O líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), criticou a falta de um comando político mais centralizado e estratégico por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na articulação com o Legislativo, que tem sofrido sucessivas derrotas.
As críticas surgiram durante uma reunião virtual interna da CNB (Construindo um Novo Brasil), principal corrente interna do PT, realizada na última terça-feira (11). A Folha de São Paulo teve acesso a trechos do encontro em que Guimarães destacou a falta de comprometimento dos partidos aliados no Congresso.
Guimarães afirmou que a articulação política no Congresso tem sido uma tarefa extenuante e que o processo de negociação é muitas vezes tenso e complexo, deixando-o insone por conta da “faca no pescoço”.
“Tenho que me relacionar com toda a Casa, não é uma tarefa fácil, é um negócio muito doloroso. Tem dia que eu não consigo dormir por conta da tensão, da faca no pescoço e tudo mais que muitas vezes acontece nos bastidores aqui dentro para a gente apoiar, aprovar as matérias de interesse do governo”, desabafou.
Partidos aliados não entregam votos
O deputado José Guimarães (PT-CE) criticou o “não comprometimento” dos partidos que integram a base de apoio ao governo no Legislativo, citando que essa falta de coesão tem resultado em frequentes derrotas para o Executivo. No início da gestão Lula 3, o União Brasil, PSD e MDB ganharam ministérios, enquanto PP e Republicanos se juntaram posteriormente.
Guimarães lamentou que essas legendas não têm colaborado efetivamente em questões cruciais para o governo, como a aprovação dos vetos presidenciais sobre temas como “saidinhas” e fake news.
“Esse não comprometimento desses partidos que estão na aliança para garantir a governabilidade, eles terminam dando, como se diz lá no Nordeste, um no prego e um na ferradura,” pontuou.
Ele também defendeu a necessidade de mudanças na estrutura do governo, mencionando que já foi chamado a atenção por abordar o tema publicamente. Para ele, Lula “tem que dar uma chacoalhada”.
Guimarães destacou que o governo precisa de um “comando político mais estrategicamente centralizado” para gerenciar melhor as relações com a sociedade, o Congresso, e os estados e municípios.
“Nós já entregamos muita coisa e nem sempre aquilo que nós entregamos faz com que a popularidade do presidente aumente. Muito pelo contrário, teve queda nos últimos meses. Essa chacoalhada eu acho que era bom. Mas isso quem faz é o presidente,” afirmou.
Falha na articulação
A articulação política do governo Lula, liderada pelo ministro Alexandre Padilha (PT), tem enfrentado críticas desde o ano passado. O time de articulação inclui o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), líder no Congresso, e Jaques Wagner (PT-BA), líder no Senado.
Após recentes derrotas no Congresso, o presidente Lula iniciou reuniões semanais de articulação política para melhorar a relação com o Legislativo. No entanto, o governo continua a enfrentar desafios nesse novo formato.
Durante uma reunião interna do PT, José Guimarães afirmou que mudanças no governo serão inevitáveis para preparar o terreno para a reeleição de Lula em 2026. Ele destacou a necessidade de ajustes tanto no comando político quanto na comunicação.
“A partir da eleição municipal, nós temos mais dois anos e temos que preparar a reeleição do Lula. E o governo tem que estar bem. Tem duas mudanças que eu penso que são necessárias fazer no governo. É a mudança do ponto de vista do centro político, que precisa ter, e também uma mudança profunda na linha da comunicação,” concluiu.