A Holanda está chegando a 19 milhões de habitantes em 2039, com a imigração como a principal culpada.
Muitas pessoas veem esse prognóstico com consternação.
O professor de Demografia Social da Universidade de Amsterdam (UvA), Jan Latten, afirma que a Holanda não está totalmente preparada para esse crescimento populacional extremo.
Para uma melhor referência e comparação, segundo estatísticas do IBGE e da CIA, o Brasil possui uma densidade demográfica de 24,4/km² (2017), enquanto a Holanda apresenta 411,3/km² (2017) – o que pode se equiparar à densidade demográfica de Brasília: 445/km² (2017).
No entanto, a reação da classe política holandesa é a mesma há quarenta anos. Tanto a “beleza” quanto a suposta “necessidade da multiculturalização” são cantadas em uníssono.
Quando os políticos são lembrados dos muitos e inegáveis efeitos colaterais adversos, eles se escondem por trás da desculpa de que a Holanda está simplesmente vinculada a tratados internacionais e, portanto, não há nada a ser feito a respeito.
O falecido primeiro-ministro holandês, Wim Kok, já dizia à população holandesa essa ‘verdade’ nos anos 90, embora outro país, a Dinamarca, já tivesse uma política muito mais restritiva na época.
Somente em vésperas de eleições, o partido de centro VVD, do atual primeiro-ministro holandês Mark Rutte, tradicionalmente emite um ruído crítico sobre a imigração. Na prática, nada mudou por 40 anos.
Como se explica essa adesão persistente a uma política pró-imigração?
A monstruosa aliança
Seguramente, podemos concluir que a resistência contra a imigração está se fortalecendo. Uma pesquisa recente do pesquisador holandês de opiniões, Maurice de Hond, mostra que apenas 7% da população holandesa ainda é a favor de uma generosa política de imigração.
Os outros 93% defendem uma regulamentação mais rígida, que vai do fechamento das fronteiras a uma melhor política de distribuição, em cooperação com os outros Estados membros da União Europeia.
Os partidos holandeses de direita PVV e FvD, que são contra a imigração em massa, puderam contar com mais de 25% dos votos, segundo as pesquisas de opinião.
Porém, esses dois partidos foram colocados de escanteio no campo político.
O VVD preferiu trabalhar no parlamento em uma coalizão com os esquerdistas do Partido Verde (GroenLinks), em vez de se aproximar dos ‘partidos irmãos’ à direita.
O primeiro-ministro Rutte fala todos os dias sobre a ‘crise climática’, um tema tradicionalmente da esquerda.
Muitas pessoas na Holanda se perguntam: ‘Como isso é possível?’.
Esse é o tipo do político ‘civilizado’ de centro-direita que deseja permanecer livre das manchas da ‘extrema-direita’?
A resposta é mais profunda e mais simples: “É a economia, estúpido!”.
Muitas pessoas não conseguem entender que os negócios internacionais e o seu porta-voz holandês, o VVD, estão lutando por um mundo sem fronteiras. Não como a tradicional esquerda, com seu famoso hino nacional da União Europeia ‘Todas as pessoas se tornam irmãos’ – isso era uma utopia na época, e continua sendo uma utopia até hoje – mas, por razões puramente econômicas.
O Comércio mundial sem fronteiras, que liberal! Sem mais obstáculos, sem regulamentos separados, sem passaportes e papelada. O neoliberal clamaria “aleluia” se não soasse tão cristão.
E as tensões sociais causadas pela imigração em massa?
“Uma questão de tempo, pessoal. O tempo cura todas as feridas. Tudo vai ficar bem!”.
Esta é a visão do VVD. Portanto, na verdade, uma visão utópica do mundo, parcialmente sobreposta à visão utópica do futuro à esquerda: um mundo em que todas as raças, sexos, crenças e modos sexuais convivem em harmonia.
Tanto a “centro-direita” neoliberal quanto a esquerda entendem que essa utopia só poderá realmente acontecer quando um fenômeno histórico desaparecer: o Estado-nação.
Um país com suas próprias tradições fortes e uma população relativamente homogênea, com valores culturais fortemente compartilhados deve ser combatido. Deve literalmente se tornar algo do passado. O excepcional deve ser colocado próximo ao padrão, para que não haja mais um padrão.
Ilimitado no sentido mais amplo da palavra
Este último pode ser reconhecido em todos os tipos de áreas na narrativa liberal globalista de esquerda.
