Várias empresas, incluindo Gilette, Bavaria, Zespri e a rede de supermercados Albert Heijn (AH), interromperam imediatamente o tempo de publicidade durante o programa esportivo Veronica Inside, de canal de TV holandês. As marcas decidiram isso por pressão de um grupo intolerante que reclamou das opiniões críticas dos comentaristas do programa, Johan Derksen e René van der Gijp, a respeito dos protestos do movimento Black Lives Matter.
Na transmissão do programa na segunda-feira (15), os comentaristas afirmaram que o racismo na Holanda “não era tanto assim”.
“Acho que estamos exagerando totalmente na Holanda”, disse o comentarista esportivo Derksen.
Johan Derksen comentou sobre um rapper holandês negro chamado Akwasi- que durante um protesto do Black Lives Matter em Amsterdã, proferiu um discurso sobre racismo. Ele também falou sobre um outro holandês – que vestido de ‘Zwarte Piet’ (personagem negro do folclore holandês de uma data festiva de 5 de dezembro) – foi a um protesto do BLM na cidade de Leeuwarden para protestar contra o movimento. Os comentaristas chamaram o homem vestido de ‘Zwarte Piet’ na demonstração de “herói”, por ter a coragem de expressar sua opinião contrária ao protesto; e fizeram uma piada: “Temos certeza de que [Zwarte Piet] não é o Akwasi?”
Nos dias seguintes após o programa, alguns artistas holandeses e jogadores de futebol criticaram Derksen através das mídias sociais; e pressionaram empresas que anunciam no horário do programa Veronica Inside a retirarem seus comerciais.
A empresa Zespri reagiu e disse que entende o “ultraje e o ódio” que surgiu principalmente nas mídias sociais. “Nós nos distanciamos expressamente dele e não queremos mais anunciar em torno deste programa. Essas afirmações estão erradas e contrárias aos nossos valores. A Zespri é uma marca focada em pessoas, conexão e inclusão; e nos esforçamos por um mundo melhor”, afirmou a marca de kiwi em comunicado.
A Gillette também afirmou que não quer anunciar em torno do programa de futebol. “Como parte de nosso planejamento geral de mídia, nossa publicidade pode estar presente no intervalo comercial. Distanciamo-nos das declarações feitas no programa e não apoiamos nenhuma mensagem que possa prejudicar as pessoas com base na cor da pele, sexo, opinião ou orientação sexual. É por isso que pararemos imediatamente de anunciar esse programa “, disse um porta-voz da empresa.
A rede de supermercados Albert Heijn também se distanciou das declarações de Derksen. “Não há lugar para discriminação em Albert Heijn. Para constar: não somos patrocinadores deste programa de TV e paramos de divulgá-lo “, afirmou a rede de supermercados.
A Bavaria disse em uma resposta que rejeita qualquer forma de racismo. “Não corresponde ao que a Bavaria representa como marca. Somos uma empresa familiar e queremos aproximar as pessoas…acreditamos que a afirmação de Johan Derksen não é uma brincadeira e vai longe demais.”
O porta-voz afirmou que a Bavaria “não é responsável pelas declarações feitas por um indivíduo à mesa do programa de discussão Veronica Inside”. “Nós nos distanciamos disso se for desnecessariamente prejudicial e depreciativo”. O contrato de patrocínio entre a marca de cerveja e o ‘talk show’ de futebol expira este mês e não será renovado. “Isso já foi decidido e não tem nada a ver com as declarações de Johan Derksen”.
Empresas como Gamma, Toto, KPN e SNS Bank, entre outras, indicaram que querem ou estão conversando com o canal de TV ‘Veronica’ sobre as palavras de Derksen.
O canal TV holandesa ‘Veronica’ anunciou que não falaria com Derksen sobre suas declarações. “As declarações no VI [Veronica Inside] estão por conta das pessoas na mesa”, disse o canal. No entanto, o Veronica disse que era “contra machucar deliberadamente pessoas ou grupos populacionais”.
O comentarista Derksen se defendeu das acusações. “Sabe, estou sentado lá para expressar minha opinião e continuarei até o último suspiro”, respondeu Derksen.
Derksen não está preocupado com a sobrevivência do programa. “Esse não é o meu departamento. Esta é mais uma tempestade em um copo de água. Amanhã criarão outra confusão. Isso geralmente é o que acontece. Aí, as pessoas começam a reclamar três dias após o nosso programa. E os caras dos comerciais de empresas pensam: ‘não podemos ficar para trás, mas ei, isso não é comigo’”.
Derksen não tem mídias sociais. “Não, não estou ansioso para ver o que todas aquelas pessoas loucas na Holanda pensam. E todos aqueles famosos holandeses que têm uma opinião sobre isso…são ressentimentos que vêm à tona. Mas isso não é um problema. Eu tenho uma opinião, eles também podem ter a deles.”
O comentarista não se arrepende do que falou. “Há 22 anos volto para casa após a transmissão, e às vezes penso: ‘não deveria ter dito isso’, mas na verdade, não achei a piada que fiz tão ruim…”
“Bem, você pode pensar que é uma piada de mau gosto, mas isso será uma preocupação minha”, continua ele. “Se você assistiu ao programa inteiro, sabe que nos distanciamos do conceito de racismo. Agora – porque retiraram um pedaço de vídeo fora do contexto – você é classificado como ‘racista’. De qualquer forma, uma semana eu sou o ‘homofóbico’, na próxima, ‘racista’.”
Segundo o comentarista esportivo, em seu contrato com o canal de TV Veronica, lhe é garantido “poder dizer tudo e falar sobre todos”. O único limite estabelecido pela empresa de televisão foi “o limite para a pornografia infantil”.
Fonte: Het Parool e Veronica Inside.