Lá se foram oito meses e chega Setembro, o mês da campanha contra o suicídio. Você conhece a origem desta campanha? [10]
Setembro Amarelo é uma campanha do Centro de Valorização da Vida (CVV). Desde 2015 o CVV busca através desta campanha a conscientização e a prevenção do suicídio.
Em 1994, Mike Emme, de 17 anos, um rapaz muito caridoso e hábil na mecânica restaurou um Mustang 68, pintando-o de amarelo. Seus pais, infelizmente, não perceberam os sinais e não puderam salvar seu filho deste triste fim.
Em seu funeral, os pais receberam cerca de 500 cartões e fitas de amigos de Mike com a mensagem: “Se você precisar, peça ajuda.”
Considero importante campanhas como essas que acredito serem mais eficazes do que feriados como o da Consciência Negra, por exemplo.
E por esse motivo, foi o tema que escolhi e gostaria de lhe fazer um convite para uma reflexão: como você trata seus amigos? E seus adversários?
“Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como.”
(Nietzsche)
Eu tenho amigos que tem problemas conjugais, financeiros, que sofreram acidente e estão se recuperando sobre uma cama há meses, outros passando por tratamento de câncer, recuperando-se de cirurgias, até alguns que trazem problemas da infância. Procuro periodicamente, de forma discreta, perguntar como estão, de forma que percebam que não estão sozinhos.
Há ocasiões também em que os defendo nas redes sociais quando injustiçados (até mesmo àqueles que nunca ouviram minha voz nem eu à deles).
A era da informação nos trouxe uma aceleração insana em nossas atividades, temos a sensação de que devemos saber tudo sobre tudo. Entretanto para “atingir” esse objetivo (na verdade é impossível) demandamos tempo. E não sobra tempo para darmos atenção ao próximo.
As redes sociais trouxeram muitos benefícios, porém, também potencializaram nosso instinto agressivo. Diante de uma tela de um dispositivo eletrônico, temos uma facilidade muito grande de atacar as pessoas, num comportamento de manada. Em contrapartida é inversamente proporcional a iniciativa de procurar elementos para defendê-las, como no caso do filho de Carla Zambelli.
A publicação de um post com minha opinião, sobre a reação das pessoas a este fato nas redes sociais, em meu blog pessoal (“E se fosse seu filho?“) fez com que eu perdesse alguns seguidores. Fiquei abismado como o foco da discussão se manteve na solução encontrada por Zambelli e não nas ameaças do pedófilo! Meus questionamentos foram apenas lógicos sobre os argumentos utilizados pelos críticos. E não é necessário destacar a receita usual: xingam e bloqueiam a seguir quando encontram-se diante de uma situação onde não há argumentos.
Podemos tomar como exemplo, também, Bolsonaro: diariamente ele é atacado (não só com críticas, como todos sabemos), sua família o é, e principalmente seu Governo. Inventam crises, criam intrigas ente ele e membros de sua equipe, não pode confiar em boa parte das pessoas que o cercam, ele e os familiares correm risco de vida diariamente, etc. Esqueça o político. Coloque-se no lugar do ser humano.
E por falar em empatia, quantos amigos não vimos fazendo piada com a falta de beleza da mulher do Macron? Ou de Samia? Somos muito mais do que isso, não acha? Quando eu disse que não me sentia à vontade de tomar esse tema em meus comentários fui ironizado publicamente. Respondi com cordialidade, mas procurei conter-me e não entrar nessa onda, apesar de muitas ironias serem criativas.
Em que ponto da nossa história será que perdemos a humanidade?
Fazer o correto não é fácil.
E tudo isso acontece em pleno Setembro Amarelo!
“Prisioneiro durante longo tempo em campos de concentração, onde seres humanos eram tratados de modo pior do que se fossem animais, ele se viu reduzido à existência nua e crua. O pai, a mãe, o irmão e a esposa de Viktor Frankl morreram em campos de concentração ou em crematórios, e, exceto sua irmã, toda a sua família morreu nos campos de concentração. Como foi que ele – tendo perdido tudo o que era seu, com todos os seus valores destruídos, sofrendo fome, frio e brutalidade, esperando a cada momento a sua exterminação final – conseguiu encarar a vida como algo que valia a pena preservar?”
(Em busca de sentido, Viktor Frankl, 38ª Edição, Ed. Vozes/Ed. Sinodal, p.5)
Apesar de todo acesso à informação que temos, as pessoas parecem não conseguir conectar as possíveis consequências de seus atos.
No caso específico de Zambelli, canalizam a ira contra a classe política (procedente) a uma pessoa que vem trabalhando firme (com um ou outro deslize, afinal político é um ser humano) para o sucesso do projeto conservador do Governo que elegemos. Acredito que falte empatia para enxergar nela uma mãe que teve seu filho horrivelmente ameaçado por um monstro, um pedófilo, que descreveu como “trataria” seu filho quando o sequestrasse.
Esse crime poderia ter sido um catalisador de uma tragédia, mas o que esperar de pessoas que tentam matar um candidato à Presidência da República da forma que tentaram, não é? Para eles os fins justificam os meios.
Campanhas como o Congresso iluminado de amarelo (se bem que o vermelho, por diversos motivos seria a cor mais adequada) são importantes, porém, não serão eficazes enquanto cada um de nós não nos conscientizarmos de nosso papel. A campanha tem como meta atingir a sociedade, mas a sociedade é formada por pessoas, e as pessoas é que devem tomar uma atitude!
Jesus nos ensinou “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34) e “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 34). E o que é amar senão preocupar-se com o próximo, ter empatia?
Devemos fazer a parte que nos cabe pois os adversários influentes não descansam. Ouço um podcast muito famoso, que é o maior do país, onde o locutor, que tem um poder de influência enorme, já disse diversas vezes que não faz o bem para ninguém se não for ganhar algo com isso e que não vê explicação lógica para tal ato.
Nunca antes, na história da Humanidade, estivemos tão conectados e tão sozinhos.
Pergunte a si mesmo: além de compartilhar mensagens da campanha você reserva um tempo para ouvir seus amigos com problemas? E os amigos próximos, numa conversa olho no olho? Você vive essa campanha?
Ao terminar de ler esse texto, pegue sua lista de contatos, será que não vale a pena entrar em contato com um amigo?
E a sugestão não é para indicar esse artigo…
[10] Campanha Setembro amarelo: o que é, como surgiu, objetivo e mais