O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quinta-feira (13) o avanço da direita no mundo durante a Conferência Internacional do Trabalho em Genebra, na Suíça. Convidado para discutir uma coalizão global pela justiça social, Lula utilizou parte de seu discurso – tanto lido quanto improvisado – para atacar o liberalismo e defender bandeiras progressistas e um Estado mais presente na economia.
As declarações de Lula ocorreram em meio a críticas de que a direita, que ele classifica como “extremismo político”, prejudica diretamente as minorias ao vender uma “ilusão” e abrir espaço para “aventureiros”.
“O extremismo político ataca e silencia minorias, negligencia os mais vulneráveis e vende muita ilusão. A negação da política deixa um vácuo a ser preenchido por aventureiros que espalham mentiras e ódio”, afirmou Lula durante o discurso.
As menções à negação da política e aos “aventureiros” ocorreram pouco depois de Lula afirmar que o governo anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi alvo de investigação por violar normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) devido a “ataques à democracia que, historicamente, implicaram em perda de direitos”.
Lula declarou que a contestação da ordem vigente no mundo – da qual ele é um crítico ao defender uma nova governança global – “não pode ser privilégio da extrema direita”.
“A bandeira anti-hegemônica precisa ser recuperada pelos setores populares progressistas e democráticos”, destacou, ressaltando a urgência de recuperar o papel do Estado como planejador do desenvolvimento.
A crítica de Lula ao avanço da direita no mundo ocorre poucos dias após a eleição ao Parlamento Europeu, que registrou um crescimento da participação de partidos conservadores. Este resultado levou o presidente da França, Emmanuel Macron, a dissolver o legislativo do país. O governo brasileiro não se posicionou oficialmente sobre esses acontecimentos.
Críticas ao mercado
Ainda abordando a necessidade do Estado como planejador do desenvolvimento, Lula criticou a chamada “mão invisível do mercado”, afirmando que ela agrava a desigualdade ao não melhorar os salários dos trabalhadores, mesmo com o aumento da produção.
“Não se pode discutir economia e finanças sem discutir emprego e renda. Precisamos de uma nova globalização de face humana, de justiça social e luta contra desigualdades, que são prioridade da presidência do Brasil no G20”, destacou Lula.
Uma declaração semelhante na quarta-feira (12), durante um fórum com investidores estrangeiros no Rio de Janeiro, impactou o mercado financeiro e fez o dólar disparar no mercado interno.
Lula também reforçou a necessidade de taxar os super ricos como uma medida essencial para reduzir a desigualdade no mundo. Ele afirmou que cerca de três mil pessoas detêm quase US$ 15 trilhões, uma soma equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) combinado de Japão, Alemanha, Índia e Reino Unido.
Riqueza que leva ao espaço
Para Lula, a extrema concentração de riqueza leva alguns bilionários a buscar a exploração espacial para se afastar dos trabalhadores. A crítica, embora não mencionada diretamente, foi dirigida ao empresário Elon Musk, dono da SpaceX, que recentemente denunciou o ativismo do judiciário brasileiro contra críticos ao governo petista.
“A concentração de renda é tão absurda que alguns indivíduos possuem os seus próprios programas espaciais, certamente, tentando encontrar um planeta melhor do que a Terra para não ficar no meio dos trabalhadores que são responsáveis pela riqueza deles”, afirmou Lula, destacando que não é preciso buscar saída em Marte, planeta que Musk planeja explorar no futuro.
Durante o discurso, Lula também defendeu a reforma das instituições multilaterais, propondo eliminar os assentos permanentes dos países mais industrializados no conselho da OIT, que faz parte da ONU. Ele criticou o conselho de segurança da ONU, particularmente o poder de veto das nações permanentes, ressaltando a necessidade de mudanças para refletir uma governança global mais justa.
Lula também abordou o cenário econômico brasileiro, afirmando que o país está criando condições para investimentos e proteção aos trabalhadores, com uma política forte de geração de empregos e industrialização responsável do ponto de vista fiscal.
Ele ressaltou os esforços do governo para liderar a transição energética no enfrentamento às mudanças climáticas. Lula destacou a intenção de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 e defendeu que a floresta seja preservada enquanto gera riqueza para a população local por meio da “industrialização verde e de energias renováveis”.