O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a diretoria colegiada da autarquia está atenta à possibilidade de elevar os juros na economia brasileira. No entanto, ele destacou que essa decisão dependerá não apenas do cenário interno, mas também de projeções futuras que considerem o contexto internacional.
As declarações de Campos Neto alinham-se com as falas recentes do economista Gabriel Galípolo, apontado como possível sucessor de Campos Neto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Galípolo, que já atua como diretor de Política Monetária do Banco Central, também tem comentado sobre o tema.
“Dissemos que, se necessário, subiríamos os juros, mas não lembro de ter mencionado um aumento específico. O mercado já vinha incorporando alguma expectativa de alta na curva. Porém, não depende apenas do mercado; é preciso avaliar o cenário futuro”, afirmou Campos Neto em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta terça-feira (20).
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, avaliou que o cenário interno da economia brasileira continua otimista, com uma economia e um mercado de trabalho fortes. Ele mencionou que a inflação acumulada em 12 meses atingiu 4,5%, mas deve cair ligeiramente, e os próximos indicadores tendem a ser ainda melhores. Esse nível de inflação está no teto da meta, e o Comitê de Política Monetária (Copom) já sinalizou que manterá a taxa básica de juros elevada – atualmente em 10,5% – até que se aproxime do centro da meta de 3%.
Apesar do otimismo, Campos Neto adotou um tom de cautela ao falar sobre a próxima reunião do Copom, destacando divergências entre os diretores quanto ao balanço de riscos. “O mundo saiu de uma sincronia de política monetária para uma não sincronia”, observou.
O cenário externo, segundo ele, inclui a economia dos Estados Unidos, onde há uma percepção de que “haverá desaceleração organizada”. Campos Neto apontou que, embora os economistas não prevejam uma alta dos juros americanos neste ano, o mercado continua a considerar essa possibilidade. Ele enfatizou a importância de manter a calma e a cautela em tempos de alta volatilidade.
A recente disparada do dólar frente ao real, que quase levou o Banco Central a intervir no câmbio, foi motivada por preocupações globais, segundo Roberto Campos Neto. No início de agosto, o dólar chegou a R$ 5,86, o que também resultou em quedas nas bolsas de valores internacionais. Para Campos Neto, essa crise foi um “fantasma” que já se dissipou.
Uma das razões para a alta, segundo ele, foi que uma parte significativa do mercado financeiro mundial estava “fundiada” em iene, com a expectativa de que os juros no Japão permaneceriam baixos indefinidamente, tornando fácil tomar empréstimos lá para investir em outros mercados. No entanto, a atenção agora se volta para as relações entre Estados Unidos e China.
Com o enfraquecimento das pressões, o dólar fechou a segunda-feira (19) em R$ 5,41, e na manhã desta terça-feira (20), operava em torno de R$ 5,44.
Campos Neto destacou que, após avaliar diversas variáveis, o Banco Central optou por não intervir no câmbio, pois não identificou uma disfuncionalidade clara no mercado. “O câmbio voltou, a taxa de juros longa voltou”, afirmou, defendendo a decisão do Banco Central como a mais adequada.
Campos Neto também destacou que a desvalorização do câmbio pode sinalizar uma percepção de aumento do risco associado ao país. Ele alertou que uma intervenção no mercado cambial poderia criar disfuncionalidades em outros setores financeiros, o que justificou a decisão do Banco Central de não agir nesse momento.
Economia brasileira
Roberto Campos Neto reconheceu que as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) estão se aproximando de 3%, admitindo que economistas – ele incluído – têm consistentemente subestimado o desempenho econômico.
“Acho que os economistas, eu me incluindo, temos errado consistentemente em crescimento há bastante tempo”, afirmou, sugerindo que um componente estrutural do crescimento brasileiro pode estar mais robusto do que o esperado.
Ele também ressaltou que os dados econômicos atuais do Brasil são mais positivos do que os preços de mercado indicam, destacando o bom crescimento econômico e os níveis de desemprego relativamente baixos em comparação com outros países da América Latina. “Os dados estão muito melhores no Brasil do que os preços refletem”, observou Campos Neto.
Além disso, o presidente do Banco Central enfatizou a importância do esforço fiscal do governo, reconhecendo que, embora o arcabouço fiscal pudesse ser aprimorado, o governo está se empenhando para manter as contas públicas equilibradas. “Acho que os números estão melhores do que o que o fundamento diz”, concluiu.