Nesta semana, uma audiência do Tribunal de Direitos Humanos em Vancouver, no Canada se transformou em explosões verbais e xingamentos, quando considerou a queixa de que um salão de beleza domiciliar estava discriminando um homem transexual por negar-lhe uma depilação íntima.
O autor da denúncia comparou a proprietária da empresa a uma ‘neonazista’. O advogado da dona da empresa, Jay Cameron, acusou o queixoso de “meias verdades” e “mentiras”. A Juíza do tribunal, Devyn Cousineau, frequentemente teve que se interpor para manter o decoro e evitar que a audiência saísse do rumo.
Jessica Yaniv, nascido Jonathan Yaniv, disse na audiência que tinha direito de receber o serviço de depilação íntima anunciado e que, se o tribunal decidisse contra “ela”, isso poderia levar a um precedente “perigoso”.
“Você não pode escolher quem será sua clientela”, disse Yaniv em seu Twitter.
No entanto, a proprietária da empresa, Márcia da Silva, disse que não estava confortável em realizar uma depilação íntima em uma pessoa com genitália masculina, e que nem teve treinamento para isso. Jay Cameron disse na audiência que uma decisão contra a sua cliente seria o mesmo que ordenar “serviços íntimos” contra a vontade de alguém.
Ativismo LGBT
A queixa ouvida nesta última quarta-feira (17) foi uma das mais de uma dúzia realizadas por Yaniv, que se descreve como “uma especialista em marketing digital e ativista LGBTQ”. Todas as suas queixas alegam que ela foi “alvo de discriminação por salões”. Algumas queixas foram resolvidas sem audiência ou retiradas.
Yaniv também ganhou as manchetes recentemente por se envolver em uma briga de mídia social com a defensora da liberdade de expressão Lindsay Shepherd, na qual ambos fizeram comentários depreciativos um sobre o outro. E como consequência, o Twitter baniu Shepherd da plataforma, mas não Yaniv.
Inicialmente, O tribunal emitiu uma proibição de publicação, protegendo a identidade de Yaniv, mas nesta quarta-feira (17), Cousineau decidiu suspender a proibição com base na atuação de Yaniv nas redes social e na defesa pública.
Entenda o caso
Na audiência de quarta-feira, Yaniv, que está representando a si mesmo, disse que na primavera de 2018, encontrou um anúncio no Facebook oferecendo uma promoção para uma depilação íntima, que envolvia a remoção de pêlos pubianos ao redor da virilha.
Márcia da Silva testemunhou que depois de anteriormente fazer depilações íntimas em familiares e amigas, ela resolveu iniciar seu próprio negócio em seu domicílio. Yaniv havia sido a primeira pessoa a responder ao seu anúncio.
Por uma mensagem de texto, as duas partes concordaram em agendar a depilação íntima. Mas Yaniv testemunhou que depois de se identificar como transexual e mandar um ‘selfie’ para Márcia, a depiladora cancelou o compromisso.
Márcia disse ao tribunal: “Eu não tenho nenhum problema com LGBT”. Ela disse apenas que não estava confortável em depilar genitálias masculinas e que seu marido também não havia gostado da ideia. Além disso, Márcia não possuía experiência em depilação íntima de genitais masculinas.
“Todo mundo tem o direito de decidir quem entra em sua casa”, acrescentou Márcia, notando que ela também estava desconfortável com as mensagens persistentes que estava recebendo de Yaniv. “Para minha segurança, eu disse: ‘Não'”, testemunhou a depiladora.
Márcia disse ao tribunal que ela define alguém como transexual, quando a pessoa passa por uma cirurgia de redesignação sexual. E quando perguntada se ela executaria o serviço de depilação em alguém que havia passado por essa cirurgia, a depiladora respondeu que “sim”.
Yaniv disse que o anúncio que Márcia publicou era aberto ao público e não mencionava as condições. O transexual defende que a depiladora deveria tê-lo aceito como mulher, ao invés de fazer suposições com base na aparência.
“A sua identidade de sexo é sua. Vivemos numa época diferente agora”, testemunhou Yaniv.
Discussões acaloradas
Em um certo momento, Yaniv chegou a igualar a negação de serviço de Márcia ao neonazismo.
Sob interrogatório, Jay Cameron disse à Yaniv que as depilações íntimas eram serviços realizados apenas em torno de genitálias femininas e que Yaniv deveria ter procurado uma depilação para genitálias masculinas.
Isso levou Yaniv a dizer ao tribunal que ela era intersexual e que possuía partes femininas em seu corpo.
“Existe”, disse Yaniv.
“Você está tentando enganar o tribunal”, respondeu o advogado de Márcia.
Cameron questionou a credibilidade de Yaniv e sugeriu que anteriormente Yaniv havia usado um perfil falso de uma mulher grávida no Facebook, quando inicialmente procurou o serviço de depilação íntima de Márcia. Uma alegação que Yaniv negou.
No tribunal, Márcia contou que após sua experiência com Yaniv achou melhor encerrar seu negócio próprio, fechando seu salão de depilação.
O julgamento foi suspenso e a nova data não foi informada.
Outros casos
No início deste mês, outras duas esteticistas receberam queixas semelhantes de Yaniv. Uma delas, uma mulher sikh, disse que se recusou a prestar o serviço de depilação por motivos religiosos e de segurança, de acordo com o site The Post Millennial.
“As empresas não devem usar religião e cultura para recusar o serviço”, disse Yaniv em seu Twitter.
Serviços diferentes
Um especialista que opera em um salão só para homens da região testemunhou que clientes do sexo masculino, muitas vezes ficam excitados quando recebem serviços de depilação íntima. Além disso, a cera ideal para a depilação de genitais masculinos é diferente da usada por Márcia, porque a pele masculina é muito fina.
Fonte: National Post e Twitter.