O ano novo traz consigo especulações e expectativas sobre quais carros podem ser descontinuados, mas raramente uma montadora anuncia oficialmente que um modelo está saindo de linha, devido a estratégias de mercado. No entanto, algumas marcas, como Volkswagen, Fiat e Renault, optaram por lançar edições limitadas finais, como a “Last Edition”, para modelos icônicos como Kombi, Gol, Uno e Sandero, marcando oficialmente o fim de sua produção.
Entretanto, na maioria das vezes, as montadoras escolhem retirar modelos do mercado sem um anúncio prévio. Exemplos disso incluem o Renault Captur, que experimentou uma queda significativa em vendas até ser descontinuado em 2023, e o Voyage, um sedã da Volkswagen derivado do Gol, que também foi aposentado discretamente.
Um caso notável foi o da Ford, que surpreendeu o mercado ao anunciar o fechamento de sua fábrica no Brasil em 2021, interrompendo a produção de modelos como o Ka e o EcoSport na Bahia, sem anúncios prévios sobre o fim desses modelos.
Embora não seja uma regra, um indicativo de que um carro pode estar próximo do fim de sua linha é o baixo volume de vendas. Isso se aplica principalmente a carros fabricados no Brasil, excluindo modelos de alto valor ou de nicho específico, pois a baixa escala de produção pode não compensar os custos operacionais.
Quando vale a pena comprar um carro em fim de linha?
A decisão de comprar um carro que pode estar prestes a ser descontinuado varia de acordo com vários fatores, e a resposta se resume a “depende”. Segundo Cassio Pagliarini, sócio da Bright Consulting, a compra de um veículo de baixo volume de produção, mais caro ou que não tenha tido uma longa permanência no mercado, geralmente não é aconselhável. Isso se deve à provável depreciação acentuada e à possibilidade de dificuldades no fornecimento de peças.
No entanto, para veículos que tiveram uma produção massiva e uma longa permanência no mercado brasileiro, pode ser vantajoso negociar um bom preço, considerando sua futura descontinuação. Pagliarini sugere que, nesses casos, adquirir o veículo por um valor reduzido, com a intenção de mantê-lo por um período mais extenso, pode ser uma decisão acertada.
A noção de “bom preço” está intrinsecamente ligada a descontos. Normalmente, um veículo sofre uma depreciação de 10 a 15% no primeiro ano e de 8 a 10% nos anos subsequentes. A principal vantagem de adquirir um carro prestes a ser descontinuado é, portanto, o potencial desconto no preço de compra. Além disso, o valor do IPVA e do seguro também tendem a ser menores para esses veículos, o que pode representar economias adicionais para o consumidor.
Peças mais caras
Existem desvantagens notáveis ao adquirir um carro prestes a ser descontinuado. Segundo Cassio Pagliarini, as peças para esses veículos não tendem a ficar mais baratas e, em casos de modelos com baixas vendas, o custo das peças pode até aumentar.
A decisão de comprar um carro muitas vezes é influenciada por fatores emocionais, mas escolher um modelo em fim de linha pode se revelar uma opção economicamente vantajosa, dependendo do perfil do consumidor. Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics do Brasil, sugere que para consumidores com uma abordagem mais racional, adquirir um veículo que está prestes a sair de linha ou que passará por uma atualização pode ser uma escolha acertada.
No entanto, para aqueles que costumam trocar de carro frequentemente, a compra de um modelo em fim de linha pode não ser a melhor opção financeira. Esse perfil de consumidor tende a absorver a maior parte da depreciação do veículo. Kalume Neto aponta que a depreciação de um carro que sai de linha é geralmente maior do que a de um veículo que recebe um facelift.
Os percentuais de depreciação podem variar significativamente, e existem exceções. De forma geral, um facelift pode depreciar o valor do veículo entre 10 e 20%, enquanto um modelo que sai de linha pode sofrer uma depreciação de 15 a 25%. É importante ressaltar, conforme indica Milad, que esses números não constituem uma regra absoluta, variando de acordo com o mercado e o modelo específico.
1 e 2 – Chevrolet Cruze (sedã e hatch)
A mudança nas preferências dos consumidores, especialmente a crescente popularidade dos SUVs, tem impactado diretamente outros segmentos de veículos, como os sedãs médios e os hatches médios. A General Motors (GM) reconheceu essa tendência e já anunciou o fim da produção dos modelos Cruze sedã e Cruze Sport6 hatch, que deixaram de ser fabricados nos Estados Unidos, México e China. A planta da GM na Argentina, que fornece esses modelos para o mercado brasileiro, voltará seu foco para a produção do SUV Tracker, refletindo a adaptação da empresa às mudanças de demanda do mercado.
