosto acaba efetivamente com os vistos dos pesquisadores, dando-lhes até o final do mês para deixar o país.
A universidade “decidiu encerrar seu relacionamento com acadêmicos visitantes”, disse a carta. “Como resultado dessa mudança, o acesso ao e-mail, servidores e outros materiais da UNT foi encerrado.”
O porta-voz da UNT, Jim Berscheidt, disse ao Denton Record-Chronicle que a decisão “não afeta nenhum aluno matriculado e estudando na universidade”. Ele disse que a escola continua a receber estudantes visitantes de todo o mundo, incluindo a China.
Cidadãos chineses com financiamento privado que estudam na UNT não foram afetados pela decisão, informou a Reuters.
Cobertura para espiões
De acordo com Xia Ming, o aparato de segurança do Estado da China é conhecido por usar programas de estudantes visitantes como cobertura para o envio de seus espiões às universidades dos EUA.
“Acho que 5 ou 10 em cada 100 deles são funcionários designados pela agência de segurança do Estado, o Estado-maior [do Exército de Libertação do Povo] ou espiões de outras agências ou de diferentes províncias e cidades para se infiltrarem [no programa]”, disse Xia .
“O governo chinês sabe disso muito bem e sabe que os EUA também sabem disso.”
Em 2014, havia mais de 480 Institutos Confúcio em dezenas de países e em cinco continentes. O Ministério da Educação da China (Hanban) pretende estabelecer mil Institutos Confúcio até 2020.
Institutos Confúcio no Brasil
No Brasil, há Institutos Confúcio instalados em instituições de ensino superior públicas e privadas, nas cinco regiões do país: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade de Brasília (UNB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de Pernambuco (UPE), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade do Estado do Pará (UEPA), Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO) e na Universidade Federal de Goiás (UFG).
Uma das universidades que têm maior proximidade com o Instituto é a UNESP.