Na madrugada do dia 24 de novembro de 1944, sob o céu cinzento da Itália, o som de disparos e explosões ecoava pelos montes Apeninos. Era o início de um marco na história da Força Expedicionária Brasileira (FEB): o primeiro ataque a Monte Castello. Uma missão audaciosa, liderada pela Task Force 45, reunindo soldados americanos e brasileiros, que testaria não apenas a estratégia militar, mas também o espírito e a resiliência dos pracinhas brasileiros.
Monte Castello, um ponto estratégico crucial para o avanço aliado no norte da Itália, era uma fortaleza alemã. Dominando as linhas de acesso ao Vale do Pó, a posição era defendida por tropas veteranas da Wehrmacht, que aproveitavam o terreno montanhoso para transformar cada cota em um reduto quase impenetrável. Foi nesse cenário que o 2º Batalhão do 370º Regimento de Infantaria do Exército Americano, com o apoio do III/6º Regimento de Infantaria (RI) da FEB, também conhecido como Batalhão Silvino, e do 1º Esquadrão de Reconhecimento da FEB, entrou em ação sob o comando do Brigadeiro-General Paul Rutledge.
A missão da Task Force 45 era clara, mas extremamente desafiadora. O objetivo principal do Batalhão Silvino era conquistar as alturas de Monte Terminale, que incluíam as cotas 997 e 977, após tomar a linha Monte Castello – Monte della Casellina. Enquanto isso, o 1º Esquadrão de Reconhecimento da FEB, posicionado no flanco direito, deveria proteger as forças brasileiras e explorar qualquer brecha aberta no avanço.
O ataque começou às 6h, com as tropas brasileiras e americanas avançando sob o fogo constante dos alemães. Apesar do treinamento e do planejamento meticuloso, os obstáculos naturais e a resistência inimiga tornaram a missão quase impossível. O terreno acidentado, coberto por neve e lama, desgastava os soldados, enquanto as posições alemãs estavam fortemente entrincheiradas, tornando cada metro conquistado uma batalha sangrenta.
A 7ª Companhia do III/6º RI conseguiu algum progresso parcial, mas a 9ª Companhia enfrentou resistência insuperável nas posições em Abetaia, onde os alemães mantinham controle total do terreno elevado. Às 13h, sem possibilidades de prosseguir e enfrentando baixas consideráveis, foi ordenado o retraimento. O primeiro ataque a Monte Castello chegava ao fim sem alcançar seu objetivo.
Apesar do insucesso tático, o episódio revelou a bravura e o espírito de sacrifício dos pracinhas da FEB. Muitos deles, agricultores e trabalhadores que haviam deixado suas vidas simples no Brasil, enfrentaram de forma corajosa um dos exércitos mais experientes da Segunda Guerra Mundial. Em condições adversas, com pouca familiaridade com o terreno e sob constante fogo inimigo, os soldados brasileiros demonstraram determinação e uma disposição inabalável de cumprir seu dever.
A participação da FEB ao lado dos aliados simbolizava o compromisso do Brasil com a luta contra o nazifascismo. O desempenho das tropas no ataque de 24 de novembro de 1944 foi um prelúdio dos desafios e glórias que ainda estavam por vir, como a conquista definitiva de Monte Castello em 21 de fevereiro de 1945, após sucessivas ofensivas.
O fracasso inicial da operação em Monte Castello foi atribuído a uma série de fatores, como o cansaço das tropas, a falta de apoio de artilharia em momentos críticos e a superioridade defensiva alemã. Contudo, as lições aprendidas nesse episódio foram cruciais para o planejamento das ofensivas seguintes.
Monte Castello não foi apenas uma batalha; foi um símbolo da resiliência brasileira em solo estrangeiro. O sacrifício dos pracinhas nesse primeiro ataque mostrou ao mundo que, mesmo diante de obstáculos imensos, o Brasil era capaz de lutar com honra e determinação ao lado das maiores potências militares da época.
O primeiro ataque a Monte Castello, embora não tenha alcançado a vitória esperada, inscreveu na história a coragem e o espírito indomável dos pracinhas. Foi um testemunho da força de vontade e da capacidade de superação do soldado brasileiro, que, apesar das adversidades, nunca recuou em sua determinação de defender a liberdade e a justiça. O episódio permanece como um marco de aprendizado e um tributo à bravura daqueles que se entregaram à causa maior da liberdade.
A batalha de Monte Castello se estendeu por meses e, após quatro tentativas frustradas, as tropas brasileiras finalmente tomaram o monte em 21 de fevereiro de 1945. O confronto decisivo durou mais de 11 horas contra as forças alemãs, resultando na perda de 103 brasileiros apenas na última investida, somando um total de 478 mortos ao longo do conflito.