Parlamentares da oposição estão se articulando para pedir a investigação de uma suposta estrutura montada no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para influenciar o debate nas redes sociais a favor da gestão petista.
Entre as ações estão a coleta de assinaturas para uma CPI, uma representação ao Tribunal de Contas da União (TCU) e um pedido para que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), inclua os envolvidos no inquérito das milícias digitais.
O deputado Filipe Barros (PL-PR), líder da oposição na Câmara dos Deputados, afirmou nesta quarta-feira (12) que está coletando assinaturas para abrir uma CPI para investigar a criação do que a oposição chama de “milícia digital” no governo Lula.
Segundo Barros, o objetivo dessa estrutura seria perseguir a imprensa, parlamentares da oposição e cidadãos que criticam a gestão de Lula nas redes sociais. A declaração foi dada durante uma entrevista coletiva com deputados e senadores da oposição.
Parlamentares da oposição estão se articulando para investigar uma suposta estrutura montada no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para influenciar o debate nas redes sociais a favor da gestão petista. Até o momento, cerca de 60 assinaturas foram coletadas para a abertura de uma CPI. Os parlamentares afirmaram que tomarão todas as medidas necessárias, incluindo a convocação dos envolvidos para prestar esclarecimentos ao Congresso.
O senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado, entrou com uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) na terça-feira (12), solicitando a apuração das suspeitas envolvendo o Palácio do Planalto, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), agências de publicidade contratadas pelo governo e influenciadores digitais.
Essas ações foram motivadas por uma série de reportagens publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo desde segunda-feira (10). Segundo o jornal, o governo teria criado um grupo para direcionar o debate nas redes sociais, promovendo suas medidas e atacando parlamentares da oposição e veículos de imprensa críticos ao governo.
Na coletiva, a deputada Bia Kicis afirmou que a oposição solicitou ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que inclua as pessoas citadas nas denúncias do Estadão no inquérito das milícias digitais. “Nós não concordamos com o inquérito, mas concordamos menos ainda que só um espectro político seja investigado e perseguido,” disse Kicis.
O ex-presidente Jair Bolsonaro também comentou as acusações em seu perfil no X. Ele criticou a décima prorrogação do inquérito das milícias digitais, aberto pelo ministro Alexandre de Moraes, afirmando que nada é feito contra a esquerda. Bolsonaro expressou estar ansioso pela “investigação da milícia digital do PT, revelada por eles mesmos todos os dias.”
Gabinete para perseguir oposição
A suposta “milícia digital” criada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) operaria por meio da Secom, em articulação com o Palácio do Planalto, lideranças governistas no Congresso e influenciadores digitais. Os principais articuladores estariam em uma equipe chamada “gabinete da ousadia”, composta por especialistas em redes sociais que atuaram na campanha digital de Lula nas eleições de 2022, segundo o Estadão. Mesmo após as eleições, o grupo foi mantido e seus integrantes se comunicam por um grupo homônimo no WhatsApp.
A denominação “gabinete da ousadia” faz referência à estrutura atribuída à gestão de Jair Bolsonaro (PL), chamada de “gabinete do ódio” pela esquerda.
Na representação enviada ao Tribunal de Contas da União, o senador Rogério Marinho afirmou que o gabinete “funcionaria com o aporte de recursos públicos e privados e teria a missão de criar, divulgar e organizar movimentos de propagação de notícias falsas e disparos em redes sociais contra adversários políticos do Governo Lula e instituições diversas.”
Em seu perfil no X, o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho, afirmou que há suspeitas de aparelhamento do Estado e culto à personalidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O presidente fala muito em combater fake news, mas os fatos indicam que é o PT quem promove fake news e ataques a adversários políticos. Afinal, é o PT que lançou uma megalicitação para contratar serviços digitais e produzir relatórios sobre todos os cidadãos brasileiros, um risco à integridade e à democracia,” escreveu.
As denúncias começaram a ser apuradas após declarações do deputado petista Jilmar Tatto (PT-SP), que, durante um evento interno do PT, teria afirmado que reuniões diárias pautavam os temas e abordagens sobre o governo para divulgação nas redes sociais. Ele também teria dito que, quando necessário, influenciadores digitais eram acionados para auxiliar na estratégia.
