Graves acusações contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, juntamente com o nome de outro velho conhecido da política, o “pastor” Everaldo Pereira, presidente do PSC – partido de Witzel -, prometem empurrar o político para o centro de um grande escândalo de corrupção.
Segundo reportagem da revista Veja, uma delação feita pelo empresário Arthur Soares, conhecido como “Rei Arthur”, acusado de ter subornado membros do Comitê Olímpico Internacional para votar a favor do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, coloca o governador como “Chefe Supremo” de um esquema feito para extorquir empresas prestadoras de serviço no estado.
As declarações estão com a Procuradoria-Geral da República (PGR), que recebeu uma proposta de acordo de delação do empresário.
O esquema seria de forma clássica: o governo alegando que não tinha dinheiro suficiente para quitar as dívidas com os credores, fez o Estado atrasar os pagamentos e assim acenou com a possibilidade de uma negociação e, por fim, surgindo com a proposta que, quem concordar em pagar propina ganha a preferência na fila do caixa.
Nos documentos revelados pela Veja, dois nomes surgem como destaques, o “pastor” Everaldo Pereira e o secretário estadual da Casa Civil e Governança, o ex-deputado federal André Moura, que é citado como o responsável pelas negociações para o recebimento da propina.
Arthur contou que teve certeza sobre a existência, a dimensão e os personagens envolvidos depois que foi alvo de pressão do governo. Ele revelou que tinha cerca de 100 milhões de reais a receber do Estado, mas que, em julho, seu irmão, Luiz Soares, foi avisado de que a dívida seria integralmente quitada desde que ele concordasse em pagar 20% do valor. Ele diz não ter aceitado e que, por isso, o contrato de sua empresa com o governo foi rompido.
A proposta, de acordo com Arthur Soares, teria chegado por intermédio de representantes do “pastor” Everaldo, uma figura influente no governo. Na época da suspensão do contrato, Luiz Soares procurou um advogado ligado ao chefe da Casa Civil em busca da “solução”.
Nesse encontro, André Moura teria reafirmado o pedido de propina e assegurado que, se o empresário topasse o acordo, o dinheiro seria liberado. As negociações seguiram até o dia 27 de dezembro, quando Arthur Soares diz ter aceitado a proposta e recebido R$ 8,6 milhões para a empresa Cor e Sabor, que fornecia alimentação para o sistema penitenciário, em troca do pagamento de R$ 1,7 milhão em seis parcelas ao Estado.
Arthur Soares não deu detalhes de como o dinheiro seria entregue ao secretário, mas disse que, àquela altura, já havia decidido colaborar com a Justiça e que aceitar o acordo era parte de uma estratégia para preparar um flagrante.
Em março deste ano, ele apresentou a proposta de delação à Procuradoria-Geral da República.
No relato, Arthur anexou documentos, e-mails e mensagens para mostrar que havia uma negociação de propina em andamento. Numa das mensagens, o empresário Sérgio Serrano, um ex-sócio de Arthur Soares que negociava a liberação dos pagamentos junto ao governo, escreve sobre um tal “chefe supremo”, que seria Witzel, segundo o delator.
O que dizem os envolvidos
André Moura disse nunca ter visto Arthur e só o conheceu pelas “falcatruas” que se tornaram públicas.
Já o presidente do PSC, Everaldo, defende a investigação de suspeitas de irregularidades e a punição dos envolvidos com base em provas. Em nota, ele destacou que “não responde pelo governo do Rio” e afirma “não ter relação com o empresário”.
Em nota, o governador do Rio, Witzel, disse que se colocou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele ainda reiterou o seu “respeito às instituições e apoia as investigações que estão sendo realizadas pelos órgãos de controle”.