Por Rodolfo Haas
Orlando Morais Jr nasceu há 46 anos em Marialva, no norte do Paraná. “Vim para Mato Grosso ainda criança. Meus pais participaram daquela leva de sulistas que migraram para cá na década de 70”, ele recorda. No ano 2000, ele se formou em jornalismo pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).
“Atuei em jornal impresso, sites e secretarias de comunicação da prefeitura de Cuiabá e do governo de Mato Grosso”. “Mas se o assunto for formação, garanto que só comecei a aprender alguma coisa depois que descobri os artigos do Olavo de Carvalho, quando ele ainda escrevia para a extinta revista Bravo!. Foi um divisor de águas em minha vida, seja pessoal, seja profissionalmente. Mais do que jornalista, hoje me considero um iniciante em filosofia”.
Na entrevista, concedida à equipe do movimento Docentes Pela Liberdade (DPL), o diretor-executivo do portal O Livre comenta os objetivos do veículo – e também avalia o cenário geopolítico em tempos de pandemia.
[Em tempo: A conversa com o professor faz parte de um esforço do movimento Docentes pela Liberdade (DPL) em trazer pensadores competentes e capazes de agregar análises relevantes para o cenário nacional. As opiniões expressas na entrevista não reproduzem, necessariamente, as posições do DPL ou Conexão Política.]
Quais são os objetivos de O Livre?
O Livre nasceu há pouco mais de quatro anos em Cuiabá, fruto de uma amizade e parceria entre Pedro Neves, um empresário defensor das liberdades de expressão e da economia, e o grande jornalista Augusto Nunes. Depois o Augusto deixou o site em razão da falta de tempo e da distância, mas a linha da ética e da defesa das liberdades permanece. O site foi criado para ser um contraponto ao jornalismo raso, uniforme e sem graça praticado por tantos por aí.
Temos uma linha conservadora, liberal e tentamos dar voz a fontes fora do circuito governo-legislativo-ministério público. Vigiamos os abusos de autoridade, os aumentos de impostos, os casos de corrupção. Entendemos que os servidores públicos devem estar a serviço da sociedade – e nunca o contrário.
Regionalmente, o Livre é bem diferente dos demais veículos – não só pela abordagem dos assuntos que trata, mas também por temas que faz questão de não tratar, porque não se deixa seduzir por lobbies de ongs, sindicatos e associações de classe. Apoiamos a livre iniciativa.
Em termos de política internacional, a China e os Estados Unidos parecem acirrar a disputa por espaço em diferentes pontos do planeta. Como o senhor avalia esse cenário?
Acredito que haja pelo menos dois aspectos a considerar nessa questão: o primeiro é o da escancarada guerra comercial entre os dois países, que já dura no mínimo duas décadas e tem consequências diretas na economia de dezenas de outros países, o Brasil incluído.
Nesse aspecto, é curioso ver que os empresários brasileiros, imediatistas, de um modo geral são mais favoráveis a negociações com a China – já que ela não nos pede nada além de commodities, enquanto que os EUA exigem produtos com um maior grau de inovação, algo em que pouco investimos por acomodação, falta de competência e também pelo custo Brasil. Em outras palavras: negociar com os EUA nos força a elevar o patamar de nossa economia, enquanto que negociar com a China nos impele a não sair do lugar.
O outro aspecto é o da guerra cultural, que é muito mais importante e, em termos históricos, está apenas começando. Tudo indica que a estratégia chinesa é ir influenciando países periféricos e isolar os americanos. Também nesse campo teremos que decidir se queremos ser uma Taiwan ou uma Venezuela. Estar ao lado de uma nação que defende as liberdades individuais, ou de uma ditadura comunista. Com Bolsonaro o Brasil está tendo a oportunidade de se recuperar na área internacional, porque com os governos petistas só passamos vergonha.
Qual sua avaliação sobre o desempenho do presidente Jair Bolsonaro?
