A cidade de Roma substituirá nomes de ruas dedicados a cientistas e intelectuais que assinaram o manifesto fascista e antissemita, o ‘Manifesto della Razza’ (Manifesto Racial), em 1938. A prefeita Virginia Raggi, filiada ao Movimento 5 Estrelas, renomeará as ruas dedicando-as aos perseguidos pelo regime fascista, incluindo dois cientistas judeus.
O processo para alterar os nomes das ruas selecionadas foi iniciado há um ano.
“Uma moção foi aprovada pelo Conselho Municipal de Roma”, escreveu Raggi no Facebook, acrescentando que a rededicação real pode demorar um pouco mais, informou o The Jerusalem Post.
Estudantes e moradores dos bairros onde as ruas estão localizadas participaram do processo de escolha das novas figuras históricas para homenagear.
As ruas atualmente têm o nome de Arturo Donaggi e Edoardo Zavattari. Zavattari foi um biólogo que promoveu a idéia de racismo científico, e Donaggi era um psiquiatra.
O Manifesto Racial, que ambos promoveram junto a outros estudiosos italianos importantes, tornou-se a base ideológica e pseudocientífica das políticas raciais do regime fascista.
As ruas de Roma com o nome de Donaggi e Zavattari serão agora dedicadas a Mario Carrara, Enrica Calabresi e Nella Mortara.
Em 1944, a zoóloga judia Calabresi cometeu o suicídio na prisão para evitar ser enviada para Auschwitz.
Mortara era uma física que trabalhava no mesmo laboratório que o proeminente cientista Enrico Fermi. Ela fugiu da Itália em 1938 para escapar das perseguições antissemitas e morreu em 1988.
Carrara, um patologista de destaque, foi um dos poucos acadêmicos italianos que se recusou à prometer lealdade ao Partido Fascista em 1931. Ele foi preso cinco anos depois e morreu na prisão.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os historiadores concordam que, na pressa de fazer uma transição completa da ditadura fascista para a democracia, a Itália não conseguiu abordar a questão de quanto de sua liderança econômica e intelectual estava envolvida com o regime fascista.
Muitos deles conseguiram continuar suas carreiras e até foram homenageados por suas realizações profissionais. Um exemplo icônico é Gaetano Azzariti, que atuou como presidente do “Tribunal de Raça” e depois se tornou presidente do Tribunal Constitucional Italiano, em 1957.
Até hoje, inúmeras ruas e instituições em toda a península ainda recebem o nome de intelectuais e profissionais envolvidos com o regime fascista.