Admito que dói-me as moelas responder que sim. Mas por coerência digo que sim, muito mais por coerência que por uma questão factual. É evidente que minha análise é uma generalização, pois falo de modo geral de algo que não é definido, ainda, e que, por não estar definido, não queira dizer que não exista.
A melhor resposta, creio eu, seria o clichê “sim e não”, mas não me pareceu bem iniciar com o mesmo, apesar de não poder fugir de tal.
Para responder e justificar minha resposta levanto as seguintes questões: temos órgãos de mídia de direita? Temos universidades de direita? Temos um partido de direita? Temos movimentos organizados de direita? Temos um vasto repertório de literatura liberal e conservadora?
Perceba que as respostas seriam do tipo: quase nada, não, mais ou menos e, tais movimentos não são tão de direita assim (risos).
Pode ser questionado o fato de que o partido do presidente, que é de direta — e até isso foi muito questionado na campanha — é o segundo maior na Câmara? Responderia sem medo que, a maioria esmagadora dos eleitos são apenas anti PT — e isso até a própria esquerda é hoje em dia. Sem nenhum repertório que os colocasse à direita do espectro político. Puramente pelo contexto, pelo momento e por uma ou duas ideias fixas de instinto humano foram colocados “à direita do rei”.
Não temo em apostar algumas fichas ao dizer que muitas pessoas eleitas sob a capa da direita mostrar-se-ão ainda de esquerda.
A falta de repertório, contudo, é o que mais me incomoda. Conseguiria contar nos dedos quais deputados conhecem ou leram autores liberais ou conservadores. Outro ponto é a falta de arquétipos. Sabemos que a esquerda vive evocando o nome do Che, do Fidel, Mandela, Mao, Paulo Freira e até o diabo. Mas quais nomes evocam a direita? Quais os modelos? Onde estão os arquétipos?
Creio que o último — e talvez o primeiro — a ser citado na política mais atual foi o Coronel Brilhante Ustra — gostem ou não — pelo então deputado Jair Bolsonaro, durante votação do impeachment da Dilma.
Falta unidade, falta a clareza oficial, falta literatura. Mas o momento exigia pressa. E com pressa fez-se o momento. Contudo não serão às pressas que as coisas irão se alinhar. Aqueles que foram eleitos não terão muito tempo para uma formação de direta adequada, como deveria ser.
O que resta é esperar os que ficaram de fora, prudentes, a estudar a pouca literatura em língua portuguesa, a ver as aulas do único filósofo vivo que trouxe alguma contribuição para a vida política em muitas décadas. Isso apenas falando da política partidária. Os demais problemas e faltas das questões acima são outro assunto, quiça ainda mais urgentes, mas que ficam para outra análise.
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