O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou a vacina contra a dengue no dia 5 de fevereiro, antes do início da campanha de imunização do SUS (Sistema Único de Saúde), sem divulgação pública.
Segundo informações da Folha de S.Paulo, a dose foi fornecida pela rede privada, mas os detalhes sobre o modelo da vacina, o custo e o laboratório fabricante não foram informados. A campanha do SUS começou quatro dias após a vacinação de Lula, em meio a uma escassez de vacinas na rede pública que limitou a imunização ao grupo de 10 a 14 anos.
Desde que assumiu o terceiro mandato, Lula se vacinou publicamente contra a gripe e a Covid-19 para incentivar as campanhas de imunização. No entanto, a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) não explicou por que a vacinação contra a dengue não foi divulgada. Também não informou onde o presidente foi imunizado. Lula recebeu a segunda dose da vacina contra a dengue no dia 6 de maio, novamente sem divulgação.
As datas de aplicação da vacina contra a dengue foram reveladas pela Presidência após um pedido da Folha baseado na Lei de Acesso à Informação (LAI). A reportagem solicitou informações sobre a imunização de Lula contra a Covid-19, e a Presidência informou inicialmente que ele havia recebido todas as doses compatíveis com sua idade, disponibilizadas pelo Ministério da Saúde.
Após recurso, foram fornecidas as datas e locais de imunização, além do modelo de cada dose usada contra a Covid-19. No entanto, os detalhes sobre a vacina contra a dengue, como o local da aplicação e o modelo do imunizante, permanecem obscuros.
O Brasil enfrenta a pior epidemia de dengue de sua história, com dados do Ministério da Saúde apontando 6 milhões de casos prováveis e 4 mil mortes pela doença em 2024, além de outras 2,8 mil em investigação.
As doses compradas pelo ministério estavam sob análise de controle de qualidade quando Lula se vacinou, sendo liberadas em 8 de fevereiro e aplicadas pelo SUS no dia seguinte. O estoque das clínicas privadas ficou escasso entre fevereiro e março, e a Takeda, que produz a vacina Qdenga, vendeu toda a sua produção ao SUS.
O intervalo de três meses entre as doses indica que Lula provavelmente recebeu a vacina Qdenga. A outra vacina registrada no Brasil, a Dengvaxia, tem um esquema de três doses com intervalos de seis meses e é indicada apenas para pessoas de 6 a 45 anos que já foram infectadas pela dengue.
As bulas dos dois imunizantes disponíveis no país não contemplam pessoas de 78 anos, como o presidente Lula, sendo o uso considerado “off-label”, ou seja, fora das indicações do registro do produto na Anvisa e por prescrição médica.
No dia em que recebeu a primeira dose, Lula se reuniu com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, para discutir a fabricação do imunizante contra a dengue. No entanto, a agenda oficial do presidente não registra a vacinação.