O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quinta-feira (28) que tem “fé no seu amigo Fernando Haddad”, ao comentar a recepção negativa do pacote fiscal anunciado pelo governo Lula. O dólar, negociado a R$ 5,99, alcançou o maior valor nominal da história, o que intensificou as críticas às medidas econômicas propostas.
Durante um jantar com empresários organizado pelo grupo Esfera, Galípolo alegou que o Banco Central não intervém diretamente em políticas fiscais, mas analisa o comportamento do mercado. “Fazemos o laudo de um exame feito pelo mercado”, resumiu, pontuando que cabe ao BC monitorar os preços dos ativos definidos pelos agentes econômicos.
Juros elevados e o “chato da festa”
Galípolo explicou que a alta do dólar, com seus efeitos inflacionários, justifica a manutenção de juros elevados. A Selic, atualmente em 11,25%, pode ser ajustada conforme as expectativas de inflação, disse o diretor. Ele comparou o papel do Banco Central ao “chato da festa”, explicando que cabe à entidade conter excessos para evitar desordem econômica. “Se você quer ser miss simpatia, não vá para o Banco Central”, ironizou.
Embora empresários presentes, como Rubens Menin (MRV) e Luiz Carlos Trabuco Cappi (Bradesco), tenham reclamado dos juros altos, Galípolo defendeu que o custo de uma inflação descontrolada seria muito maior para a população.
Confiança e críticas ao mercado
Galípolo reforçou a independência do BC e criticou previsões econômicas erradas feitas anteriormente pelo mercado. Ele citou as projeções de crescimento do PIB em 1% para 2024, que contrastam com a expectativa de alta superior a 3% em 2023. “Reclamar do mercado financeiro é como um marinheiro reclamar do mar”, disse, recorrendo a uma frase de Winston Churchill.
No entanto, o diretor ponderou que o BC reage às expectativas do mercado em um horizonte de 18 meses e que o prêmio de risco nos ativos brasileiros está elevado, apesar das reservas internacionais robustas e do crescimento econômico.
Para o futuro presidente do BC, as medidas econômicas precisam equilibrar credibilidade e pragmatismo, enquanto o país enfrenta um cenário de pressões inflacionárias e dólar em alta histórica.