Após a divulgação das acusações, a Secom emitiu uma nota negando a existência de uma versão petista do “gabinete do ódio”. A Secretaria afirmou que o jornal O Estado de S. Paulo “faz uma abordagem sensacionalista e enviesada que distorce os fatos” e que a reportagem “tenta, por meio de ilações, criminalizar ações de gestão e serve ao único propósito de dar munição à oposição.”
Paulo Pimenta (PT), ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) até maio, participou de audiência pública na Câmara dos Deputados na terça-feira (11), mas se recusou a responder às perguntas sobre as denúncias.
A deputada Bia Kicis (PL-DF), da oposição, afirmou que nunca houve um “gabinete do ódio” ou articulação no governo Bolsonaro para manipular o debate público. Carlos Bolsonaro (PL), vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente, também criticou a comparação com a gestão anterior.
Reuniões diárias e acionamento de influenciadores
As declarações atribuídas ao deputado Jilmar Tatto (PT-SP), secretário nacional de Comunicação do partido, em dezembro do ano passado, deram início às denúncias. Durante o evento, Tatto teria afirmado que “para fazer disputa política com nossos adversários” seria necessária uma comunicação com “metodologia”, “ciência”, “expertise” e que esse trabalho “não é de graça”.
Tatto também teria relatado que, diariamente, por volta das 8h30, eram realizadas reuniões com integrantes da Secom, do PT nacional, das lideranças do partido no Congresso e da equipe do “gabinete da ousadia” para definir as estratégias digitais. Os participantes debatiam os temas e as abordagens para maximizar o alcance nas redes sociais, avaliando o acionamento de influenciadores digitais.
Ele mencionou que a estratégia, em certas situações, inclui referências e ataques à família Bolsonaro e respostas a reportagens da mídia profissional. “A gente faz o monitoramento de rede. Se a gente sentir que é necessário responder, a gente responde,” concluiu.
O deputado Jilmar Tatto (PT-SP) afirmou já ter realizado reuniões com influenciadores para manter um canal de comunicação, com o objetivo de que eles abracem a estratégia digital do governo e divulguem os temas mais relevantes.
Em relação à imprensa, Tatto explicou que “basta que as reportagens exponham erros ou omissões do governo, que os influenciadores entram em ação para atacar os emissores”.
A Secom, em nota, reconheceu que realiza reuniões eventuais entre seus funcionários e as áreas de comunicação das lideranças governistas na Câmara e no Senado, com o objetivo de “fazer fluir as informações da gestão, incluindo novos lançamentos e entregas”. O órgão negou que influenciadores participem das reuniões ou que haja discussões sobre “ataques a críticos e desqualificação da imprensa”.
A estratégia do governo também envolveria a propagação de mensagens favorecendo Lula e seus aliados em grupos de WhatsApp. Influenciadores aliados ao governo teriam suas publicações promovidas, enquanto informações atacando e deslegitimando adversários, como Jair Bolsonaro e seus apoiadores, seriam divulgadas, conforme apuração do jornal O Estado de S. Paulo.
Os debates e a troca de informações nos grupos seriam controlados por coordenadores que moderam comentários e convocam mutirões para denunciar “desinformação”. Há mensagens indicando quais informações e pessoas são confiáveis.
Outra vertente operacional envolve influenciadores digitais que publicam vídeos e posts pró-governo, atacando adversários de Lula. Um deles seria Thiago dos Reis.
Desde 2019, Reis atua, conforme explica em seus vídeos, com o objetivo de “defender a democracia”. Ele defende Lula, aliados e o governo, enquanto critica abertamente ações da oposição, principalmente da família Bolsonaro. Reis possui perfis no YouTube, Instagram e Facebook, acumulando 1 bilhão de visualizações.
Em um vídeo respondendo às acusações de integrar o “gabinete da ousadia”, que ele nega enfaticamente, Reis afirma morar fora do Brasil há anos e que nunca recebeu dinheiro do governo para seu trabalho. Ele também nega a propagação de fake news e explica o conteúdo dos vídeos pelos quais foi acusado de desinformação.
A reportagem da Gazeta do Povo tentou contato com Thiago dos Reis, mas não recebeu resposta até a publicação do texto. A assessoria de comunicação do PT afirmou que não iria se manifestar, pois não havia denúncias contra o partido. O deputado Jilmar Tatto também foi procurado, mas preferiu não se manifestar.