Os hatches médios, representados pelo Cruze Sport6, enfrentam uma realidade de mercado desafiadora, com a GM vendendo apenas 380 unidades do modelo até novembro de 2023. O sedã Cruze, embora com vendas um pouco melhores, registrou 1.103 unidades vendidas no mesmo período, um número bastante modesto se comparado ao líder do segmento, o Toyota Corolla, que emplacou quase 39 mil unidades.
Os preços do Cruze sedã variam de R$ 149.390 a R$ 178.940, enquanto o hatch médio Cruze Sport6 está disponível apenas na versão RS, por R$ 168.990. Apesar do contexto desafiador, o sedã Cruze, com suas vendas relativamente mais altas, apresenta-se como uma opção mais interessante para o mercado. Além de confortável e elegante, o sedã Cruze oferece espaço interno e um porta-malas de 440 litros, tornando-se uma escolha atraente para quem busca um veículo espaçoso e planeja manter o carro por um período mais longo.
3 – Chevrolet Camaro
O Camaro, um ícone entre os muscle cars, é comercializado a partir de R$ 521.390. Equipado com um motor V8 de 6,2 litros, o veículo oferece impressionantes 461 cv de potência, além de uma ampla gama de recursos de conforto, tecnologia e segurança.
Atualmente, a única versão disponível do Camaro é a Collection, uma edição limitada de despedida com apenas 125 unidades produzidas. Esta decisão vem após o anúncio do fim da produção do Camaro nos Estados Unidos, o que também acarreta sua descontinuação no mercado brasileiro.
Como uma edição comemorativa, o Camaro Collection tem potencial para se tornar um modelo de coleção desejado, similarmente ao que ocorreu com a Volkswagen Kombi Last Edition. Contudo, devido ao seu alto valor, adquirir um Camaro como um “investimento” carrega riscos significativos, incluindo altos custos de manutenção e possíveis dificuldades para encontrar compradores.
O Camaro marca o fim de uma era para os muscle cars de alto consumo de combustível, com o anúncio de que seu sucessor manterá o nome mas será totalmente elétrico, sem uma data definida para o lançamento.
O veredicto é claro: o Camaro é um veículo destinado a entusiastas e àqueles que apreciam (e têm espaço para) dirigir de forma acelerada. Caso você não se identifique com esse perfil, talvez seja melhor reconsiderar a compra. Investir em um modelo como o Camaro significa assumir despesas contínuas até que se encontre um comprador interessado.
4 – Chevrolet Equinox
O SUV médio importado do México não conseguiu capturar a preferência do consumidor brasileiro, principalmente devido ao seu preço elevado, partindo de R$ 218.870, o que o coloca em desvantagem em relação aos concorrentes produzidos nacionalmente. Não conseguiu competir efetivamente com o Toyota Corolla Cross e o Jeep Compass, como demonstrado pelos números de emplacamentos até novembro, onde o Chevrolet registrou 3.700 unidades, contra 37.700 do Toyota e 55.000 do Jeep.
A General Motors (GM) já anunciou que introduzirá a versão elétrica deste carro, o Equinox EV, com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2024. Este modelo representará uma renovação total da linha Equinox.
O modelo atual é equipado com um motor a gasolina 1.5 de 172 cv, projetado principalmente para uso urbano e rodoviário. Seus pontos fortes incluem espaço interno, conforto e um porta-malas generoso.
O veredicto sobre o Equinox é que, apesar de suas qualidades em termos de espaço e conforto, ele é prejudicado por um motor considerado mais fraco que o de seus concorrentes, a ausência de uma opção com tração 4×4 e um preço de compra alto. Esses fatores, combinados com a forte competição no mercado, podem resultar em desafios para a revenda do veículo.
5 e 6 – Toyota Yaris (sedã e hatch)
O compacto Yaris, disponível nas versões sedã e hatch, está no mercado brasileiro desde 2018. Embora nunca tenham sido líderes de vendas, atualmente superam os rivais diretos, incluindo as versões sedã e hatch do Honda City. No segmento hatch, o Yaris compete com modelos como o VW Polo, Fiat Argo, Peugeot 208, Chevrolet Onix e Hyundai HB20. Já o sedã enfrenta concorrentes como o Chevrolet Onix Plus e o VW Virtus.
Especulações indicam que a Toyota pode descontinuar a produção do Yaris hatch e sedã devido ao início da produção de um novo SUV compacto na planta de Sorocaba (SP) no final de 2024. Outro sinal que sugere o fim dos compactos é a adoção da nova plataforma DNGA pela próxima geração, que é mais moderna, leve e eficiente que a atual plataforma TNGA usada pelos Yaris.
Até o momento, a Toyota não confirmou oficialmente o fim da produção do hatch e do sedã Yaris, e o futuro desses modelos pode depender de seu desempenho de mercado em 2024. Ambos os modelos são equipados com motor 1.5 de 110 cv e transmissão CVT, com preços a partir de R$ 97.990.
