Não apenas a economia alerta para as consequências das medidas contra a Covid-19. O epidemiologista alemão Gérard Krause teme que essas restrições possam levar a diversas mortes.
Krause é Chefe de Epidemiologia no Centro Helmholtz de Pesquisa de Infecções, em Braunschweig.
“Com a ajuda da epidemiologia, investigamos os efeitos dos patógenos na população. Isso nos permite identificar a ocorrência de infecções em um estágio inicial, desenvolver medidas para proteger as pessoas contra infecções e examinar a eficácia dessas medidas”. É assim que ele descreve seu trabalho.
Em 29 de março, o epidemiologista concedeu uma entrevista ao canal ZDFheute, e avaliou as medidas de bloqueios tomadas pela Alemanha.
Gérard Krause disse que as medidas sociais tomadas rígidas por tempo prolongado podem causar doenças mentais e mortes.
“Embora meu foco esteja nas doenças infecciosas, acredito que é imperativo considerar o impacto em outras áreas da saúde e da sociedade. Como sociedade, não devemos nos concentrar apenas nas vítimas do coronavírus”, declarou o epidemiologista.
Efeitos
Krause afirmou que o desemprego, por exemplo, causa doenças e até aumenta a mortalidade. Também disse que pode levar as pessoas ao suicídio. Restringir a liberdade de circulação, segundo ele, pode ter um impacto negativo adicional na saúde pública.
“Não é tão fácil calcular essas consequências diretamente, mas elas ainda acontecem e podem ser mais graves do que as consequências das próprias infecções”, afirmou.
Consequências globais
Krause acredita que na Alemanha todos ficarão bem protegidos porque trata-se de um país rico. No entanto, ele teme os efeitos em outros países que ainda não são realmente previsíveis.
“Tenho muito contato profissional com colegas da África e da América do Sul, e as estruturas sociais são muito mais frágeis, existem muitas pessoas que realmente vivem do sustento de cada dia, se não podem trabalhar, isso significa escassez imediata de suprimentos para famílias, com as consequências correspondentes para a saúde”, explica o profissional de saúde.
Medidas atuais são muito extensas
A respeito das medidas de bloqueios atuais serem muito extensas no país, Krause disse que não quer presumir ter uma visão melhor do que os outros. Mas ele enfatiza que é importante sempre ficar de olho nos efeitos negativos e, portanto, afrouxar essas medidas com cautela. Segundo ele, é preciso ter cuidado para não tomar ações excessivas diante da situação, o que pode causar mais danos do que a própria infecção.
“Porque os efeitos podem ser muito mais abrangentes do que estamos discutindo atualmente, e também podem ser prolongados e afetar outros valores e bens muito importantes, não apenas a saúde”, disse Krause.
Conhecimentos científicos
Em relação a conhecimentos científicos, Krause afirma que teremos novos instrumentos adicionais à mão. “Em breve teremos mais conhecimento sobre os grupos de risco. Isso está chegando muito, muito rapidamente e tem ocorrido muito trabalho nisso, e agora dará frutos”, afirmou.
Para ele, o foco deve ser em medidas direcionadas, que são a proteção da equipe médica e dos grupos de risco, ou seja, das pessoas que têm doenças graves.
De acordo com Krause, o isolamento no sentido de proteger contra riscos de infecção – como o conhecemos para alguns tipos de câncer – deve ser feito.
“Isso nem sempre é fácil, mas não deve ser confundido com o isolamento dessas pessoas do meio ambiente. Há também maneiras de atenuar esses efeitos indesejáveis do isolamento. Penso, por exemplo, nos lares dos idosos, na geriatria. Penso em pessoas que são atendidas pelo atendimento domiciliar. Elas precisam ser protegidas, não às suas custas, mas para sua proteção”, afirmou Krause.
“Eu gostaria de falar de uma mudança de foco. Acredito que devemos concentrar nossa atenção e recursos na proteção de grupos de risco e que devemos tentar afrouxar essas restrições e fechamentos gerais de saída o mais rápido possível. Devemos estar preparados para fazê-lo cedo e com cautela ao mesmo tempo”, acrescentou.
“Infelizmente tenho que admitir que ainda haverá doenças e mortes entre os jovens. Também pode haver uma fase aqui na Alemanha, na qual nem todos que precisam de ventiladores possam receber o cuidado”, acredita Krause.
“Não creio que as medidas, por mais rigorosas que sejam, possam evitar isso completamente. Como sociedade, temos que entender que existem eventos naturais que não podem ser completamente desfeitos”, conclui o epidemiologista.
Correção
O Conexão Política errou ao veicular o título “Medidas de bloqueio matam mais que o próprio coronavírus, diz epidemiologista alemão”. Na realidade, essa frase não foi dita de forma literal pelo profissional de saúde. Na entrevista concedida ao veículo citado na matéria, ele comenta sobre como as medidas mais restritivas afetam outros setores da vida da sociedade, como a economia.