A China está se preparando para comprar mais de 30 milhões de toneladas de safras para estoques estatais, para ajudar a se proteger de interrupções na cadeia de suprimentos causadas pela pandemia de coronavírus chinês e cumprir as promessas de compra de mais colheitas nos EUA, disseram fontes à agência de notícias Reuters.
A China planeja adicionar cerca de 10 milhões de toneladas de soja, 20 milhões de toneladas de milho e 1 milhão de toneladas de algodão a suas reservas estaduais, disseram fontes à Reuters, que foram informadas sobre o plano do governo do Partido Comunista Chinês.
A maior parte das culturas seria importada, e principalmente dos Estados Unidos, já que a China trabalha para cumprir seu compromisso sob o acordo comercial da Fase 1, assinado em janeiro, disseram as fontes, recusando-se a se identificar devido à sensibilidade do assunto.
“A principal mensagem de Pequim é garantir a subsistência das pessoas. É um bom momento para acumular reservas, especialmente quando os preços dos produtos estão em níveis bastante baixos”, disse uma das fontes à Reuters.
Pequim também planeja adicionar 1 milhão de toneladas de açúcar e 2 milhões de toneladas de óleo de soja às reservas, disseram as fontes. Não ficou claro de onde esses produtos viriam.
O distribuidor de grãos da China, Sinograin, não respondeu imediatamente a um e-mail da Reuters pedindo comentários.
Uma das fontes disse à Reuters que ainda não está claro quando a compra ocorrerá. O momento dependeria de como o mercado evolui.
Descontando os custos de remessa, o valor total do suprimento de milho e soja dos EUA seria de aproximadamente US $ 6,25 bilhões, mostram os dados da Refinitiv.
Cadeias globais de suprimentos
Os bloqueios impostos devido à pandemia de coronavírus chinês atingiram a economia mundial e sacudiram as cadeias globais de suprimentos, incluindo a agricultura.
A China concordou em intensificar suas compras de produtos agrícolas dos EUA, incluindo US $ 12,5 bilhões acima da linha de base correspondente de 2017, de US $ 24 bilhões em 2020 e US $ 19,5 bilhões acima da linha de base em 2021, como parte do pacto comercial da Fase 1 que Washington e Pequim assinaram em janeiro.
Os compradores chineses importaram feijão, milho e trigo dos EUA este ano após a queda nos preços.
As importações agrícolas da China nos Estados Unidos totalizaram US $ 5,05 bilhões no primeiro trimestre de 2020.
Brasil
Antes da guerra comercial entre EUA x China, a China importava a maior parte de sua soja dos EUA entre outubro de 2018 e janeiro 2019, voltando-se para a América do Sul por volta de fevereiro de 2019, segundo a Reuters.
E recentemente, o Brasil passou a ser o maior fornecedor de soja para a China.
No ano passado, a China ampliou suas compras de soja brasileira; dois ‘traders’ disseram que a China encomendou pelo menos oito carregamentos de barcos, ou 480.000 toneladas no valor de US $ 173 milhões em soja brasileira.
Mesmo com pandemia, o Brasil exportou 23% mais para China em março. De acordo com a Agrinvest, as exportações continuam em alta até julho, mas o Brasil pode não conseguir produzir o suficiente para atender a demanda.
A recuperação das atividades econômicas na China e a soja brasileira mais barata, em função do dólar, puxaram as exportações em março. O levantamento é da Consultoria Agrinvest e, segundo a empresa, o Brasil deve embarcar 10,4 milhões de toneladas do grão só neste mês de abril.
O volume representa uma alta de 23%, quando comparado ao mesmo período do ano passado. Esse é o quinto maior volume mensal da história.
De acordo com a consultoria, esse cenário nas exportações deve continuar até o final do primeiro semestre, mas o Brasil não vai conseguir produzir o suficiente para atender a demanda esperada.
”Nós temos visto a China comprando soja até julho. A produção brasileira está estimada em torno de 121 milhões de toneladas. Nós trabalhamos com a exportação brasileira entre 78 milhões de toneladas, nosso recorde é de 84 milhões de toneladas. Não temos soja suficiente para repetirmos um programa de exportação de 84 milhões, só se houver um racionamento da demanda interna brasileira”, explicou Marcos Araújo, analista de mercado da Agrinvest.
“Não vamos ter soja para atender o mercado interno e o mercado externo, já que a produção esse ano foi afetada, principalmente pela seca que ocorreu no Rio Grande do Sul”, disse Marcos Araújo.
Cerca de 70% da soja escoada no Brasil é por meio rodoviário. A preocupação neste momento é garantir a continuidade do trabalho de quem transporta pela estrada.
”É importante que nós tenhamos uma continuidade no fluxo dos caminhoneiros trabalhando. E também as rodovias funcionando para podermos ter esse serviço ao longo do ano”, completou o analista.
Ainda segundo Marcos Araújo, o preço da saca para o mercado futuro é favorável.
“Hoje se fechou negócio a R$ 102,50 por saca. Levando em conta esse dólar recorde, o mercado futuro para a soja aponta para preços bem melhores. No entanto, na contramão disso tudo, Chicago teve queda de 15 a 20 centavos, então vai depender de cada investimento”, finalizou Marcos Araújo.