Imagem: Reprodução Ilustrativa
Venho acompanhando a “guerra de narrativas” que se estabeleceu desde o momento que a imprensa noticiou a bárbara e covarde execução da vereadora Marielle Franco, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL/RJ).
Na condição de carioca preocupada com o caos que se implantou na segurança pública do meu querido Rio de Janeiro, é lógico que fui impactada com os desdobramentos de um crime que – vergonhosamente, devo reconhecer – representa a “normalidade” dos índices de violência que estimularam o presidente Temer a promover intervenção federal, que veio a ser impugnada no Judiciário pelo partido de Marielle, usual crítico das forças policiais, porém, silente em relação ao poder paralelo e consequentes atrocidades promovidas pelo tráfico contra moradores acuados em favelas.
Cabe salientar que acessei a página oficial do PSOL e não havia no informativo denominado “resoluções” crítica ou denúncia contra os traficantes que impõem terror em seus “reféns encarcerados” nas comunidades carentes.
De modo que, a princípio, o partido não vê a ação do tráfico como “opressão”. Por que será?
Lembro que minha primeira manifestação nas redes que gerou mais de 3,3 mil compartilhamentos externou a revolta de uma cidadã – não uso rótulos vitimistas – que leu em jornais a notícia da execução da vereadora sem menção do nome do motorista que foi tão “vítima” da violência quanto Marielle.
Ora, pensei: “por que esse “pai de família desempregado” que representa milhões de brasileiros na mesma condição foi tratado inicialmente como “invisível” pela mídia e movimentos esquerdistas? Por que, seu “cadáver” não pôde ser aclamado nos comícios montados pelos movimentos de esquerda como “símbolo dos oprimidos pelas classes dominantes”?
Daí, escrevi no meu Facebook: “Ainda não vi consternação pela morte do motorista, deve ser porque não era ‘mulher negra’. Era só um trabalhador”.
Tenho certeza absoluta que todos aqueles que compartilharam meu post acreditam piamente que num contexto de violência endêmica, não existe “cadáver mais especial que outro”…
Nesse sentido, vejo uma “comoção artificial” gerada pela imprensa e movimentos sociais que tentam a todo instante apresentar a vereadora não somente como uma defensora dos direitos humanos, mas, também uma heroína defensora dos policiais, muito embora a mesma conclamasse aguerridamente o “fim da polícia” e acusasse – sem provas – policiais de comentimento de crimes como no sua última manifestação nas redes, que atribuía a morte de um jovem a uma possível ação da polícia . No entanto, atrocidades promovidas pelo tráfico não geravam a mesma revolta em tom de denúncia.
Aliás, até a pauta de “direitos humanos” evocada pela mídia segue uma agenda progressista no mínimo “discutível”. Afinal de contas, será que para a maioria da população brasileira, a defesa do aborto e da liberação das drogas, além de outras pautas defendidas por Marielle, seriam compatíveis à benemérita seara dos direitos humanos? Porém, num ambiente raivoso onde todos aqueles que não comungam do “ditoso padrão comportamental” estipulado por “acadêmicos de Frankfurt”, analisar fatos desnudando narrativas distantes da natureza supostamente humanitária, já é o suficiente para ser rotulado de forma negativa com ofensas inexprimíveis.
Qualquer crítica ao uso político da morte da veredadora para fortalecimento de uma agenda ideológica altamente perniciosa justifica ofensas e acusações das mais variadas. Parece que os simpatizantes dos partidos de esquerda esquecem que as últimas décadas dominadas por suas “pautas humanistas” propiciaram a degredação da segurança pública.
Contudo, confesso que o apelo emocional promovido pela imprensa e a argumentação desenvolvida nas redes tem lá o seu poder sedutor. Li um post no Facebook que retrata bem isso…
Um rapaz afirma que a vereadora mereceu a comoção gigantesca orquestrada pela mídia e grupos de esquerda, que teriam se manifestado nas ruas por causa da sua “representatividade”.