Dado que está praticamente sozinho, que enfrenta adversários fora e dentro do governo, que o sistema político e a legislação brasileira foram criados para que o país não dê certo e que tem sido vítima de uma campanha criminosa que mistura difamação, boicote, chantagem e má-fé, seu desempenho é excelente. Mesmo com pés e mãos atados – e não podendo sequer expressar suas opiniões –, seu governo tem mostrado resultados como nenhum outro em décadas. Graças a Deus a imensa maioria da população reconhece isso, pois de outro modo já o teriam derrubado.
Como o senhor vê os embates entre o presidente e o STF? Por que o poder Judiciário tem se mostrado tão disposto a interferir na gestão do Executivo?
O STF e adjacências como o TSE, agora vemos da maneira mais clara possível, são as últimas esperanças de sobrevivência de um sistema corrupto que vem governando o país desde a Proclamação da República, salvos raríssimos períodos de exceção. Criminosos das mais variadas estirpes têm encontrado abrigo no STF – que tenta minar o presidente porque ele já se mostrou ser a pedra no sapato do sistema. Assim como boa parte do Congresso e a chamada “grande imprensa”, os ministros do STF tentarão boicotar o Governo Bolsonaro enquanto ele estiver no Palácio do Planalto – já que derrubá-lo de uma vez lançaria, de imediato, milhões de brasileiros nas ruas, num ato sem data para acabar e com consequências imprevisíveis.
A respeito da pandemia: o que poderia ter sido feito diferente no Brasil?
Acredito que nada, pois nossas “otoridades” país afora se mostraram as mais perdidas, as mais arrogantes, as mais covardes e as mais aproveitadoras de todo o mundo. Sempre soubemos que nossos políticos, e sua grande maioria, eram covardes e egoístas, mas essa crise mostrou a que nível isso se dá. Com poucas exceções, prefeitos e governadores estavam mais preocupados em receber recursos federais e em tomar medidas que não afetassem suas respectivas imagens. Já em nível federal creio que faltou, desde o início, a divulgação diária dos números de casos e mortes por outras doenças, não só da covid-19. Isso daria a dimensão exata da gravidade desta doença e diminuiria as inúmeras ocorrências de fraude nos números de óbitos por covid-19, que evidentemente estão sendo inflados.
Como o senhor avalia o futuro do Brasil no pós-pandemia? Que mudanças trazidas pela Covid-19 deverão permanecer?
É difícil prever alguma coisa. Estou entre aqueles que esperam o melhor, mas se preparam para o pior. É claro que teremos que lidar com alguns fatos, como o fechamento de milhares de empresas, o aumento do desemprego, a quase-morte do jornalismo e o acirramento da guerra cultural entre establishment burocrático versus conservadores.
Em diversos aspectos, como o político e o econômico, estamos voltando ao estágio de dois anos atrás. Em economia, pelo menos, creio que as taxas de juros no atual patamar e a aprovação de uma reforma administrativa podem nos fazer voltar a crescer rapidamente. O brasileiro é trabalhador e precisa de muito pouco estímulo para reagir. Se a classe política e os setores podres do funcionalismo público e do Judiciário atrapalharem menos, decolamos.
É ano de eleições nos Estados Unidos. Como o senhor avalia os dois cenários, da vitória de Donald Trump e da vitória democrata?
É difícil avaliar, porque os Estados Unidos ainda são um país que se vira muito bem independentemente de Washington. De um modo geral, os republicanos trabalham para que continue assim; já os democratas tentam criar mecanismos para que a população fique cada vez mais dependente do poder central. De uma maneira bem simplista, são esses os dois cenários em caso de vitória de um ou outro lado.
A Constituição americana é muito forte, pois protege as liberdades individuais (bem ao contrário da brasileira – que distribui inúmeros “benefícios” sobrecarregando quem empreende e tolhendo a liberdade de todos).
É óbvio que torço para que Trump leve novamente. Seria muito bom para o mundo ocidental e para o Brasil. Significaria também que a benfazeja onda conservadora, que começou a varrer o mundo há cerca de sete ou oito anos, continua de pé.