Nas últimas semanas, nomes de diferentes alas do espectro político de direita, incluindo a ala conservadora, têm se referido ao “método Trump” — uma estratégia inspirada no ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A ideia é que Jair Bolsonaro (PL) busque construir uma série de diálogos políticos e forme uma frente ampla, reunindo lideranças de diversos grupos, que possam contribuir em áreas específicas de um possível governo futuro. Contudo, essa coalizão deve excluir nomes progressistas ou de total esquerda, sobretudo os mais radicais.
A argumentação desse núcleo é que o cenário político atual é turbulento e está marcado por uma escalada autoritária sem precedentes. Mesmo com forte apoio popular, Bolsonaro e seus aliados se veem reféns de uma casta política influente, que controla os principais blocos do Congresso, como o ‘Centrão’. Com base nisso, liberais e conservadores têm defendido que Bolsonaro busque formar um palanque de coalizão, unindo lideranças como Michelle Bolsonaro e Tarcísio de Freitas. A ideia seria estabelecer um laço com figuras que possuem capital político e estariam dispostas a colaborar em uma agenda comum, deixando de lado divergências para cooperar em áreas nas quais possuem certa expertise.
A comparação com Donald Trump é clara: o ex-presidente dos EUA, para vencer nas eleições deste ano contra Kamala Harris, adotou uma estratégia de aproximação com lideranças do centro e até com alguns democratas, estabelecendo acordos pontuais. Dessa forma, ele conseguiu apoio para formar uma coalizão, com a intenção de garantir governabilidade no futuro. Sem essa abordagem, na visão dos defensores dessa estratégia, a vitória de Trump teria sido improvável.
No caso da Argentina, o exemplo de Javier Milei também é citado. Para vencer, Milei precisou se aliar a diferentes blocos políticos, incluindo nomes como Maurício Macri e Patrícia Bullrich. O resultado foi uma vitória sólida.
Entre os defensores dessa frente ampla, está Eduardo Cavendish, co-fundador da Somas. Cavendish acredita que uma coalizão liderada por Bolsonaro é necessária para as eleições de 2026. Ele chega a sugerir alguns nomes e áreas de atuação, como Ciro Gomes, que poderia contribuir nas áreas de Previdência ou Educação. Embora Ciro seja de centro-esquerda, Cavendish argumenta que algumas de suas propostas convergem com os interesses liberais e conservadores.
“A proposta de Ciro Gomes sobre a Previdência tem mérito. Na verdade, é o momento de a direita considerar uma coalizão ampla para 2026, assim como Trump fez nos EUA. O Ciro, por exemplo, poderia agregar na questão previdenciária. Outra proposta dele que merece atenção é a respeito da educação, especialmente sobre o retorno da meritocracia”, defende Cavendish.
Outros nomes também estão sendo cogitados para possíveis funções, como Aldo Rebelo em uma área relacionada ao Meio Ambiente, enquanto Michel Temer em questões de articulação política.
Cavendish sustenta: “Quem critica a ideia de coalizão de Jair Bolsonaro não pode esquecer que Trump teve grande sucesso nos EUA adotando essa estratégia. Claro, não se trata de incorporar qualquer nome, mas alguns podem ser fundamentais para garantir a reeleição de Bolsonaro em 2026, caso ele seja autorizado a concorrer. A direita precisa amadurecer e se acostumar a vencer. É muito mais fácil implementar nossa agenda estando no poder.”
“Se houver uma boa negociação e delimitação de espaços para cada líder, isso pode funcionar. Acredito que 2026 será nosso, e até com alguma sobra”, avalia Eduardo Cavendish.