Ela seria um “símbolo” pelos seguintes fatos: era VEREADORA, MULHER, NEGRA e LÉSBICA. Ou seja, se ela não tivesse preenchido essas “condições”, sua morte não teria o condão de arregimentar multidões.
Mas será que a “motivação” da consternação e revolta dos vândalos que picharam a Câmara Municipal do Rio de Janeiro era realmente em virtude do simbolismo que a Sra. Marielle trazia consigo? E as milhares de pessoas que também se manifestaram sem depredar o patrimônio público?
Em sendo verdadeiro o argumento da “carga simbólica”, a expressão de revolta contra as mazelas sociais está limitada ao aspecto das “categorias” que sofrem a violência. Se a “vítima” de criminosos cada vez mais audaciosos nas ações de barbárie não pertencer às categorias já estabelecidas por “sociólogos bacaninhas” como “minorias perseguidas pelas elites brancas”, haverá toda uma conjugação de esforços da imprensa, movimentos sociais e líderes partidários da esquerda para minimizar o impacto da desgraça como se uma parte da população dizimada pela violência, que é geral, fosse mais “desgraçada” que a outra parte que deu o “azar” de não ter nenhum “atributo simbólico”.
Assim, fica muito complicado tentar levar as pessoas à seguinte reflexão: Marielle não morreu por ser mulher, negra, ex-favelada e lésbica. Ela morreu, possivelmente, em função das atividades que desempenhava pelo cargo público que ocupava, e nesse aspecto, há necessidade de investigação para identificar e punir com todo rigor da lei os criminosos, lembrando que é muito precipitado chamá-la de “mártir” sem haver aferição das cisrcuntâncias que levaram ao crime, sob pena de culpar antecipadamente a polícia, costume banal dos movimentos de esquerda que agem ao arrepio da lei com a presunção antecipada de culpa por parte dos policiais, eleitos “verdugos das favelas”.
Um fato curioso é que o assassinato de autoridades políticas, judiciárias ou de candidatos a cargos nos poderes Executico e Legislativo não mereceu a elaboração de estatísticas oficiais em nosso país, mas nas eleições em 2016, entre junho e setembro, 45 políticos brasileiros foram alvos de ataques a tiros, dos quais 28 morreram, 15 durante a campanha. Números assustadores, não? Nenhum caso despertou revolta ou comoção da esquerda, que estranhamente “abafou” o escândalo da execução do prefeito Celso Daniel (2002), de Santo André, e de algumas testemunhas. Celso Daniel era um dos homens mais carismáticos do PT e cogitado para sucessão de Lula. Após sua execução, alguns petistas denunciaram o assassinato como “crime político” tal qual estão fazendo em relação à vereadora, embora não haja ainda robusta evidência endossando essa hipótese. Porém, com o desenrolar das investigações, o PT passou a advogar a tese de “crime comum” numa tentativa desesperada de silenciar a repercussão do caso que enxovalhava a imagem do partido. Celso Daniel passou a ser um “fantasma incômodo”.
Todavia, até o momento, o “caso Marielle” vem servindo a contento como bandeira política para o PT, PSOL e demais partidos de esquerda, já que a vereadora assassinada conta com maciço apoio midiático destacando sua luta por direitos humanos. Realmente, melhor “símbolo” não poderia existir… Marielle era apresentada como a favelada que venceu a estigmatização da população negra e pobre alcançando um lugar ao sol na “Casa do Povo” junto ao partido que denuncia policiais e milícias, mas não costuma expressar repúdio às atrocidades do Comando Vermelho.
Aos “gritos de guerra” das lideranças políticas e da mídia, milhares de pessoas foram às ruas e a militância passou a reverberar suas pautas, promovendo tácita e inconscientemente a defesa da liberdade necessária para o tráfico continuar agindo impunemente sem as “ações paliativas” da intervenção federal. Afinal, essa era uma das “lutas” da vereadora-ativista de extrema-esquerda que via no efetivo policial o maior inimigo das favelas.