Aos olhos do cidadão cosmopolita de esquerda e liberal, a tolerância em relação à comunidade LGBTI – para citar apenas um exemplo – não é mais suficiente.
Um exemplo recente que ilustra isso muito bem tem a escritora de renome mundial, J.K. Rowling, como objeto direto.
Conhecida como progressista de esquerda, Rowling tornou-se alvo de ataques venenosos de sua própria base, quando ela defendeu uma mulher que havia perdido o emprego por causa de um tweet, no qual afirmava que os homens não podiam se transformar em mulheres.
Para Rowling, eles foram foi longe demais com isso. Aliás, com uma demissão aceita por um juiz. Expor a opinião lhe custou caro.
Em pouco tempo, ela se tornou uma “traidora” para seus próprios seguidores, e foi bombardeada de insultos como “transfóbica” e “fanática”.
Isso mostra mais uma vez o quanto a nomeação de distinções é tabu. Sejam estas distinções de limites e fronteiras geográficas ou das diferenças biológicas.
A mesma obsessão pela falta de limites leva a consequências inesperadas e inconsistentes em muitas áreas da esquerda. Um exemplo impressionante é como a esquerda antimilitarista está, hoje em dia, se tornando cada vez mais a favor da ideia de um exército europeu.
A esquerda segue a proposição de Macron e sua igualmente colega cosmopolita alemã Merkel, de que a Europa só pode desempenhar um papel significativo globalmente como Estado federal.
A própria cultura nacional está sendo sacrificada, uma vez que maiores interesses estão em jogo.
O déficit democrático
A fim de atenuar isso para a população nativa e, em particular, combater os sentimentos “perigosos” de “alienação”, é permitida a identificação do cidadão com sua região, inclusive ela é incentivada.
As regiões são menos perigosas, não têm fronteiras ou exércitos rígidos e podem compensar o sentimento de perda de identidade; tudo funciona em unidade e há sempre uma desculpa pra tudo.
Isso se você vê o futuro como um mundo sem Estados-nação, pelo menos. Mas, e quanto a participação do eleitor?
Querem deixar claro que a transformação da Holanda e da Europa Ocidental não é uma lei da natureza, mas uma escolha baseada em uma visão político-econômica ideologicamente motivada? Absolutamente não, aos meus olhos. E este é precisamente o déficit democrático de nosso tempo.
Fazendo um tabu da própria língua holandesa – palavras comuns no Holandês como “nativo” e “não-nativo” se tornaram pejorativas e agora, estão sendo proibidas de serem pronunciadas – a união liberal de esquerda detém todo o poder.
Uma discussão livre sobre as desvantagens e tensões trazidas pela imigração em massa não está sendo pautada. Utilizar as palavras “imigração em massa” ou questionar se ela deveria ser permitida é um tropeço aos olhos do professor universitário holandês e historiador Leo Lucassen, “especialista” em imigração.
A instrumentalização da educação, do judiciário e das instituições como o Serviço Público de TV e Radiodifusão também garante que o som da esquerda liberal soe muito mais forte do que outros sons. Mas, a exclusão de pelo menos um quarto dos eleitores holandeses mina a credibilidade da democracia e a torna insustentável a longo prazo.
O debate politizado sobre a imigração – que hoje se tornou um tabu – deve ser conduzido de forma aberta e respeitosa. Prós e contras terão que ouvir uns aos outros.
É necessário encontrar e defender um compromisso contra Bruxelas na Holanda e nos outros países da UE.
Se as elites liberais globalistas de esquerda persistirem em se recusar a entrar nessa discussão tão necessária com o cidadão cético sobre a imigração, as consequências políticas e sociais não poderão ser previstas.
Tudo começa com o reconhecimento de que os ‘deploráveis’ têm o direito de serem ouvidos. Quanto mais cedo melhor. Como o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enfatizou recentemente: “desumanizar aqueles que pensam diferente não causará nada, exceto ainda mais tensões e conflitos do que já existem”, mas na prática, é o que ocorre geralmente com os cidadãos conservadores da direita, chamados de “direita-radical”.
Um amplo ‘think tank’ com uma bela e representativa seção da população poderia ser o começo para romper o impasse.
A visão do nosso primeiro-ministro na Holanda é que ele não gosta de elaborar visões. Mas se tratando do futuro do nosso país, seria melhor ele desenvolver uma, e logo. Antes que seja tarde demais.
Tradução Holandês-Português: Thaís Garcia.