”Atualmente uma das dificuldades que enfrentamos é que muitas vezes não há espaço nas universidades para esses pensamentos. Quem defende essas ideias é tachado por uma minoria barulhenta e autoritária de retrógrado, racista, fascista ou homofóbico.”
A UniLivres é uma união acadêmica que atua na defesa da liberdade de pensamento e expressão nas universidades. É o maior movimento estudantil que não se classifica de esquerda no Brasil, sua página no Facebook já chega a mais de 10 mil curtidas.
O Conexão entrevistou Bruno Kaiser, coordenador do UniLivres no Paraná. Confira a entrevista:
1. O que é e qual o principal objetivo da UniLivres?
A Associação Estudantil Universidades Livres, denominada UniLivres, é uma associação estudantil constituída na forma de sociedade civil organizada sem fins lucrativos, livre e independente, com autonomia administrativa e financeira, sem vinculação com partidos políticos, criada em 30 de julho de 2017, para representar os estudantes universitários de todo Brasil em prol de uma educação mais plural, justa e livre. A UniLivres não reconhece o monopólio, respaldado pela lei 7.395 de 1985, da União Nacional dos Estudantes – UNE como única entidade de representação estudantil do país. Há anos a UNE tem gasto energia apenas com questões políticas e partidárias, em função do aparelhamento por uns poucos partidos políticos que a comandam. A UNE se tornou apática, dominada por uma ideologia cega e desinteressada em lutar pelos estudantes. É hora de termos uma alternativa.
A UniLivres tem por finalidade:
- Representar os estudantes universitários do Brasil em prol de uma academia livre e de uma sociedade mais livre;
- Atuar como entidade democrática estudantil, repudiando as associações estudantis centralizadoras e monopolistas;
- Propor alternativas e buscar soluções para os problemas estudantis e educacionais brasileiros;
- Disseminar e defender os ideais de liberdade no ambiente acadêmico;
- Promover debates e incentivar o aperfeiçoamento do ensino, da pesquisa e da extensão no Brasil;
- Fornecer ideias e auxiliar os projetos de ativismo estudantil;
- Auxiliar na criação e gestão de grupos de estudos, ligas, empresas juniores e demais organizações estudantis nas universidades;
- Congregar e formar líderes estudantis que defendam um ambiente acadêmico mais plural, justo e livre;
- Defender a liberdade de expressão nos campi universitários brasileiros;
- Lutar pelo fim do aparelhamento de partidos políticos na formulação de projetos pedagógicos e na tomada de decisões do ambiente universitário;
- Manter relações e promover atividades conjuntas com associações congêneres, sempre que necessário e conveniente aos interesses e aspirações dos estudantes.
2. Vocês são conhecidos como a UNE de direita. Como é a atuação de um movimento estudantil no Brasil sem ser de esquerda nas universidades? A Hegemonia esquerdista está sendo quebrada?
A ideia de montar uma associação estudantil pró liberdade vai além da questão de se posicionar à direita ou à esquerda dentro do espectro político. Em função disso não nos consideramos como um grupo de direita ou esquerda. Esse modelo de avaliar é ultrapassado e limita muito o debate em todos os sentidos. O que levamos em consideração é o nível de centralização ou liberdade, focado especialmente no tema educação. Andamos no sentido contrário ao excesso de centralização na tomada de decisões, ou de perseguições político ou partidárias a estudantes e corpo docente, repudiamos atitudes discriminatórias em relação à etnia, orientação sexual, religião, gênero, sexualidade ou quaisquer outras formas de preconceito dentro das universidades.
A maioria dos estudantes não se sente representada pelo movimento estudantil, tradicionalmente aparelhado por militantes de partidos políticos da extrema-esquerda. O movimento estudantil nas últimas décadas se mostrou incapaz de dar contribuições significativas. Mais do que isso, tem se mostrado incapaz de representar os estudantes em sua maioria. Durante esses anos ficaram claras as limitações dos métodos de mobilização, assim como de sua capacidade propositiva. O esvaziamento constante de Assembleias é ilustrativo, e mostra a dificuldade em mobilizar os estudantes; o que por sua vez limita sua capacidade de construir acúmulos e consensos que tenham amplo respaldo. Diante desse cenário é inevitável que a voz estudantil tenha pouca força na hora de pautar seus interesses.
É necessário aprofundar os espaços de discussão que temos nas Universidades, e trazer a eles os temas que são relevantes na conjuntura universitária. É de suma importância, também, trazer para o debate posições diferentes e qualificadas em torno de tais temas; pois é somente com a riqueza de argumentos e com debate intenso que podemos construir uma posição coerente e forte. Temos total consciência das dificuldades que enfrentaremos. Problemas existirão sempre. O que muda é a disposição das pessoas ali estabelecidas. Queremos promover uma escolha em uma nova direção. Sem sombra de dúvidas que a hegemonia da esquerda está sendo abalada.
3. Quais as maiores dificuldades que vocês enfrentam?
Queremos dar representatividade aos estudantes das linhas ideológicas marginalizadas no ambiente acadêmico. Porém, atualmente uma das dificuldades que enfrentamos é que muitas vezes não há espaço nas universidades para esses pensamentos. Quem defende essas ideias é tachado por uma minoria barulhenta e autoritária de retrógrado, racista, fascista ou homofóbico. O movimento estudantil atual é monopolizado e autoritário ao querer impor suas opiniões. Pautas para a educação? Das poucas, nenhuma realmente útil e eficiente. Respeito à democracia? Só se você for de esquerda, do contrário, será achincalhado com cuspes, garrafadas, cadeiradas e até pedradas nas universidades. É o método venezuelano de fazer política estudantil. É esse panorama que pretendemos influenciar.
4. Como um estudante perseguido ou censurado por ter um viés político diferente dos demais deve agir? Vocês recebem denúncias?
As universidades contam com uma série de recursos administrativos que devem ser acionados pelos estudantes que não contam com a liberdade de se manifestar. Nossa mensagem é que não se intimidem nem se entreguem tão facilmente a um movimento de posicionamento contrário. Sugerimos aos alunos que tiverem sua liberdade cerceada ou forem agredidos de alguma maneira que recorram à ouvidora da universidade e aos movimentos locais pró-liberdade. O apoio de outros jovens que já estão unidos a essa causa é fundamental. Porém, enfatizamos que não se deve cometer o erro que enxergamos e tanto criticamos nos grupos autoritários, ou seja, não devemos aparelhar as universidade a nosso favor. Sugerimos também que não aceitem professores doutrinadores, tampouco patrulha ideológica institucionalizada, não aceitem nada menos do que CIÊNCIA e LIBERDADE nos bancos das Instituições de Ensino Superior. Defendam-se de professores mal intencionados! E contem conosco. Denúncias podem ser encaminhadas para o e-mail unilivres@gmail.com.
5. Como faço para entrar no UniLivres?
Para ingressar como membro associado, o requerente deverá se submeter a um processo seletivo. O link para dar início ao processo é https://goo.gl/forms/Y8cSEm75jFt1lWpI3. O estudante sem matrícula ativa em instituição de ensino superior também deverá se enquadrar no perfil de valores da associação, devendo igualmente se inscrever no processo seletivo, e se submeter obrigatoriamente a uma entrevista. Não será admitido como membro associado, em hipótese alguma, o requerente que não for aprovado em função da inexistência de identidade com os fins, princípios e valores da Unilivres. A associação não utiliza dinheiro público para sua manutenção, contando com a contribuição voluntária dos associados e apoiadores para a manutenção e crescimento do projeto. Quem quiser colaborar poderá fazê-lo através do link https://pag.ae/bkmTs3Y.