Não foi a histérica ativista catastrófica Greta, nem o mentiroso Raoni, nem o ex-presidente e presidiário Lula, o vencedor do prêmio Nobel da Paz de 2019. Mas, o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed (43), foi quem levou o prêmio. Ele foi um grande incentivo para a esperança da África Oriental.
Nobel da Paz
O Prêmio Nobel da Paz é considerado o prêmio político de maior prestígio no mundo e consiste em 9 milhões de coroas suecas (cerca de 3,7 milhões reais). No ano passado, o médico congolês, Denis Mukwege, e a ativista iraquiana de direitos humanos, Nadia Murad, receberam o Prêmio Nobel por sua luta contra a violência sexual como arma de guerra.
Ao contrário dos outros prêmios Nobel, o Prêmio Nobel da Paz não é concedido em Estocolmo, mas em Oslo. Lá, ele será apresentado em 10 de dezembro, no aniversário de Alfred Nobel, iniciador do prêmio. A eleição é da responsabilidade de um júri nomeado pelo Parlamento norueguês.
“Abiy Ahmed foi premiado como o vencedor deste ano por seus esforços pela paz e cooperação internacional. E, em particular, sua iniciativa de resolver o conflito de fronteira com o país vizinho Eritreia”, disse Berit Reiss-Andersen, presidente do Comitê Nobel.
Abiy Ahmed
O que o jovem primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, conseguiu no ano passado, não foi apenas especial, mas também muito corajoso. Ele sobreviveu a uma tentativa de golpe e a uma granada de mão lançada contra ele. Ele também pôs fim à inimizade debilitante entre a Etiópia e a Eritreia, dois países que por 20 anos vivem em conflitos e guerras.
Abiy Ahmed quebrou esse relacionamento negativo. Em nome da Etiópia, o primeiro-ministro desistiu de reivindicações controversas de território e viajou pessoalmente à Eritreia para selar uma nova amizade com o presidente Isayas Afwerki. Ambos os países se beneficiaram. Ele salvou vidas humanas em constantes conflitos fronteiriços e uma enorme quantidade de dinheiro que poderia ser gasta no desenvolvimento econômico, e não na defesa.
Mediador
Isso foi amplamente feito fora dos holofotes internacionais, longe dos principais campos de batalha como Síria, Iêmen ou Afeganistão. Abiy Ahmed já foi elogiado por seu trabalho internacional e agora está recebendo os créditos formais, na forma do Prêmio Nobel da Paz que, segundo muitos, ele merece.
Por causa de sua fama, ele também pôde desempenhar um papel este ano como mediador da crise no Sudão. Esse país parecia estar caminhando para uma guerra civil, depois que o ditador Omar al-Bashir foi forçado a renunciar.
As iniciativas de paz de Abiy também tiveram consequências na Eritreia. Esse país consideraria reformar o controverso e eterno serviço militar. Para muitos requerentes de asilo da Eritreia, o serviço militar obrigatório é um dos principais argumento para fugir do país. Os homens da Eritreia recebem treinamento militar de seis meses e podem ser empregados por toda a vida. Porém, recebendo um salário desumano; que é comparado ao trabalho escravo a serviço dos que estão no poder.
Em abril de 2018, Abiy se tornou primeiro-ministro e foi o primeiro da tribo Oromo nessa posição. A tribo Oromo, o maior grupo populacional da Etiópia, sente-se politicamente em desvantagem e não é ouvido na capital Adis Abeba. Outra tribo, os Tigreemen, costumava ter o poder em mãos.
Como primeiro-ministro, Abiy fez a Etiópia passar por transformações; prisioneiros políticos foram libertados, grupos de oposição foram removidos da lista de terrorismo, foi anunciada a venda de ações de algumas empresas do governo, a polícia não era mais autorizada a torturar, havia uma certa liberdade de imprensa e o primeiro-ministro começou a sério conversas com a oposição. Ele também se concentrou em reformas ambiciosas da justiça. Além disso, ele também iniciou um grande projeto para plantar 1 milhão de árvores no deserto.
Abiy deseja seguir bons caminhos, mas terá que percorrer um longo caminho antes que a Etiópia se torne um país mais democrático e próspero.
Longo caminho
A paz com os países vizinhos não deve esconder o fato de que ainda há muito a ser feito internamente. Devido a conflitos domésticos, 3 milhões de pessoas ainda estão fugindo na Etiópia.
Na Etiópia, ainda há vários tipos de opressão e muitos conflitos internos. A opressão islâmica é o maior, mas também há a paranoia ditatorial e o antagonismo étnico entre as diferentes etnias presentes no país.
Uma das principais guerras tribais é no Sul, onde, segundo o Escritório de Assistência de Emergência da ONU, OCHA, 1 milhão de pessoas está fugindo da crescente violência étnica nas regiões de Gedeo e Guji Ocidental.
Atualmente, muitas dessas pessoas vivem amontoadas em escolas, igrejas ou instituições públicas. Eles quase não têm comida, nem roupas para o frio. E esta crise não recebe nenhuma atenção da comunidade internacional.
A perseguição aos cristãos
Segundo a organização Portas Abertas, a Etiópia é um dos primeiros países cristãos do mundo. E apesar da Etiópia ser um país de maioria cristã, o islamismo radical está crescendo nos níveis local, regional e nacional. Principalmente em áreas rurais, onde os muçulmanos são a maioria, cristãos ex-muçulmanos são marginalizados e têm os direitos familiares negados, como herança e custódia dos filhos.
No que diz respeito à paranoia ditatorial, o Portas Abertas informou que nos últimos anos, o governo tem se tornado mais autoritário e restringido os direitos da sociedade civil e de instituições religiosas. O governo também tem incentivado ressentimento em relação ao cristianismo entre alguns grupos étnicos. Algumas tribos exigem que os cristãos participem de confrontos tribais e sofram retaliação caso se neguem a fazê-lo – e assim se manifesta o antagonismo étnico.
A opressão islâmica parte de líderes muçulmanos, através de sermões e aprovação de discriminação contra cristãos. Relatos dão conta de que alguns líderes islâmicos estão envolvidos em incitar a violência contra cristãos. Todas as comunidades cristãs do país enfrentam perseguição, o que varia são as fontes e os níveis em que ela se apresenta. Por isso, a Etiópia, que ocupa a 28ª posição na Lista Mundial da Perseguição 2019, ainda está longe de ser um país livre e um exemplo para a humanidade.
O fato de Abiy Ahmed ter sido premiado com o Nobel da Paz deste ano, por seus esforços pela paz e cooperação internacional, poderá ser utilizado como uma oportunidade para que um diálogo, sobre a perseguição aos cristãos etíopes, seja aberto entre a comunidade internacional e o primeiro-ministro etíope.