O veredicto é que, apesar de não receberem atualizações recentes e parecerem desatualizados em comparação à concorrência — especialmente em termos de motorização e oferta de itens de segurança e conectividade —, a possibilidade de extinção dos modelos Yaris parece plausível, especialmente considerando que a Toyota provavelmente não investiria significativamente na atualização deles às vésperas do lançamento de um SUV inédito. No entanto, os Yaris continuam sendo veículos confortáveis e bem valorizados no mercado, o que pode justificar a compra, especialmente se houver a possibilidade de negociar um bom desconto.
7 e 8 – Renault Stepway e Logan
As vendas insatisfatórias, a estratégia de modernização da marca e a eliminação progressiva dos modelos Dacia já são razões suficientes para prever o fim dos modelos hatch e sedã da Renault. A chegada do novo SUV compacto Kardian, prevista para o primeiro trimestre de 2024, marca o encerramento da presença desses dois modelos da Renault no mercado brasileiro.
O Stepway, disponível em versões 1.0 e 1.6, tem preço inicial de R$ 83.990, enquanto o Logan oferece duas versões 1.0, com preços a partir de R$ 94.810. As vendas de ambos os modelos são modestas: o hatch registrou 7.107 unidades vendidas de janeiro a novembro, uma fração do líder do segmento, o Polo, que teve 93.246 unidades licenciadas no mesmo período. O sedã Logan enfrenta ainda mais dificuldades no mercado, com 4.140 unidades vendidas, o que representa apenas 10% das vendas do Chevrolet Onix Plus.
O veredicto é que, já considerados defasados há alguns anos, tanto o hatch quanto o sedã da Renault têm grande parte de suas vendas direcionadas para locadoras de veículos. Eles são apreciados por motoristas de transporte por aplicativo devido ao seu amplo espaço interno. Com um acabamento simples e uma lista limitada de itens de série, esses veículos são uma opção viável principalmente para uso profissional. Para compradores regulares, a aquisição só se justifica caso haja um desconto significativamente atraente.
9 – Nissan Kicks
Com o anúncio de um novo ciclo de investimentos no Brasil e a introdução da nova geração de seu SUV compacto, a Nissan sinaliza o fim de linha para o atual Kicks. Apesar de a mudança ser esperada apenas para 2025, é improvável que a marca invista em atualizações significativas para o modelo atual. No entanto, o Kicks, que é fabricado no Brasil desde 2016, mantém um histórico de boas vendas, com quase 40 mil emplacamentos em 2022 e aproximadamente 46 mil unidades até novembro de 2023, destacando-se tanto no mercado de novos quanto no de usados.
O preço do Kicks zero quilômetro varia entre R$ 112.990 e R$ 148.790, equipado com um motor 1.6 de até 113 cv e transmissão CVT, com as diferenças de preço refletindo principalmente o nível de equipamentos. Seus principais atrativos são o conforto e o espaço interno.
O veredicto é que, mesmo diante da troca de geração, o Kicks deve continuar sendo um dos SUVs mais vendidos em 2024. Seu design continua agradando e o veículo oferece um bom custo-benefício, que pode se tornar ainda mais atraente caso a Nissan ofereça promoções. A depreciação do modelo está dentro do esperado para a categoria, com um veículo de quase dois anos apresentando uma desvalorização média de 15% em relação ao preço de um novo. Para aqueles que não costumam trocar de carro frequentemente, adquirir um Kicks pode ser uma opção interessante.
10 – Citroën C4 Cactus
O Citroën C4 Cactus, um SUV compacto que recebeu atualizações na linha 2024, deve permanecer no mercado até o segundo semestre de 2024, quando a Citroën planeja lançar um novo SUV. Fabricado em Porto Real, Rio de Janeiro, desde 2018, o C4 Cactus está disponível com motorização 1.6 aspirada de 120 cv ou 1.6 turbo de 173 cv.
O modelo tem preço inicial de R$ 111.990 na versão Live e pode chegar a R$ 140.990, competindo com outros SUVs compactos como o Volkswagen T-Cross e o Hyundai Creta.
O C4 Cactus passou pela transição da Citroën do grupo PSA para o grupo Stellantis, mas nunca alcançou um desempenho de vendas expressivo. Até novembro, foram emplacadas 3.414 unidades, um volume significativamente menor em comparação ao líder do segmento, o T-Cross, que registrou mais de 64 mil licenciamentos no mesmo período. Essa queda drástica de vendas, de 18.450 unidades em 2022 para os números atuais, indica que o modelo está próximo de ser descontinuado.
O veredicto é que o C4 Cactus é frequentemente adquirido por empresas de locação, com 54% dos emplacamentos de 2023 provenientes de vendas diretas, enquanto em 2022 passado, 90% do volume foi para locadoras. Considerando esse histórico e a iminente descontinuação do modelo em 2024, a compra do C4 Cactus se justifica apenas diante de condições muito vantajosas, como descontos significativos, pacotes promocionais de revisões ou custo de seguro acessível.