Os promotores da Polônia iniciaram uma investigação sobre a gigante sueca de móveis domésticos IKEA, depois que a filial polonesa da empresa demitiu um funcionário católico que criticou o ativismo LGBT da empresa. O secretário de Estado da Justiça, Patryk Jaki, pediu um boicote à IKEA se os promotores concluírem que a empresa discrimina os católicos, relatou o site americano Bloomberg.
Com 238 lojas em 34 países, a maioria na Europa e as outras nos EUA, Canadá, Ásia e Austrália, a IKEA é uma das poucas redes varejistas a ter pontos de venda tanto em Israel quanto nos outros países do Oriente Médio.
O funcionário demitido havia feito comentários críticos em um comunicado da IKEA na intranet da empresa, no qual a empresa expressou sua solidariedade com a comunidade LGBT.
“A inclusão de LGBT + é responsabilidade de todos. No dia 17 de maio, celebramos o dia internacional contra a homofobia, a bifobia e a transfobia. E defendemos os direitos de lésbicas, gays, transexuais e pessoas de todas as orientações sexuais”, disse o comunicado.
O católico romano Tomasz K. disse ao canal de TV polonês TVP que discordou da empresa e comentou a mensagem.
“Eu fiquei chocado. Fui contratado para vender móveis, mas sou católico e esses não são meus valores”, disse ele à TVP.
“Isso é inaceitável, absolutamente ultrajante”, disse o ministro da Justiça polonês, Zbigniew Ziobro, na sexta-feira (28), sobre a demissão. Ziobro instruiu o Ministério Público a investigar se a IKEA violou não apenas os direitos do trabalhador, mas também o direito penal e se o despedimento constitui uma discriminação antirreligiosa.
O ministro acredita que, se a investigação for confirmada, parece que a empresa sueca na Polônia discrimina pessoas que não compartilham seus valores.
Contradição
“O empregado usou textos bíblicos para contextualizar sua posição e funcionários da empresa contataram o departamento de Recursos Humanos”, disse a IKEA em um comunicado.
Katarzyna Broniarek, diretora de comunicação da IKEA Retail, acrescentou: “A cultura corporativa da Ikea é baseada na liberdade de ideias, tolerância e respeito por todos os funcionários, mas a empresa deve responder quando houver o risco de que a dignidade de outros funcionários venha em perigo”.
Dessa forma, a empresa sueca demonstrou uma contradição em sua própria fala; respeitando o movimento LGBT, entretanto, esquecendo-se do respeito à liberdade de ideias de um conservador católico romano.
Outros casos
Há anos, a IKEA está envolvida no ativismo LGBT. Em junho, bandeiras de arco-íris agitaram lojas americanas da IKEA.
No início desta semana, uma disputa motivada por LGBT remexeu a fábrica da Volvo em Wroclaw, depois que os chefes propuseram a criação de uma “comunidade LGBTQ+” como parte de suas operações.
“O empregador deve ser completamente transparente, ele não deve promover minorias ou maiorias sexuais, religiosas e políticas. Deixamos nossa sexualidade e convicções no portão, no trabalho somos iguais”, disse Grzegorz Zachara, presidente do sindicato Solidariedade, à mídia.
Em 2008, os católicos poloneses ameaçaram boicotar a IKEA depois de apresentar um “casal” do mesmo sexo em seu catálogo com a legenda “Ian e Steve não têm intenção de ter filhos, mas sim desfrutar de seu centro de comando, uma cozinha da IKEA e um horta de ervas”.
Grzegorz Upper, editor-chefe da revista católica polonesa Fronda, acusou a IKEA de promover “a extrema ideologia dos ativistas homossexuais”.
Polônia conservadora
A IKEA já estava ciente das sensibilidades católicas na Polônia. Em maio, produziu uma bolsa arco-íris especial para marcar o mês do Orgulho LGBTQ, que acontece em junho. No entanto, a empresa disse que o produto não estaria disponível na Polônia.
A Polônia é um dos países mais religiosos da Europa. De acordo com uma pesquisa da Comissão Europeia de 2005, 91 % da população pertence à Igreja Católica Romana e as minorias religiosas incluem cristãos ortodoxos, protestantes, Testemunhas de Jeová, católicos orientais, católicos poloneses, mariavitas, judeus e um pequena comunidade muçulmana de 1.132 pessoas. Apenas 3% da população não possui uma religião e 2% dela é ateia.
Nas últimas eleições em 2015, a Polônia continuou demonstrando o seu conservadorismo, elegendo um presidente católico romano, Andrzej Sebastian Duda. Antes da presidência, Duda atuava como advogado e foi membro do Parlamento Europeu de 2014 a 2015.
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