A derrota do presidente Mauricio Macri nas eleições primárias da Argentina, realizadas no domingo, 11, provoca um dia de pânico no mercado financeiro do país. O dólar disparou rapidamente na abertura do mercado e renovou máximas históricas, chegando a ser cotado a 62 pesos argentinos, uma alta de 36,7%.
A moeda argentina é, de longe, a que mais se desvaloriza no mundo nesta segunda-feira, 12. O Banco Central argentino elevou a taxa básica de juros em dez pontos porcentuais para 74% ao realizar um leilão de Letras de Liquidez (Leliq).
O Credit Default Swap (CDS) de cinco anos da Argentina, um termômetro do risco-país, também disparou e era negociado em 2.069 pontos no final da manhã de hoje, o que representa um aumento de 105% em relação ao fechamento de sexta-feira. Com um efeito de contaminação, as taxas no Brasil chegaram a bater em 144 pontos, perante fechamento de 130 pontos na sexta.
Em Nova York, as ações de empresas argentinas despencam e há quedas de até 60%. Papéis de instituições financeiras são os que mais perdem seu valor, após Fernández afirmar, na noite de domingo, que é preciso reduzir o pagamento de juros aos bancos. Em Buenos Aires, o índice Merval, da Bolsa local, derretia 28%.
O pânico gerado nos mercados pelo resultado das primárias, que servem como uma espécie de pesquisa eleitoral para enxugar o número de candidatos que concorrem no pleito decisivo, deriva da interpretação de que “a amplíssima vitória do ex-chefe de gabinete dos Kirchner (Alberto Fernández) põe em xeque a política econômica do governo e o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI)”, avalia a empresa de serviços financeiros INTL FCStone. “Desconta-se que, se esse resultado se repetir em outubro e se Alberto finalmente for eleito presidente, a Argentina se sentará para renegociar os termos e prazos previstos no pacto selado por Cambiemos (coligação de Macri) com o organismo internacional de crédito.”
Com a apuração das urnas já perto de 100% no domingo, a chapa do opositor Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice, havia conquistado 47,34% dos votos, enquanto a coalizão de Macri aparecia com 32,25% do total. Se o resultado se repetir em outubro, com os kirchneristas acima da marca de 45% dos votos, a oposição levará o pleito no primeiro turno.
Os bancos já dão quase como certa a vitória da chapa kirchnerista. Em relatório, o estrategista Tiago Severo, do Goldman Sachs, afirmou que o resultado é “quase irreversível”. O Itaú informou que a probabilidade de Fernández perder a disputa é baixa.