A França vai às urnas neste domingo, 30, para o primeiro turno das eleições legislativas. O partido ou a coalizão que conquistar a maioria das cadeiras na Assembleia Nacional indicará o novo primeiro-ministro, que governará ao lado de Emmanuel Macron. Nas pesquisas de intenção de voto, o partido de Marine Le Pen, Reagrupamento Nacional (RN), está à frente.
Após sete anos de governo Macron, a insatisfação com a atual política é crescente, segundo analistas.
Para conter o avanço do RN, Macron aposta numa coalizão. No entanto, outra força na disputa é a Nova Frente Popular, formada por partidos de esquerda, como o França Insubmissa e os Verdes, o que desafia a estratégia do presidente.
A coalizão de esquerda ficou em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, atrás do partido de Le Pen. A Renascença, de Macron, manteve a terceira posição nas intenções de voto, enquanto os eleitores buscam alternativas à atual gestão.
“É o que acontece em toda Europa”, disse o professor de Relações Internacionais da ESPM, Roberto Uebel. “O custo de vida aumentou, houve uma deterioração do serviço público e as pessoas estão descontentes.”
Se as pesquisas se confirmarem, Macron terá de conviver no restante de seu mandato, até 2027, com um primeiro-ministro da direita ou da esquerda. “Ganhe quem ganhar, Macron vai lidar com uma Assembleia muito mais fraturada e ter de dividir o poder”, declarou Sebastien Maillard, pesquisador associado do centro de estudos britânico Chatham House.
Eleições legislativas na França
As eleições parlamentares na França seguem um sistema de dois turnos. No primeiro, candidatos que não obtiverem apoio de 12,5% dos eleitores locais são eliminados. Aqueles que conseguirem 50% dos votos em zonas com participação de pelo menos 25% do eleitorado vencem automaticamente.
O desafio para Macron é que muitos candidatos de seu partido, Renascença, podem não chegar ao segundo turno. As pesquisas indicam que o partido pode perder metade dos assentos que atualmente ocupa na Assembleia, tornando difícil para o presidente ter um primeiro-ministro aliado.
Seja qual for o resultado, Macron terá de ajustar sua política para enfrentar forças opostas. Analistas prevêem três cenários: um governo compartilhado com a direita, com a esquerda radical ou equilibrado entre essas duas forças na Assembleia.
Embora tenha autonomia nos assuntos de defesa e relações exteriores, o presidente precisa lidar com a Assembleia para decidir questões como orçamento, aposentadorias, impostos, emprego e legislação trabalhista.
Se o Reagrupamento Nacional conseguir a maioria absoluta, o mais provável é que o primeiro-ministro seja uma de suas lideranças, Jordan Bardella, de 28 anos. Segundo Maillard, Bardella deverá forçar mudanças significativas, como afastar o país da União Europeia, entre outros. No entanto, o partido pode conquistar apenas uma maioria relativa. Nesse cenário, Bardella afirmou que não assumiria o cargo de primeiro-ministro para não ser um “auxiliar do presidente”.
O partido de Marine Le Pen
O Reagrupamento Nacional defende uma política rígida contra a imigração ilegal e tem uma posição menos alinhada à União Europeia e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Historicamente visto como pró-Kremlin, o partido tem silenciado sobre o assunto nos últimos meses.
Outra agenda do partido inclui a redução de impostos e a revogação de pontos da reforma da Previdência de Macron, um dos seus legados mais impopulares.
A revogação da reforma da Previdência é um dos poucos pontos em que a direita e a esquerda convergem na França. Se a Nova Frente Popular conseguir a maioria e impedir o governo do RN, a reforma também estará sob risco. A coalizão de esquerda defende ainda a taxação dos mais ricos e o aumento do salário mínimo.
A Nova Frente Popular também se opõe à atual lei de imigração, mas defende facilitar o acesso a vistos e regularizar a situação de trabalhadores e estudantes, entre outras medidas.
Uma preocupação comum em relação às duas forças é o aumento dos gastos públicos. Isso preocupa o mercado financeiro, que cita o déficit orçamentário atual de 5% como um indicativo de risco e teme que a situação possa piorar.
A derrota no Parlamento Europeu
Depois que o partido de Emmanuel Macron obteve menos da metade dos votos do Reunião Nacional nas eleições para o Parlamento Europeu, o presidente tentou ampliar sua base no Parlamento. No entanto, a estratégia parece ter sido contraproducente. Na Assembleia Nacional, a coalizão de Macron tinha 250 assentos, enquanto a direita contava com 88.
Pesquisas indicam que o grupo de Macron pode cair para entre 70 e 100 cadeiras, enquanto a direita pode alcançar de 225 a 265 lugares. Para obter maioria absoluta, um partido precisa de 289 dos 577 assentos.
As eleições legislativas antecipadas na França são as mais importantes em décadas, não só para o país, mas para toda a Europa. O mundo observará atentamente até o segundo turno, no dia 7 de julho.
Se as pesquisas estiverem corretas, a França pode presenciar uma “coabitação”, onde o Parlamento escolhe um primeiro-ministro de um grupo diferente do presidente. A última ocorrência foi há 22 anos.