Quando me preparava para escrever este texto, fiquei em dúvida sobre como deveria nomeá-lo. Estive tentado a decidir pelo título “Alguns equívocos acerca do comportamento cristão”, mas este me pareceu muito acadêmico e a intenção desta coluna é expressar opiniões de jeito bastante simples, tanto possível para torná-las acessíveis ao maior número de leitores, de qualquer camada do público.
Neste intuito, resolvi adotar como título um questionamento que me é feito de modo recorrente e que creio também já ter sido feito a vários pelo mundo afora, em especial nos países de tradição cristã: – Mas, você é realmente Cristão?
E esta pergunta, não raro, é sempre colocada em contraponto ao comportamento que você e eu expressamos diante de determinada situação cotidiana. E sempre é colocada em tom de desaprovação, tal como significasse: – Com esta postura, você é mesmo Cristão?
Não me causa espanto que este tipo de pergunta seja dirigida apenas aos cristãos. Já ouviu algo parecido em relação aos budistas, aos islamitas ou aos integrantes de outras religiões? A questão é bastante simples de responder e mais óbvia do que parece ser. Vejamos!
Que religião forneceu os valores, o alicerce para todo o mundo ocidental? Que religião tem seguidores perseguidos em todos os continentes e que tal fato pouco ou quase nada importa aos defensores da liberdade religiosa, do laicismo dos Estados?
Creio ser deliberada a tentativa de nos moldar o comportamento, cerceando reações e nos impondo o estereótipo de que, mesmo quando agredidos, deveremos “oferecer a outra face”, sermos inertes, passivos, pois de modo diverso não seríamos “verdadeiros cristãos”.
Ora, nada mais falacioso! Dar a outra face não significa aceitar quaisquer agressões, físicas ou morais, e injustiças sem reagir à altura com base em nossos valores. Se assim procedermos, negaremos a própria essência do Cristianismo. Dar a outra face, para mim, significa justamente mostrar porque sou diferente daqueles, não igualar-se, não atraiçoar, valer-se dos mesmos subterfúgios, ver o mundo pelo mesmo prisma. Entretanto, isso não significa não estar atento para perceber as maldades do outro que devem sim ser percebidas, não para serem imitadas, para responder na mesma moeda, mas, tão-somente, para não sermos vítimas fáceis.
E o perdão, onde fica? – é comumente a pergunta feita logo em seguida. Perdoar não significa esquecer, aceitar ou não sofrer por tudo o que nos imputarem, verdades ou não. É dizer vá, siga o teu caminho e não atentes mais contra mim e os meus. E mantemos, em nosso íntimo, o alerta: bem sei do que és capaz e, por te conhecer, saberei como me defender, assim como aos meus!
A tentativa de nos moldar segundo estereótipos, planejados e ardilosamente estabelecidos para que respondamos de modo a atender a uma agenda do politicamente correto, nada mais é do que nos colocar em posição similar à de um rebanho manso, inerte, silente e confortavelmente acomodado à espera do sacrifício, resignado, como se fosse possível alterar o seu próprio destino e o destino dos seus.
Vários são os equívocos comportamentais de um Cristão que se comporta como tal. Vejamos!
Manso não significa ser submisso às orientações que emanam de valores outros que não os princípios da própria doutrina cristã. Entre as demandas do mundo externo e a consciência interior, assentada nesses princípios, fique sempre com sua voz interior. A altivez vem da confiança nesses princípios!
Ser inerte, passivo, é admitir que outros sejam os protagonistas de nossas escolhas e, desta feita, de que caminhos seguir é aceitar o futuro que virá. Não, isso não é fé, pois fé, para mim, é fixação na verdade e a verdade está na doutrina Cristã!
Silente… ah, uma das maiores falácias da atualidade é o dever de silenciar para não gerar conflito com os demais.
– Releve, este é o jeito dele(a)!
E, assim, transferem para quem ouve ou recebe a injusta agressão o dever de não gerar conflito, para não “machucar” aquele que lhe profere as ofensas. Grave equívoco! Por duas razões:
i) Silenciar não contribui para que o agressor possa modificar o seu comportamento, para a sua evolução enquanto ser humano. E sequer leva-o(a) à reflexão acerca de seus atos, suas palavras, do mal que a outros posa causar;
ii) E sem esta necessária reflexão, continuará acreditando ser detentor do poder de ferir sem limites, até mesmo de causar a morte daquele que não reagiu, que calou, que consentiu sem limites.
Não faltam exemplos de uma juventude que pouco se importa com o outro, que não sentem remorsos com as agressões causadas aos demais, pois não os reconhecem como sujeitos detentores de direitos, pois cresceram acreditando – equivocadamente – que apenas eles os têm.
Por fim, resta explicitar o significado de “se acomodar”. Acomodar é ter medo de enfrentar o que é devido enfrentar. Creio que, em última instância, signifique negar a si mesmo, seus valores, o que nos é mais precioso, pois a nossa fé e a família como o núcleo de uma sociedade saudável se encontram entre o que deve ser defendido incondicionalmente. Acomodar seria aceitar a destruição de nós mesmos, do rebanho cristão, enquanto o que se espera e dignificaria cada um é justamente agir como o Bom Pastor!
Os Cristãos não foram chamados para serem passivos. Muito pelo contrário, antes para serem agentes ativos de transformação mediante a pregação do evangelho, pois através deste a salvação é levada a todos os homens. Conforme registrado em Marcos (16:15), nos foi ordenado pelo Senhor: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura”.
Assim, cabe-me perguntar ao leitor: – E então, você é mesmo Cristão?