Como todo ente corporativista, as esquerdas elegeram a vereadora como “mártir” num momento em que precisavam forjar uma “situação política favorável” para implementar sua agenda bolivariana extinguindo as polícias militares. A comoção anula qualquer tentativa de racionalidade para enfrentamento do crime organizado que se agigantou graças às políticas paternalistas de governos esquerdistas que resultaram na explosão de violência que assola o estado.
Interessante, que auxiliares da Procuradora Geral da República Raquel Dodge alegam semelhança entre as execuções de Marielle e da juíza Patrícia Acioli, executada cruelmente na porta de sua casa em Niterói (RJ), com 21 tiros – a maioria no rosto e no tórax – no ano de 2011. Lógico, que ninguém lembrou que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro negou pedido de proteção policial para a juíza que enfrentou bravamente a corrupção em determinados seguimentos da polícia antes de ser assassinada.
Ao contrário da vereadora de extrema-esquerda, a execução da juíza que condenou pelo menos 60 policiais nos últimos dez anos de atuação no Judiciário, não levou multidões para as ruas tendo em vista o “descaso” dos movimentos de esquerda e “azar” de não ser retratada como “heroína” pela imprensa, que se esforçou para “arranhar” sua imagem tachando-a de “rígida”, “impulsiva dentro e fora do tribunal”, centralizadora, “obsessiva”, dentre outras “pérolas de demonização”. Elogios merecem apenas os infalíveis ativistas esquerdistas; os demais defensores de direitos humanos têm defeitos que devem ser salientados para que não se tornem “mártires” frente à opinião pública!
A mulher corajosa que aplicava a lei para condenação de grupos de extermínio, milícias e quadrilhas formadas por policiais teve apenas cerca de 450 pessoas acompanhando seu sepultamento. O movimento “Rio de Paz” fez um “protesto silencioso”, além disso, amigos e familiares fizeram um pequeno protesto em frente ao fórum de São Gonçalo. Quer fim mais inglório para a juíza que não preencheu os requisitos exigidos pela esquerda para alcançar o apogeu do martírio?
Nem mesmo os depoimentos de colegas de faculdade da juíza convenceram os partidos de esquerda e a mídia. Segundo essas “testemunhas solenemente ignoradas”, Patrícia mantinha a determinação com que lutava por seus ideais de faculdade: “defender os pobres contra a injustiça social”. Essa virtude que costuma ser “lema” nos discursos da esquerda de nada adiantou para a juíza, que enfrentou ameaças de morte com coragem digna de estadistas. Uma mulher branca elitizada “não combina” com essa “coisa engajada” que é defender pobres!
Assim, após o assassinado de Marielle, alguns jornalistas, militantes esquerdistas e membros da Procuradoria Geral da República ressuscitaram o cadáver da corajosa juíza sem elevá-la à heroína dos direitos humanos como vem fazendo com a vereadora.Tratou-se apenas de uso estratégico de um ato covarde de violência para ratificar as teses que reforçam convicções que precedem às investigações. Recordemos que a juíza foi morta por policiais.
No entanto, em minha memória, Marielle jaz como um ser humano e parlamentar que teve a vida ceifada covardemente em circunstâncias ainda não esclarecidas, mas de todo abomináveis que merecem não apenas investigação e punição exemplar, mas também, REPÚDIO dos cidadãos de bem que abominam a violência que mata independentemente da cor da pele, gênero, profissão ou classe social.
De fato, Patrícia é a “mártir” desprezada pela imprensa, intelectuais e militância de esquerda por não ter pertencido aos quadros do partido que sequestrou o conceito de “direitos humanos” e dita arrogantemente as “regras” quanto aos merecedores de “reconhecimento post mortem” num tempo em que a violência não escolhe vítimas segundo os modelos de segregação formulados por humanistas seletivos.
Assim caminha a desumanidade, “Marielle vive” e “Patrícia Acioli morre” nos anais do esquecimento.