Uma tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) pode reverter a desertificação da Caatinga. Desenvolvida pela professora Gislene Ganade, a técnica consiste em usar mudas de raízes longas apoiadas por tubos e plantá-las em locais individualmente hidratados. Dez bolsistas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) fazem parte da equipe.
No projeto, o grupo de pesquisa fez sobreviver a maioria das árvores plantadas em uma área de 3,5 hectares da Floresta Nacional de Açu (RN), mesmo nas piores secas. Em 2015, as Nações Unidas reconheceram a contribuição do projeto com o selo Dryland Champions. A pesquisa é o primeiro projeto sul-americano do TreeDivNet, um consórcio internacional que estuda a importância da diversidade vegetal para o plantio de florestas.
Os experimentos começaram em 2013. “Testamos diversos métodos: usamos plantas altas, baixas, de raízes curtas, longas, e até consórcio de plantio de arvores com agricultura, a chamada agrofloresta”, conta a professora Gislene, que foi bolsista da CAPES no doutorado na Inglaterra. Os testes levaram a descobertas fundamentais: as espécies mais adequadas para a restauração, e também novas técnicas de plantio.
Algumas árvores, como a jurema preta (Mimosa tenuiflora), ajudam no crescimento de outras plantas ao redor. Mudas de árvores altas, mas que possuam raízes longas de um metro, acumulam reservas de nutrientes e são capazes de alcançar a água em locais mais profundos do solo, resistindo melhor ao clima seco, explica a professora. “Para contornar a seca, os locais receberam água no momento do plantio das mudas. Dessa forma, elas conseguem sobreviver sem irrigação até a estação chuvosa seguinte”, detalha a bióloga.
Na segunda fase, iniciada em 2016, a técnica teve aplicação em larga escala com diferentes níveis de diversidade de árvores. O resultado surpreendeu os cientistas: mais de 70% das mudas sobreviveram, mesmo plantadas durante uma das piores secas da década. O esperado era 30%. Agora os pesquisadores finalizam um estudo que projeta como mais de 600 plantas da Caatinga vão responder às alterações climáticas previstas até o ano de 2070.
“Esse é um trabalho que entrelaça educação e ciência, com alunos da graduação, mestrado, doutorado e profissionais de pós-doutorado se unindo e trocando experiências para a solução de problemas importantes para o país”, diz a ecóloga. “Sem esse grupo de bolsistas esse trabalho não seria possível! Portanto, o financiamento da CAPES é essencial para a formação técnica especializada e a produção cientifica estratégica do Brasil”, completa Gislene.
Com informações, CCS/CAPES.